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CRISE PARAGUAIA
FHC diz em, entrevista à Folha, que bloco econômico não admite permanência de países não-democráticos
Golpe poderia tirar país do Mercosul
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
VALDO CRUZ
Diretor-Executivo da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em entrevista exclusiva à Folha, que o
Paraguai será expulso do bloco do
Mercosul se um golpe levar ao fim
da democracia no país. "País que
entrar num rumo da não-democracia cai fora (do Mercosul)", disse FHC.
O Brasil, segundo o presidente,
também está preparado para proteger os cidadãos brasileiros residentes no Paraguai e a usina de
Itaipu (12.600 MW), uma das
maiores hidrelétricas do mundo
construída, operada e explorada
comercialmente, em conjunto, pelos governos dos dois países.
"O Brasil tem um plano B para
proteger Itaipu e os brasileiros que
vivem no Paraguai?", perguntou a
Folha. O presidente respondeu:
"Um plano A, B, C, D, F, G, até o
infinito."
"A coisa está feia"
Durante a entrevista à Folha, o
presidente recebeu um telefonema
informando a aprovação do pedido de impeachment do presidente
Raúl Cubas Grau pela Câmara dos
Deputados do Paraguai.
Eram 11h e o presidente comentou: "A coisa lá está feia". FHC
contou que voltou a falar ontem a
respeito do Paraguai com o presidente da Argentina, Carlos Menem.
A posição dos dois países e do
outro país membro do Mercosul, o
Uruguai, é a mesma: considerar o
assassinato do vice-presidente Argaña como um atentado insuficiente para caracterizar desrespeito às regras democráticas.
Além das conversas entre presidentes, o ministro das Relações
Exteriores, Luiz Felipe Lampreia,
também manteve ontem contatos
com o seu colega argentino, Guido
di Tella, e com a secretária de Estado norte-americana, Madeleine
Albright.
A conversa foi por telefone, por
volta das 13h, segundo nota do Itamaraty. A nota diz que os dois interlocutores "coincidiram em expressar grave preocupação pela situação do Paraguai. Concordaram
em fazer um apelo a todos os paraguaios -em especial às suas lideranças políticas e sociais- no sentido de que mantenham a calma e o
comedimento em suas ações".
Lampreia, Di Tella e Albright insistiram no "imperativo do respeito aos princípios constitucionais e
à ordem democrática".
Leia, a seguir, os principais pontos da entrevista dada no Planalto
em que o presidente fala da situação no Paraguai e de suas repercussões no Mercosul:
Folha - O que Brasil, Argentina e
Uruguai podem fazer sobre o que
está acontecendo no Paraguai?
Fernando Henrique Cardoso - Eu
falei hoje com o presidente Carlos
Menem. Qual a nossa posição de
Mercosul? O Mercosul é inequivocamente baseado na democracia.
Nenhum país pode sair do regime
democrático.
Eu não vejo no impeachment
uma decisão de golpe, é decisão soberana, de Congresso, diferente. Se
houver risco de golpe, nós agiremos duramente.
Folha - O sr. não acha o atentado
um golpe?
FHC - Eu não sei, eu não tenho informações.
Folha - Então, se tiver um golpe,
o Paraguai está fora do Mercosul?
FHC - País que entrar num rumo
da não-democracia, cai fora.
Folha - Agora se discute o impeachment do presidente Raúl Cubas e o general Oviedo está preso.
Isso não caracteriza um ambiente
de atentado à democracia? E se
descobrirem que o atentado foi
promovido pelo presidente?
FHC - Precisa ver se o Congresso
vai fazer o impeachment. O problema nosso é respeitar a formalidade democrática e a vontade popular. Ele é presidente porque foi
eleito. Duvido que ele tenha feito.
Não é a minha opinião que ele tenha participado do atentado, mas
eu não tenho nenhuma informação. Agora, se houver isso e o Congresso fizer o impeachment, então
está dentro da democracia.
Folha - O Brasil tem um plano B
para proteger Itaipu e os brasileiros que vivem no Paraguai?
FHC - Um plano A, B, C, D, F, G,
até o infinito.
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