São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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Ajuda humanitária enfrenta obstáculos

Nos recém-abertos postos da divisa egípcia, médicos e assistentes humanitários ainda encontram dificuldades para entrar em Gaza

Espera é de horas ou até de dias; no território onde falta luz, água, suprimentos e médicos, há cerca de 50 mil desabrigados, estima a ONU

DO ENVIADO À FAIXA DE GAZA

Médicos e organizações de ajuda humanitária estão tendo dificuldades em cruzar a fronteira do Egito com a faixa de Gaza, devido a restrições estabelecidas pelo Cairo. Caminhões com mantimentos e material de saúde também continuavam retidos ao menos até a tarde de ontem, enquanto pessoas ou grupos carregando caixas com alimentos eram aceitos pelo controle egípcio.
Um grupo de 26 médicos turcos da entidade Doctors Worldwide estava desde a antevéspera em um hall do posto de fronteira egípcia, em Rafah, esperando autorização para entrar. Dez médicos americanos da Imana (Associação Médica Islâmica da América do Norte) também haviam sido barrados na sexta-feira, depois de cinco horas de espera.
"Estamos aqui há 34 horas", explicou às 14h de ontem o clínico-geral Kerem Kinik, diretor da Doctors Worldwide. "Não conseguimos dormir nem comer direito, porque aqui só tem biscoitos", reclamou ele, que atribuiu o problema a dificuldades de comunicação entre órgãos do governo.
De acordo com Kinik, enquanto a Chancelaria egípcia os havia liberado, o Ministério do Interior continuava emperrando a divisa. A organização doou 43 toneladas de equipamento ao Hospital Nasr, em Gaza.
Os americanos tinham sido barrados na sexta, mas pelo menos voltaram ao hotel, a meia hora dali, em El Arish. Dos oficiais de plantão, ouviram cada hora uma explicação.
Como os turcos, os médicos com cidadania americana superaram a primeira barreira em Rafah, mas passaram cinco horas aguardando, ouvindo diferentes demandas das autoridades de segurança egípcias para entrarem em Gaza.
Mesmo com o intenso bombardeio de 22 dias de Israel, com mais de 1.300 mortos e 5.500 feridos, os policiais informaram que não era necessária a ajuda deles, uma vez que já havia "médicos demais".
Depois, afirmaram que apenas algumas especialidades seriam aceitas, como cirurgia e pediatria. Segundo o grupo, o ministro da Saúde de Gaza, Medhat Abbas, contestou a informação e reafirmou a urgência de serviços especializados.
O representante do Hamas, que governa o território de 1,5 milhão de habitantes há 18 meses sob bloqueio de Israel, se prontificou a ir à fronteira, mas os médicos ouviram que ele não tinha autoridade ali e e a investida seria infrutífera.
Em seguida, oficiais de inteligência egípcios disseram que não poderiam entrar porque não havia informações precisas sobre a presença do grupo ali.
Na tarde de ontem, porém, o grupo (afiliado à Missão Médica Americana) conseguiu a autorização para atuar em Gaza, após a intervenção de uma autoridade do Exército do Egito. Eles finalmente entraram, após 6 horas de espera. Já os turcos continuavam esperando.
O tempo era ontem a média de espera para quem queria ir do Egito para Gaza -a passagem fora bloqueada ao longo de toda a ofensiva israelense, encerrada há uma semana.
Na fronteira, jornalistas e outros tipos de assistentes humanitários, como advogados de direitos humanos, disputavam a rara boa-vontade ante a dificuldade de comunicação com os militares do Exército que controlavam o portão principal. (RAPHAEL GOMIDE)


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