São Paulo, quarta-feira, 25 de março de 2009

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EUA reforçam repressão na fronteira sul

Medidas contra narcotráfico incluem envio de mais agentes federais e promessa de maior cooperação com governo do México

Plano, por hora, não inclui militares; regras frouxas para venda das armas que abastecem as gangues mexicanas não mudarão

Associated Press
Soldados do Exército mexicano chegam para atuar contra o narcotráfico em Ciudad Juárez, fronteiriça a El Paso, no Texas

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O governo dos EUA apresentou ontem seu aguardado plano contra a violência e o narcotráfico na região da fronteira com o México, problema que vem tornando mais tensa a relação entre os vizinhos. O anúncio foi focado no aumento de pessoal, na coordenação entre agências federais e na promessa de maior colaboração com autoridades mexicanas.
A secretária da Segurança Interna dos EUA, Janet Napolitano, coordenará o plano, que envolve também os departamentos da Justiça, do Estado e do Tesouro. Napolitano afirmou que os objetivos são dois: ajudar o governo do México a derrotar "esses enormes cartéis que estão enviando toneladas de drogas ilícitas aos EUA" e "nos proteger contra o aumento da violência nos EUA resultante das ações no México".
Napolitano afirmou que, embora a construção do muro que separa os dois países não seja "a melhor forma de lidar com cartéis" do narcotráfico, ela não será interrompida.

Consumo
Hoje, os EUA consomem 90% da droga que passa pelo México, e já foram identificadas ao menos 230 cidades americanas que abrigam redes de distribuição de cartéis mexicanos. Autoridades atribuem a criminosos ligados aos cartéis sequestros em Phoenix (Arizona) e Houston (Texas).
Napolitano afirmou que serão enviados pelo menos mais 400 agentes para reforçar programas de alfândega, imigração e combate direto ao tráfico -a função de 362 deles foi detalhada ontem. Outros agentes irão para o México trabalhar com autoridades locais, e o Tesouro promete intensificar o combate à lavagem de dinheiro.
Em termos de tecnologia, raios-X ajudarão a checar veículos e trens de carga. A iniciativa prevê reforçar os programas de saúde que lidam com demanda por drogas nos EUA.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, viaja hoje ao México para discutir a implementação das ações. Napolitano e o secretário da Justiça, Eric Holder, irão ao vizinho nos dias 1º e 2 de abril, e o presidente Barack Obama visitará o país nos dias 16 e 17.
No México, o plano foi recebido com cautela. A chanceler Patricia Espinosa disse que "as ações dos EUA são congruentes com a cooperação bilateral de combate ao crime organizado".

Sem resposta
Mas o plano deixou sem resposta a questão do grau de militarização da fronteira. Napolitano disse que não resolveu se enviará a Guarda Nacional ou o Exército à região. O presidente mexicano, Felipe Calderón, usa tropas na fronteira desde 2007.
Outro problema é que não serão alteradas as leis frouxas dos Estados americanos da fronteira para a compra das armas usadas pelos cartéis mexicanos (leia texto abaixo).
Além disso, a maior parte das ações envolve programas já existentes, decepcionando os que esperavam iniciativas inéditas. Parte do reforço de pessoal anunciado já ocorreu.
Questionado sobre o plano na coletiva que deu ontem à noite, o presidente Barack Obama disse que vai "monitorar" a situação. "Faremos mais se as medidas que tomamos não resolverem [o problema]."
Obama também admitiu que os EUA precisam "fazer mais para garantir que armas ilegais e dinheiro ilegal não cheguem aos cartéis [mexicanos]".
Estimados US$ 30 bilhões em verbas da lei de estímulo econômico serão gastos para apoiar órgãos federais e estaduais na fronteira. Também foram destacados os US$ 700 milhões em fundos já aprovados pelo Congresso para a Iniciativa Mérida, projeto do governo Bush (2001-2009) para combater o narcotráfico no México e na América Central.


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