São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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CRISE PARAGUAIA
FHC diz em, entrevista à Folha, que bloco econômico não admite permanência de países não-democráticos
Golpe poderia tirar país do Mercosul

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

VALDO CRUZ
Diretor-Executivo da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em entrevista exclusiva à Folha, que o Paraguai será expulso do bloco do Mercosul se um golpe levar ao fim da democracia no país. "País que entrar num rumo da não-democracia cai fora (do Mercosul)", disse FHC.
O Brasil, segundo o presidente, também está preparado para proteger os cidadãos brasileiros residentes no Paraguai e a usina de Itaipu (12.600 MW), uma das maiores hidrelétricas do mundo construída, operada e explorada comercialmente, em conjunto, pelos governos dos dois países.
"O Brasil tem um plano B para proteger Itaipu e os brasileiros que vivem no Paraguai?", perguntou a Folha. O presidente respondeu: "Um plano A, B, C, D, F, G, até o infinito."

"A coisa está feia"
Durante a entrevista à Folha, o presidente recebeu um telefonema informando a aprovação do pedido de impeachment do presidente Raúl Cubas Grau pela Câmara dos Deputados do Paraguai.
Eram 11h e o presidente comentou: "A coisa lá está feia". FHC contou que voltou a falar ontem a respeito do Paraguai com o presidente da Argentina, Carlos Menem.
A posição dos dois países e do outro país membro do Mercosul, o Uruguai, é a mesma: considerar o assassinato do vice-presidente Argaña como um atentado insuficiente para caracterizar desrespeito às regras democráticas.
Além das conversas entre presidentes, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, também manteve ontem contatos com o seu colega argentino, Guido di Tella, e com a secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright.
A conversa foi por telefone, por volta das 13h, segundo nota do Itamaraty. A nota diz que os dois interlocutores "coincidiram em expressar grave preocupação pela situação do Paraguai. Concordaram em fazer um apelo a todos os paraguaios -em especial às suas lideranças políticas e sociais- no sentido de que mantenham a calma e o comedimento em suas ações".
Lampreia, Di Tella e Albright insistiram no "imperativo do respeito aos princípios constitucionais e à ordem democrática".
Leia, a seguir, os principais pontos da entrevista dada no Planalto em que o presidente fala da situação no Paraguai e de suas repercussões no Mercosul:

Folha - O que Brasil, Argentina e Uruguai podem fazer sobre o que está acontecendo no Paraguai?
Fernando Henrique Cardoso -
Eu falei hoje com o presidente Carlos Menem. Qual a nossa posição de Mercosul? O Mercosul é inequivocamente baseado na democracia. Nenhum país pode sair do regime democrático.
Eu não vejo no impeachment uma decisão de golpe, é decisão soberana, de Congresso, diferente. Se houver risco de golpe, nós agiremos duramente.
Folha - O sr. não acha o atentado um golpe?
FHC -
Eu não sei, eu não tenho informações.
Folha - Então, se tiver um golpe, o Paraguai está fora do Mercosul?
FHC -
País que entrar num rumo da não-democracia, cai fora.
Folha - Agora se discute o impeachment do presidente Raúl Cubas e o general Oviedo está preso. Isso não caracteriza um ambiente de atentado à democracia? E se descobrirem que o atentado foi promovido pelo presidente?
FHC -
Precisa ver se o Congresso vai fazer o impeachment. O problema nosso é respeitar a formalidade democrática e a vontade popular. Ele é presidente porque foi eleito. Duvido que ele tenha feito. Não é a minha opinião que ele tenha participado do atentado, mas eu não tenho nenhuma informação. Agora, se houver isso e o Congresso fizer o impeachment, então está dentro da democracia.
Folha - O Brasil tem um plano B para proteger Itaipu e os brasileiros que vivem no Paraguai?
FHC -
Um plano A, B, C, D, F, G, até o infinito.


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