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Lula ignora abusos no Irã, afirma ativista que teve noiva assassinada
Após deixar prisão, iraniano viaja a Israel para denunciar atrocidades de Teerã
DE JERUSALÉM
Até dez meses atrás, o escritor e documentarista iraniano
Caspian Makan jamais pensara
em se meter em política.
Mas a morte de sua noiva em
junho do ano passado, registrada em imagens dramáticas que
se espalharam rapidamente pela internet, tornou-se um símbolo da oposição ao regime dos
aiatolás e virou sua vida de cabeça para baixo.
Makan diz que virou ativista
político para expor os abusos
cometidos pela "ditadura iraniana" e alertar que é ingenuidade achar que é possível moderar as posições de Teerã por
meio do diálogo, como tem defendido o governo brasileiro.
As cenas de Neda Agha-Soltan agonizando numa rua de
Teerã, o sangue escorrendo pela boca e nariz, deram rosto e
nome à brutalidade que milhares de oposicionistas anônimos
afirmam ter sofrido nas mãos
do regime desde a contestada
reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Segundo testemunhas, Neda,
27, foi atingida no peito por
franco-atiradores da milícia
pró-governo Basij, um incidente que o regime afirma ter sido
fabricado pelos oposicionistas.
Entrevistado por redes de TV
internacionais sobre a morte
da noiva, Makan foi preso seis
dias depois, em casa.
Durante 65 dias ele foi interrogado na prisão de Evin, conhecida por confinar presos
políticos, até ganhar liberdade
provisória. Temendo ser novamente preso, fugiu do país, e no
começo do ano recebeu asilo
político no Canadá.
Tour a Israel
Há poucos dias, Makan desembarcou no aeroporto de Tel
Aviv e teve seu passaporte iraniano carimbado com o símbolo de Israel, considerado o inimigo número um pelo presidente Ahmadinejad.
Encontrou-se com o presidente Shimon Peres, deu entrevistas e palestras e visitou o
museu do Holocausto, que documenta o massacre de 6 milhões de judeus pela Alemanha
nazista, cuja veracidade Ahmadinejad questiona.
Tamanha exposição, justamente no país que é o principal
antagonista do Irã na região,
acabou transformando Makan
em alvo de críticas da própria
oposição iraniana. Em sites
oposicionistas na internet, foi
acusado de servir à propaganda
de Teerã ao aceitar o convite de
Israel e até de já não ser o namorado de Neda quando ela foi
morta, como afirma.
Em Israel, Makan manteve
um ar fúnebre. Por mais de
uma hora, na entrevista coletiva que ele concedeu em um hotel de Tel Aviv para poucos jornalistas, Makan manteve-se cabisbaixo, com o semblante fechado realçado pelas olheiras
profundas e a voz baixa, quase
um sussurro.
O único momento em que esboçou um sorriso amargo foi ao
ser questionado sobre a visita
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ao Irã, marcada para
maio, e o apoio do Brasil a um
diálogo com Teerã para resolver o impasse em torno de seu
programa nuclear.
"Isso mostra que os líderes
do Brasil não sabem o que está
se passando no Irã, com abusos
diários dos direitos humanos",
diz Makan. "Como é possível
ignorar 30 anos de crimes contra o povo iraniano? Como é
possível negociar e ter relações
com um regime ditatorial como
esse?", questiona.
(MN)
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