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Estrada a Gaza expõe voracidade do conflito
Escombros de postos policiais, hospitais, mesquitas e fábricas dominam paisagem, mas população não aparenta preocupação
Trânsito de ambulâncias é frenético no caminho que liga a fronteira à cidade de 400 mil habitantes, no qual a devastação só aumenta
RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL À FAIXA DE GAZA
O caminho de pouco menos
de uma hora de carro entre a
fronteira da faixa de Gaza com
o Egito e a Cidade de Gaza, área
mais afetada pelas cerca de
2.500 bombas disparadas por
Israel, expõe a extensão da destruição da ofensiva militar israelense contra o território,
que durou 22 dias e deixou
mais de 1.300 mortos do lado
palestino até ser encerrada por
uma frágil trégua.
Ao longo da rodovia principal
e dos bairros por onde passou, a
Folha contou três postos policiais, um quartel do Corpo de
Bombeiros, duas mesquitas,
um hospital, seis fábricas, um
clube de lazer, casas e prédios,
somando ao menos 46 edificações totalmente destruídas ou
atingidas por tiros de artilharia
aérea ou de veículos blindados.
Alvos estratégicos, os postos
de polícia ficaram totalmente
inutilizados, em completa ruína. Do bombardeio restaram
apenas algumas cancelas, ferro
retorcido e muitos escombros.
Não é tão difícil diferenciar
os ataques aéreos daqueles feitos por disparo de artilharia de
tanques. Os ataques por avião
não deixam dúvida: as construções ficam em ruínas, inaproveitáveis; os canhões fazem buracos arredondados de 2 ou 3
metros de diâmetro, como o do
alto da torre de uma mesquita,
a 20 metros de altura, e muitos
outros em edifícios de moradia.
Uma semana depois de o
grupo islâmico Hamas declarar
trégua, seguindo Israel, o carro
da reportagem passou por nove
ambulâncias, todas com as sirenes ligadas, e em alta velocidade, provavelmente conduzindo alguns dos cerca de 5.500
feridos na ofensiva. Na fronteira egípcia, havia 21 carros de
socorro médico aguardando a
transferência de feridos graves
de Gaza para hospitais do país
vizinho.
Em todo o trajeto, a reportagem viu apenas dois policiais e
nenhuma outra autoridade do
governo, embora houvesse dezenas de homens do Hamas no
expedito posto de fronteira.
Em alguns momentos, sobretudo nas áreas mais afastadas da cidade principal, a faixa
de Gaza se assemelha a um subúrbio pobre e rural, com hortas ladeando a avenida principal e onde burrinhos ainda puxam carroças e servem como
meio de transporte e moças
pastoreiam ovelhas.
Calmaria
Apesar de tratar evidentemente de uma área recentemente conflagrada, ontem o
clima era de aparente tranquilidade na cidade. Crianças brincavam nas ruas e adultos circulavam sem demonstrar preocupação ou angústia. Porém não
há gás encanado e falta luz na
maior parte do território de 1,5
milhão de habitantes.
A destruição aumenta à medida que se se aproxima da Cidade de Gaza, após 25 minutos
de estrada, e atinge muitos prédios no bairro próximo à praia,
em que o governo do Hamas tinha boa parte de sua estrutura
montada. A casa do governador, uma mansão, foi bombardeada e ficou em ruínas.
Nas laterais da rodovia, é
possível identificar as marcas
das lagartas dos tanques de
guerra israelenses na terra
avermelhada e revirada.
O brasileiro Omar El Jamal
afirmou que os veículos blindados israelenses passavam por
cima de tudo, deixando para
trás sucata. Boa parte da população se retirou de lá ao saber
da aproximação.
A piscina do hotel onde o repórter está, Commodore, foi
atingida por um explosivo que
não detonou. Fica exatamente
nos fundos do prédio, para onde o quarto tem a vista do mar e
para duas outras explosões, essas sim detonadas, uma a cerca
de 30 metros do prédio e outra
a 70. A primeira destruiu e deixou uma casa de um cômodo
inclinada em ângulo de 30º na
areia; da outra construção, restou apenas o esqueleto.
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