São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2008

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Cuba descentralizará produção agrícola

Decisões sobre uso da terra e venda de produtos serão encaminhadas por escritórios locais do Ministério da Agricultura

Pasta é reformulada para levar em conta interesses de produtores particulares e cooperativas; venda de insumos já foi liberada

DA REUTERS, EM HAVANA

Depois de permitir a venda direta de insumos e ferramentas, o governo comunista de Cuba caminha para a descentralizar o setor agrícola dominado pelo Estado, com a reformulação de escritórios estatais locais e mais atenção a pequenos produtores privados.
Agricultores relatam que têm sido informados, em reuniões em todo o país, de que decisões sobre uso da terra e venda de produtos não serão mais prerrogativa exclusiva do Ministério da Agricultura em Havana. Escritórios locais da pasta estão sendo reformulados para levar mais em conta os produtores privados e cooperativas.
O incentivo à iniciativa privada, dizem estudiosos da ilha, visa aumentar a produção de alimentos, prioridade de Raúl Castro desde que chegou ao poder em julho de 2006. O governo gastou em 2007 US$ 286 milhões adicionais para importar alimentos (gasto total de US$ 1,5 bilhão), num contexto mundial de inflação.
"Isso representa a maior mudança de um esquema vertical de produção em direção a um horizontal e uma mudança na mentalidade burocrática nacional para um foco territorial", diz um especialista local, que, como outros entrevistados, pediu para não ser identificado. "Eles estão reconhecendo o papel dos produtores privados que, com apenas uma fração das terras, são responsáveis por 70% da produção."
Poucos analistas da ilha esperam reformas drásticas no modelo político e econômico de Cuba sob Raúl Castro, que, com a renúncia de Fidel, foi ratificado no cargo de presidente do Conselho de Estado.
Mas o próprio dirigente tem contribuído para aumentar, em discursos, as expectativas da população quanto a atender às "necessidades básicas materiais e espirituais".

Computadores
Nas últimas semanas, o governo anunciou a liberação da venda, em lojas que trabalham com divisas, de DVDs e computadores, que estavam sob restrição devido à carência energética. O decreto foi publicado ontem e passa a valer a partir de 1º de abril. O chanceler Pérez Roque também sinalizou com a flexibilização das normas para viagens ao exterior.
Num discurso no ano passado, na Província agrícola de Camaguey, Raúl Castro defendeu mudanças "estruturais" na agricultura. As declarações repercutiram nos debates promovidos pelo governo no país, quando a quantidade insuficiente de alimentos -e da ração mensal subsidiada pelo governo por meio das "libretas"- foi identificada como um dos principais problemas econômicos e sociais da ilha.
"O que está acontecendo é que os fazendeiros estão propondo coisas nestas reuniões, estão se sentindo ouvidos e está havendo resposta", diz um dirigente de uma cooperativa agrícola em Camagüey.
Em Cuba, há cerca de 250 mil famílias ligadas à agricultura e 1.100 cooperativas privadas -uma ilha de propriedade privada numa economia 90% estatal-, mas, juntos, eles cultivam apenas um terço das terras do país.


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