São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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Crise reaviva plano saudita para obter a paz na região

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio a debates sobre como reatar o diálogo entre israelenses e palestinos, aumenta a pressão para trazer de volta às negociações um ambicioso plano apresentado há sete anos pela Arábia Saudita para pacificar de vez o Oriente Médio.
A proposta ressurge após os ataques de Israel em Gaza, uma ação que agravou o impasse de anos nas negociações de paz e atiçou tensões regionais.
Ressuscitado no vácuo de propostas concretas e abrangentes, o plano saudita ganhou nos últimos dias elogios do presidente americano, Barack Obama, do premiê britânico, Gordon Brown, e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
A Iniciativa de Paz Árabe surgiu na Cúpula Árabe de Beirute, em 2002, para mostrar a disposição em romper de vez com a rejeição a Israel. Endossado então por todos os líderes da região, inclusive de países arqui-inimigos de Israel como Iraque e Síria, o plano oferece a paz definitiva e o reconhecimento formal do Estado judaico pelos 22 países da Liga Árabe.
Em contrapartida, Israel deve se retirar de todos os territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, em 1967 -Jerusalém Oriental, Cisjordânia, Gaza, colinas do Golã, na Síria, e as fazendas de Cheeba, no Líbano- e aceitar um Estado palestino em Gaza e Cisjordânia, com Jerusalém Oriental como capital.

Retorno
O plano pede ainda o reconhecimento do direito de retorno dos palestinos expulsos de suas terras após a criação de Israel, em 1948, mas abre a possibilidade de um acordo: nas entrelinhas, sugere que parte dos 4 milhões de refugiados seja indenizada em vez de voltar.
A proposta foi bem recebida. O então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse que ela deveria ser "um dos pilares do processo de paz". Israelenses se mostraram receptivos, embora o governo de Israel nunca tenha dado uma resposta formal.
"A ideia de transformação é muito positiva. Quanta diferença em relação à Declaração de Cartum!", diz Raphael Singer, porta-voz da Embaixada de Israel em Brasília, aludindo a um encontro de países árabes, em 1967, onde os participantes se comprometiam a não assinar a paz e não aceitar Israel.
Mas ele deixa claro que o teor do texto é inaceitável para Israel: "A proposta foi feita só sob o ponto de vista árabe. Eles não podem dizer: é pegar ou largar".
O analista israelense Barry Rubin alinha os motivos da rejeição. "A retirada às fronteiras de 1967 colocaria Israel numa situação estratégica perigosa", diz Rubin, que aponta a questão dos refugiados como o maior obstáculo: "A volta dos refugiados traria um cenário de sangue e a destruição de Israel".
Minado pela desconfiança israelense, o plano foi engavetado num contexto marcado pela invasão do Iraque pelos EUA, em 2003, e pela contínua colonização da Cisjordânia.
Em 2007, a Cúpula de Riad tentou relançar a ideia, mas a acolhida foi fria, em grande parte por causa das disputas na Autoridade Nacional Palestina entre o Hamas, vencedor das legislativas de 2006, e o Fatah, do presidente Mahmoud Abbas -o conflito culminou com a expulsão do Fatah de Gaza, acirrando a disputa por legitimidade na liderança palestina.
"Nem palestinos nem israelenses têm governo de fato [haverá legislativas em fevereiro em Israel]. Ninguém está em condições de negociar o que quer que seja", diz Samuel Feldberg, historiador da Universidade de São Paulo.
Para Rami Khouri, da Universidade Americana de Beirute, o plano saudita é a melhor opção na mesa. "O mundo árabe está comprometido, até o Hamas já se mostrou aberto à ideia. A recusa prova que Israel no fundo não quer negociar."


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