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Crise reaviva plano saudita para obter a paz na região
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio a debates sobre como reatar o diálogo entre israelenses e palestinos, aumenta a
pressão para trazer de volta às
negociações um ambicioso plano apresentado há sete anos
pela Arábia Saudita para pacificar de vez o Oriente Médio.
A proposta ressurge após os
ataques de Israel em Gaza, uma
ação que agravou o impasse de
anos nas negociações de paz e
atiçou tensões regionais.
Ressuscitado no vácuo de
propostas concretas e abrangentes, o plano saudita ganhou
nos últimos dias elogios do presidente americano, Barack
Obama, do premiê britânico,
Gordon Brown, e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
A Iniciativa de Paz Árabe surgiu na Cúpula Árabe de Beirute,
em 2002, para mostrar a disposição em romper de vez com a
rejeição a Israel. Endossado então por todos os líderes da região, inclusive de países arqui-inimigos de Israel como Iraque
e Síria, o plano oferece a paz definitiva e o reconhecimento
formal do Estado judaico pelos
22 países da Liga Árabe.
Em contrapartida, Israel deve se retirar de todos os territórios ocupados na Guerra dos
Seis Dias, em 1967 -Jerusalém
Oriental, Cisjordânia, Gaza, colinas do Golã, na Síria, e as fazendas de Cheeba, no Líbano-
e aceitar um Estado palestino
em Gaza e Cisjordânia, com Jerusalém Oriental como capital.
Retorno
O plano pede ainda o reconhecimento do direito de retorno dos palestinos expulsos
de suas terras após a criação de
Israel, em 1948, mas abre a possibilidade de um acordo: nas
entrelinhas, sugere que parte
dos 4 milhões de refugiados seja indenizada em vez de voltar.
A proposta foi bem recebida.
O então secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, disse que ela
deveria ser "um dos pilares do
processo de paz". Israelenses se
mostraram receptivos, embora
o governo de Israel nunca tenha dado uma resposta formal.
"A ideia de transformação é
muito positiva. Quanta diferença em relação à Declaração
de Cartum!", diz Raphael Singer, porta-voz da Embaixada de
Israel em Brasília, aludindo a
um encontro de países árabes,
em 1967, onde os participantes
se comprometiam a não assinar a paz e não aceitar Israel.
Mas ele deixa claro que o teor
do texto é inaceitável para Israel: "A proposta foi feita só sob
o ponto de vista árabe. Eles não
podem dizer: é pegar ou largar".
O analista israelense Barry
Rubin alinha os motivos da rejeição. "A retirada às fronteiras
de 1967 colocaria Israel numa
situação estratégica perigosa",
diz Rubin, que aponta a questão
dos refugiados como o maior
obstáculo: "A volta dos refugiados traria um cenário de sangue e a destruição de Israel".
Minado pela desconfiança israelense, o plano foi engavetado num contexto marcado pela
invasão do Iraque pelos EUA,
em 2003, e pela contínua colonização da Cisjordânia.
Em 2007, a Cúpula de Riad
tentou relançar a ideia, mas a
acolhida foi fria, em grande
parte por causa das disputas na
Autoridade Nacional Palestina
entre o Hamas, vencedor das
legislativas de 2006, e o Fatah,
do presidente Mahmoud Abbas
-o conflito culminou com a expulsão do Fatah de Gaza, acirrando a disputa por legitimidade na liderança palestina.
"Nem palestinos nem israelenses têm governo de fato [haverá legislativas em fevereiro
em Israel]. Ninguém está em
condições de negociar o que
quer que seja", diz Samuel
Feldberg, historiador da Universidade de São Paulo.
Para Rami Khouri, da Universidade Americana de Beirute, o plano saudita é a melhor
opção na mesa. "O mundo árabe está comprometido, até o
Hamas já se mostrou aberto à
ideia. A recusa prova que Israel
no fundo não quer negociar."
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