São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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Estrada a Gaza expõe voracidade do conflito

Escombros de postos policiais, hospitais, mesquitas e fábricas dominam paisagem, mas população não aparenta preocupação

Trânsito de ambulâncias é frenético no caminho que liga a fronteira à cidade de 400 mil habitantes, no qual a devastação só aumenta

RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL À FAIXA DE GAZA

O caminho de pouco menos de uma hora de carro entre a fronteira da faixa de Gaza com o Egito e a Cidade de Gaza, área mais afetada pelas cerca de 2.500 bombas disparadas por Israel, expõe a extensão da destruição da ofensiva militar israelense contra o território, que durou 22 dias e deixou mais de 1.300 mortos do lado palestino até ser encerrada por uma frágil trégua.
Ao longo da rodovia principal e dos bairros por onde passou, a Folha contou três postos policiais, um quartel do Corpo de Bombeiros, duas mesquitas, um hospital, seis fábricas, um clube de lazer, casas e prédios, somando ao menos 46 edificações totalmente destruídas ou atingidas por tiros de artilharia aérea ou de veículos blindados.
Alvos estratégicos, os postos de polícia ficaram totalmente inutilizados, em completa ruína. Do bombardeio restaram apenas algumas cancelas, ferro retorcido e muitos escombros.
Não é tão difícil diferenciar os ataques aéreos daqueles feitos por disparo de artilharia de tanques. Os ataques por avião não deixam dúvida: as construções ficam em ruínas, inaproveitáveis; os canhões fazem buracos arredondados de 2 ou 3 metros de diâmetro, como o do alto da torre de uma mesquita, a 20 metros de altura, e muitos outros em edifícios de moradia.
Uma semana depois de o grupo islâmico Hamas declarar trégua, seguindo Israel, o carro da reportagem passou por nove ambulâncias, todas com as sirenes ligadas, e em alta velocidade, provavelmente conduzindo alguns dos cerca de 5.500 feridos na ofensiva. Na fronteira egípcia, havia 21 carros de socorro médico aguardando a transferência de feridos graves de Gaza para hospitais do país vizinho.
Em todo o trajeto, a reportagem viu apenas dois policiais e nenhuma outra autoridade do governo, embora houvesse dezenas de homens do Hamas no expedito posto de fronteira.
Em alguns momentos, sobretudo nas áreas mais afastadas da cidade principal, a faixa de Gaza se assemelha a um subúrbio pobre e rural, com hortas ladeando a avenida principal e onde burrinhos ainda puxam carroças e servem como meio de transporte e moças pastoreiam ovelhas.

Calmaria
Apesar de tratar evidentemente de uma área recentemente conflagrada, ontem o clima era de aparente tranquilidade na cidade. Crianças brincavam nas ruas e adultos circulavam sem demonstrar preocupação ou angústia. Porém não há gás encanado e falta luz na maior parte do território de 1,5 milhão de habitantes.
A destruição aumenta à medida que se se aproxima da Cidade de Gaza, após 25 minutos de estrada, e atinge muitos prédios no bairro próximo à praia, em que o governo do Hamas tinha boa parte de sua estrutura montada. A casa do governador, uma mansão, foi bombardeada e ficou em ruínas.
Nas laterais da rodovia, é possível identificar as marcas das lagartas dos tanques de guerra israelenses na terra avermelhada e revirada.
O brasileiro Omar El Jamal afirmou que os veículos blindados israelenses passavam por cima de tudo, deixando para trás sucata. Boa parte da população se retirou de lá ao saber da aproximação.
A piscina do hotel onde o repórter está, Commodore, foi atingida por um explosivo que não detonou. Fica exatamente nos fundos do prédio, para onde o quarto tem a vista do mar e para duas outras explosões, essas sim detonadas, uma a cerca de 30 metros do prédio e outra a 70. A primeira destruiu e deixou uma casa de um cômodo inclinada em ângulo de 30º na areia; da outra construção, restou apenas o esqueleto.


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