São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 2006

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EUA

Iniciativa é da empresa dos Emirados Árabes; Bush ganha tempo para convencer oposição a permitir negócio

Controle árabe de portos nos EUA é adiado

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Na mais nova crise política enfrentada pela Casa Branca, o presidente George W. Bush ganhou tempo para retomar a ofensiva e convencer o Congresso de que a venda da operadora de seis grandes portos do país para uma companhia de propriedade dos Emirados Árabes não apresenta risco para a segurança nacional.
No início da noite de anteontem, a gigante Dubai Ports World anunciou que concluirá na próxima quinta-feira a compra da britânica Peninsular & Oriental Steam Navigation, que opera os seis portos, mas que não pretende exercer o controle sobre os portos americanos ainda.
A empresa não indicou quando fará uso desse direito. A oposição a Bush no Congresso pretende iniciar uma investigação sobre a venda da P&O, uma das maiores companhias do setor, mas a Casa Branca não admite essa tentativa e vai se esforçar para persuadir tanto republicanos quanto democratas da importância do negócio.
A polêmica virou assunto de um esquentado debate nos EUA e permitiu, como pouquíssimas vezes, que os democratas acusassem a administração Bush de relapsia sobre a segurança nacional. A resistência contra o negócio também evoluiu para protestos de sindicatos de trabalhadores portuários e ameaças: da senadora Hillary Clinton, de apresentar uma lei bloqueando o repasse para a empresa de Dubai; e do governador de Nova York, George Pataki, de encerrar o contrato com a P&O.
A oposição baseia suas críticas no fato de que os Emirados Árabes não reconhecem a existência de Israel e do uso de seu sistema bancário por seqüestradores dos aviões usados nos ataques terroristas do 11 de Setembro. Temem uma infiltração terrorista em um dos portos negociados.
Para a Casa Branca, Dubai é um dos principais aliados dos EUA no golfo Pérsico -o único porto onde navios da Marinha conseguem atracar e fazer manutenção na área- e o controle dos contêineres fica nas mãos da Guarda Costeira e do pessoal de alfândega, não da empresa. Bush prometeu usar seu poder de veto pela primeira vez na sua gestão para condenar qualquer lei que vise bloquear o contrato.
Depois de adquirir a P&O, a Dubai será responsável pela operação dos portos de Miami, Filadélfia, Baltimore, Nova Orleans, Nova Jersey e Nova York, todos na Costa Leste dos EUA. A Dubai também controlará o porto de Vancouver, no Canadá.
Para a população, os portos continuam sendo um alvo fácil para atentados terroristas. Se logo após os ataques do 11 de Setembro 2% da carga era vistoriada, hoje a taxa chega a meros 5% do total que os locais movimentam.
A imprensa americana chegou a divulgar ligações suspeitas entre o secretário do Tesouro, John Snow, e a Dubai. A empresa CSX, que ele presidia antes de assumir o cargo, foi vendida à Dubai por US$ 1,15 bilhão em 2004. E, no governo, Snow chefiou o painel que autorizou o repasse da operação dos portos à empresa árabe.


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