São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2011

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Brasília nega que haja uma mudança de posição

Marco Aurelio Garcia diz que não houve condenação ao regime iraniano

ONGs que acompanham questão no Irã festejam voto brasileiro; morte por apedrejamento é degradante, diz Dilma

DE BRASÍLIA
DO RIO
DE SÃO PAULO


O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, afirmou ontem que o voto do Brasil pelo envio de um relator ao Irã para investigar violações de direitos humanos não significa uma condenação, mas a possibilidade de conhecer melhor a situação no país persa.
Ele contemporizou a afirmação de que a decisão no Conselho de Direitos Humanos da ONU contraria o histórico brasileiro. "O Brasil tem mantido a coerência."
Ontem, no entanto, o ex-chanceler Celso Amorim disse à Folha que "provavelmente" votaria contra a resolução, por considerá-la uma decisão política.
Marco Aurélio diz que, sob Dilma, o Brasil não fará "mudanças substanciais" em relação às posições do governo Lula e que o Brasil votou a favor de investigações em episódios similares ao do Irã em "mais de 90% dos casos".
No mesmo dia da votação na ONU, durante reunião do seu conselho político, a presidente Dilma Rousseff classificou a morte por apedrejamento de "degradante". Foi uma referência direta ao caso de Sakineh Ashtiani, que o Irã acusa de adultério e condenou a morrer apedrejada.

AVALIAÇÃO DAS ONGS
Militantes de direitos humanos que atuam no Brasil consideraram o voto de ontem "extraordinário".
"O habitual [do Brasil] nessas votações seria se abster ou até votar contra. Foi um acontecimento", disse José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da Human Rights Watch. Ele, porém, ainda não vê mudar a política de direitos humanos. "É uma mudança de atitude."
"Parece muito bom", diz Drewery Dyke, pesquisador da ONG Anistia Internacional para o Irã. "Mas é preciso observar se esse voto será parte de uma tendência."
Camila Lissa Asano, da ONG Conectas, afirma ser "imperativo" para os governos brasileiros priorizar os direitos humanos nas relações internacionais, como estabelece a Constituição.
Entre as supostas violações aos direitos humanos no Irã, ela destaca a escalada no número de execuções -foram 94 em 2005 e 542 em 2010, conforme dados oficiais e de testemunhas.
"Foi uma mudança radical e muito bem-vinda", disse o secretário nacional da Comunidade Bahá'í no Brasil, Iradj Eghrari. Desde 2004, 379 praticantes da religião foram presos pelo regime iraniano.
Eghrari só lamenta que o documento aprovado ontem seja mais frágil que aqueles nos quais são descritas violações. "Mas já é alguma coisa, já demonstra a vontade política da ONU em investigar."


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