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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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Grupos judeus e deputados pedem inquérito contra líder islâmico de SP

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas instituições que representam a comunidade judaica no país e dois parlamentares do PSDB paulista solicitaram ontem a abertura de inquérito contra o brasileiro de origem libanesa Mohamad Nassib Mourad. Ele preside a Sociedade Beneficente Muçulmana e, na última sexta-feira, classificou os judeus como "câncer da humanidade".
Um dos pedidos é da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp). O outro, dos deputados Walter Feldman (federal) e Célia Leão (estadual).
Encaminhadas para o Ministério Público, ambas as solicitações reivindicam que o inquérito apure se Mourad cometeu crime de discriminação racial. A lei 7.716, de 1989, define o delito. A pena varia de um a três anos de prisão.
O presidente da sociedade muçulmana fez a declaração durante culto na Mesquita Brasil. Fundado em 1927, o templo paulistano congrega aproximadamente 2.500 fiéis.
Na cerimônia em que Mourad discursou, havia cerca de 150 pessoas. Falando sobre a guerra no Iraque, ele defendeu que o "lobby judaico" está por trás da ação militar norte-americana. Em seguida, concluiu: "Desde que o mundo nasceu e até hoje, os judeus são o câncer da humanidade. Não respeitam as leis".
"A afirmação nos causou espanto e revolta", explica Jayme Blay, presidente da Fisesp. "Os brasileiros cultivam a harmonia entre as religiões. Não podemos admitir que alguém ameace tal equilíbrio com pronunciamentos absurdos -em especial, num período tão complicado e tenso quanto o que atravessamos", afirma Blay.
"Aquele discurso destoa muitíssimo de nossa realidade. Árabes e judeus se dão bem por aqui. Não existe razão para importarmos a intolerância que se verifica lá fora", reitera Jack Terpins, presidente da Conib.
Mesmo os muçulmanos se surpreenderam com os termos de Mourad. "Condenamos as generalizações", argumenta o xeque Ali Abdouni, presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica na América Latina. "O Alcorão nos ensina que não se deve injustiçar um grupo inteiro em razão das atitudes malévolas que alguns praticaram."
"De fato, as comunidades judaica e muçulmana sempre se entenderam no país", diz Mourad. "Não tive nenhuma intenção de ofender o povo judeu ou o judaísmo. Queria me referir às iniciativas violentas do Estado de Israel."


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