São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

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700 mil passaram pela fronteira de Gaza, afirma ONU

Pelo segundo dia, população palestina aproveita derrubada de muro fronteiriço pelo Hamas para se abastecer no Egito

Sob pressão do governo de Israel, autoridades egípcias passam a limitar circulação na área e indicam retomada de bloqueio ao território

DA REDAÇÃO

Pelo segundo dia consecutivo, uma multidão de palestinos aproveitou a destruição pelo grupo radical islâmico Hamas da cerca que separa a faixa de Gaza do Egito para atravessar a fronteira e comprar mantimentos na parte egípcia da cidade de Rafah.
Segundo a ONU, o número de palestinos que romperam o bloqueio imposto por Israel há nove dias e entraram no Egito desde quarta-feira em busca de alimentos, remédios e combustível chega a 700 mil -quase a metade da população de Gaza. Esses números não levam em conta o fato de muitos moradores da área terem cruzado a fronteira várias vezes.
O premiê de Israel, Ehud Olmert, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, devem se reunir em Jerusalém no próximo domingo para discutir a situação na faixa de Gaza, área controlada pelo Hamas desde junho último. Israel tem, nos últimos dias, empreendido as mais intensas ações militares contra o território desde então, com saldo de ao menos 23 mortos (dois deles num ataque aéreo ocorrido ontem), em retaliação ao disparo de mísseis contra seu território.
A livre circulação de pessoas e mercadorias entre a faixa de Gaza e o Egito começou na madrugada de terça para quarta, depois que militantes do Hamas derrubaram com dinamite e escavadeiras dois terços do muro fronteiriço, que tem aproximadamente 12 km.
Mas o Cairo, que autorizou inicialmente a entrada de palestinos para evitar que eles "morram de fome", nas palavras do ditador Hosni Mubarak, sinalizou ontem que a fronteira pode voltar a ser fechada em breve. Proibidos de ir além da cidade de El Arish, a 45 km da fronteira, os palestinos já estão sendo instruídos pela polícia egípcia a voltar a Gaza.
A medida atende a uma exigência de Israel, que vinha cobrando do Egito o cumprimento do acordo que lhe confere a responsabilidade de controlar a fronteira sul da faixa de Gaza. A posição havia sido reforçada pelo governo americano.
Ainda no campo diplomático, o Conselho de Direitos Humanos aprovou ontem, graças à mobilização de países em desenvolvimento, uma resolução exigindo do governo israelenses o fim do bloqueio a Gaza e dos ataques militares à região. Os EUA e Israel, que não estão entre os 47 países-membros do órgão mas podem participar das sessões como observadores, boicotaram os debates.
O Conselho de Segurança da ONU não se pronunciou sobre o caso. Ainda em debate, uma proposta de resolução que condena o cerco israelense vem sendo rejeitada pelos EUA, que vêem o Hamas como o responsável pelo ocorrido em Gaza.
Analistas afirmam que a situação em Gaza evidencia a força política do Hamas, que conseguiu quebrar o bloqueio israelense e deixou o governo egípcio sem reação. "O Hamas impôs uma nova situação e sinalizou ao Egito que não se pode simplesmente lacrar a fronteira e deixar a resolução do problema para depois", diz Ezzedin Choukri, do centro de estudos International Crisis Group. Para Helena Cobban, o colapso do muro de Gaza é um marco histórico. "O Hamas provou de vez que deve ser incluído nas negociações [de paz com Israel]", avalia.
Num sinal de que está confiante, o Hamas ameaçou derrubar também a fronteira da faixa de Gaza com Israel.
Nos arredores de Jerusalém, dois militantes palestinos e um policial israelense morreram em dois episódios de violência.


Com agências internacionais


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