São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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TRANSIÇÃO EM CUBA / MUDANÇAS EM VISTA

"Fidel acabou, e há um novo jogo em Cuba"

Autor da mais abrangente biografia em inglês de Raúl Castro espera transformações econômicas, mas não políticas ou de direitos humanos

Para o analista da CIA Brian Latell, novo líder cubano se vê como transitório e vai se preparar os seus próprios aliados para o pós-Castros

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI (FLÓRIDA)

Fidel Castro acabou. O jogo agora é de Raúl, que afastará os fidelistas e colocará seu pessoal no lugar. E o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, será o candidato ideal para a interlocução de Cuba com o resto do mundo. As opiniões são de Brian Latell, por anos o principal analista de Cuba da CIA, a agência de inteligência dos EUA, é autor da que é considerada a biografia de Raúl Castro mais abrangente em inglês, "After Fidel" (depois de Fidel), de 2007, que sai em abril no Brasil pela Novo Conceito. Para ele, apesar de sua ligação ontem para Hugo Chávez, o novo dirigente não tem a melhor impressão do venezuelano, de quem quer ser independente. Latell falou à Folha na quarta e ontem. Leia os principais trechos abaixo:

 

FOLHA - Qual a importância deste domingo [ontem]?
BRIAN LATELL
- É um momento histórico e importante. É o fim. Fidel Castro acabou, e há um novo jogo em Cuba. Politicamente, não veremos muita mudança em termos de democracia ou direitos humanos. Raúl não vai permitir nada disso, dissidentes ou mesmo abertura democrática. Mas ele vai começar a liberalizar e descentralizar a economia. Fazer mudanças grandes e em larga escala nas lideranças civis e militares, para pôr seu pessoal em torno dele e em posições-chave. E dar os primeiros passos para a sucessão pós-Castros. É algo com que ele se preocupa já há algum tempo: se tanto Fidel quanto Raúl Castro não tiverem mais condições de governar, quem vai ser o líder? Não há nenhum sucessor natural, e isso pode se tornar perigoso. Se ambos se forem, vai haver uma luta pelo poder. Evitar isso será uma de suas prioridades.

FOLHA - Nesse sentido, o sr. acha que Raúl se vê mais como um presidente de transição?
LATELL
- Sim.

FOLHA - O sr. disse que Raúl poria "seu pessoal" no poder. Quão diferente do de Fidel será esse pessoal?
LATELL
- Há algumas diferenças. Raúl vai querer cercar-se de pessoas que ele conhece e em quem confia, dispostas a implementar mudanças econômicas, que não sejam corruptas. Alguns deles virão de seu próprio círculo, e alguns líderes muito próximos de Fidel serão aos poucos deixados de lado.

FOLHA - Com Raúl no poder, o sr. vê o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva como um interlocutor privilegiado?
LATELL
- Lula é o interlocutor ideal de Cuba com o resto do mundo, por um motivo simples: Raul não tem a melhor impressão de Chávez, que seria a opção natural. Raúl quer independência de Chávez. A dificuldade é que Cuba recebe US$ 3 bilhões por ano de ajuda econômica de Chávez, então ele tem de ser cuidadoso.

FOLHA - Qual o sr. acha que vai ser o papel de Fidel agora?
LATELL
- Escrevendo suas reflexões, talvez sobre todo tipo de assunto que não tem a ver com o que os cubanos estão interessados. É preciso deixar algo claro: Raúl Castro é o chefe agora.


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