|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Visita de Netanyahu não destrava crise entre Israel e EUA
Premiê teve duas reuniões com Obama na noite de anteontem, mas partes não conseguiram nem chegar a um comunicado conjunto
Nova leva de construções judaicas em Jerusalém Oriental acirra tensão entre aliados, que ainda buscavam acordo na noite de ontem
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Mesmo depois de passar
mais de três horas na Casa
Branca na terça-feira e boa parte do dia de ontem em negociações exaustivas com autoridades americanas, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, não
conseguiu desarmar a crise entre seu governo e o de Barack
Obama.
Duas reuniões do presidente
dos EUA com Netanyahu não
produziram nem sequer uma
foto oficial, muito menos um
comunicado conjunto. O silêncio que cercou as conversas foi
mais um eloquente sinal do recente desencontro entre os tradicionais aliados.
O mal-estar que deflagrou a
crise há duas semanas, quando
Israel anunciou a construção
de 1.600 unidades habitacionais em Jerusalém Oriental em
plena visita do vice-presidente
dos EUA, Joe Biden, repetiu-se
em Washington.
No mesmo dia em que Netanyahu visitava a Casa Branca,
Israel aprovou mais 20 unidades para habitantes judeus
num bairro árabe de Jerusalém
Oriental, voltando a contrariar
o pedido americano de que
congelasse ações desse tipo para permitir a retomada do diálogo com os palestinos.
Netanyahu chegou anteontem à Casa Branca no fim da
tarde e falou com Obama por
uma hora e meia. Depois, em
uma movimentação bastante
rara, o premiê se reuniu com
seu ministro da Defesa, Ehud
Barak, e assessores a sós no salão Roosevelt, na Casa Branca,
por mais 90 minutos, enquanto
o americano esperava por uma
resposta na ala residencial.
No fim da noite, ambos voltaram a se encontrar por cerca de
meia hora, mas o premiê partiu
sem que uma nota conjunta
fosse divulgada. Segundo o jornal israelense "Haaretz", três
assessores israelenses ficaram
para negociar com a equipe de
Obama e só voltaram para o hotel já de madrugada.
Diante do impasse, Netanyahu cancelou a série de entrevistas que daria à imprensa americana ontem de manhã. O premiê passou o dia com Barak na
Embaixada de Israel, "a salvo
de escutas e grampos telefônicos", conforme observou um
comentarista da TV israelense,
negociando com funcionários
do governo americano.
Mais tarde, os dois se encontrariam ainda com o enviado de
Obama para o Oriente Médio,
George Mitchell, mas até o fechamento desta edição não havia sinal de acordo. O nó da
questão é a resistência israelense a suspender as construções em Jerusalém Oriental,
que os palestinos veem como
sua futura capital.
Novamente pegos de surpresa, os americanos pediram explicações sobre a autorização
da Prefeitura de Jerusalém para a construção de 20 imóveis
na área de um hotel comprado
por um milionário judeu americano simpatizante da direita.
O terreno fica em Sheikh Jarrah, bairro na parte da cidade
ocupada por Israel em 1967.
Elisha Peleg, membro do
Conselho Municipal de Jerusalém, disse que o plano tramita
há meses e que a aprovação foi
apenas um "passo técnico". Em
um comunicado, o gabinete de
Netanyahu reiterou que "não
há limites ao direito de propriedade em Jerusalém".
A Casa Branca disse que espera "esclarecimentos" de Israel sobre o ato. O porta-voz
Robert Gibbs disse que Obama
pediu a Netanyahu "passos para construir a confiança" de
forma a permitir o início de negociações com os palestinos.
Em novembro, Israel aceitou
congelar por dez meses o início
de novas construções na Cisjordânia, mas deixou claro que
a decisão não incluía Jerusalém
Oriental, que considera parte
de sua capital.
Texto Anterior: Contestado, Insulza é reeleito na OEA Próximo Texto: Lula ignora abusos no Irã, afirma ativista que teve noiva assassinada Índice
|