São Paulo, quarta-feira, 25 de março de 2009

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Trabalhistas e direita fazem acordo em Israel

Partido herdeiro dos fundadores do país decide integrar coalizão liderada por Netanyahu em troca de cinco ministérios

Manobra garante maioria para formar novo governo e ameniza os temores de gabinete só com siglas radicais contrárias à paz

DA REDAÇÃO

O Partido Trabalhista israelense (centro-esquerda) decidiu ontem, em votação interna, aceitar o convite do virtual premiê, Binyamin Netanyahu, para integrar uma coalizão de governo dominada por siglas direitistas.
No pacto com o Likud, de Netanyahu, os trabalhistas se comprometem a somar as 13 cadeiras obtidas nas legislativas de fevereiro às 51 que o líder direitista havia angariado até então, incluindo as dos partidos aliados Israel Beitenu (ultradireitista) e Shas (religioso).
A base de Netanyahu tem agora 66 das 120 cadeiras do Knesset, o Parlamento unicameral, o que lhe garante a maioria necessária para governar -o líder direitista tem dez dias para buscar mais assentos.
O apoio dos trabalhistas põe fim ao cenário de incertezas causado pelo resultado apertado das eleições de fevereiro, nas quais o Likud obteve menos cadeiras do que o centrista Kadima, da atual chanceler Tzipi Livni (27 a 28 cadeiras). Mas, por ter mais promessas de apoio, Netanyahu foi incumbido pelo presidente Shimon Peres de formar um governo.
Além de selar a volta do direitista ao cargo de premiê, que já ocupou entre 1996 e 1999, a entrada dos trabalhistas no gabinete atende ao objetivo estratégico de apaziguar os EUA, que temiam a composição de um governo só com partidos refratários às atuais negociações com os palestinos.
Netanyahu rejeita a solução de dois Estados, que norteia as conversas de paz desde os Acordos de Oslo, de 1993.
Já o Israel Beitenu defendeu na campanha a adoção de um compromisso de lealdade ao Estado judeu por parte dos cidadãos árabes israelenses.
O acordo assinado ontem é vago em relação ao diálogo com os palestinos e se limita a destacar um "compromisso com acordos anteriores".

Garantias sociais
Mas a inclusão no gabinete de uma sigla como o Partido Trabalhista serve, ao menos retoricamente, como um sinal de abertura ao diálogo com os vizinhos árabes. Em troca, os trabalhistas obtiveram cinco ministérios -entre os quais os da Indústria e da Agricultura- e garantias de que o governo terá uma agenda social para a população mais pobre.
A decisão dos trabalhistas foi tomada em meio a tumultuada votação interna, em um salão de conferências de Tel Aviv, na qual 680 quadros dirigentes do partido aprovaram a adesão ao gabinete e 507 a rejeitaram.
O líder do partido, o ex-premiê (1999-2001) Ehud Barak, continuará sendo ministro da Defesa, cargo que ocupa no atual gabinete interino, chefiado por Ehud Olmert.
Barak sustentou que a entrada no governo de Netanyahu era crucial para a sobrevivência do Partido Trabalhista, herdeiro político dos fundadores do país, criado em 1948.
Membro da Internacional Socialista, a sigla governou durante as três primeiras décadas que sucederam a criação do Estado judeu. Mas a agremiação obteve nas últimas legislativas seu pior resultado da história e corre o risco de se desintegrar por causa das brigas internas.
Barak fez ontem um apelo pela união dos trabalhistas e prometeu não se curvar indiscriminadamente às decisões tomadas por Netanyahu, de quem é rival histórico.
"Não tenho medo de Binyamin Netanyahu. Nós seremos um contrapeso que irá garantir que não tenhamos um governo de direita radical", disse Barak.


Com agências internacionais


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