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Grupos judeus e deputados pedem
inquérito contra líder islâmico de SP
ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas instituições que representam a comunidade judaica no
país e dois parlamentares do
PSDB paulista solicitaram ontem
a abertura de inquérito contra o
brasileiro de origem libanesa Mohamad Nassib Mourad. Ele preside a Sociedade Beneficente Muçulmana e, na última sexta-feira,
classificou os judeus como "câncer da humanidade".
Um dos pedidos é da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e
da Federação Israelita do Estado
de São Paulo (Fisesp). O outro,
dos deputados Walter Feldman
(federal) e Célia Leão (estadual).
Encaminhadas para o Ministério Público, ambas as solicitações
reivindicam que o inquérito apure se Mourad cometeu crime de
discriminação racial. A lei 7.716,
de 1989, define o delito. A pena
varia de um a três anos de prisão.
O presidente da sociedade muçulmana fez a declaração durante
culto na Mesquita Brasil. Fundado em 1927, o templo paulistano
congrega aproximadamente
2.500 fiéis.
Na cerimônia em que Mourad
discursou, havia cerca de 150 pessoas. Falando sobre a guerra no
Iraque, ele defendeu que o "lobby
judaico" está por trás da ação militar norte-americana. Em seguida, concluiu: "Desde que o mundo nasceu e até hoje, os judeus são
o câncer da humanidade. Não
respeitam as leis".
"A afirmação nos causou espanto e revolta", explica Jayme Blay,
presidente da Fisesp. "Os brasileiros cultivam a harmonia entre as
religiões. Não podemos admitir
que alguém ameace tal equilíbrio
com pronunciamentos absurdos
-em especial, num período tão
complicado e tenso quanto o que
atravessamos", afirma Blay.
"Aquele discurso destoa muitíssimo de nossa realidade. Árabes e
judeus se dão bem por aqui. Não
existe razão para importarmos a
intolerância que se verifica lá fora", reitera Jack Terpins, presidente da Conib.
Mesmo os muçulmanos se surpreenderam com os termos de
Mourad. "Condenamos as generalizações", argumenta o xeque
Ali Abdouni, presidente da Assembléia Mundial da Juventude
Islâmica na América Latina. "O
Alcorão nos ensina que não se deve injustiçar um grupo inteiro em
razão das atitudes malévolas que
alguns praticaram."
"De fato, as comunidades judaica e muçulmana sempre se entenderam no país", diz Mourad.
"Não tive nenhuma intenção de
ofender o povo judeu ou o judaísmo. Queria me referir às iniciativas violentas do Estado de Israel."
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