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AIDS
Relatórios de farmacêuticas mostram que publicidade pesa mais que pesquisas no gasto das empresas
Polêmica revela custo real dos remédios
MELODY PETERSEN
do "THE NEW YORK TIMES"
Uma dezena de pequenos laboratórios estrangeiros, trabalhando na sombra para fazer versões
genéricas de remédios patenteados, está mostrando ao mundo
como o custo de produção desses
medicamentos é baixo.
Esses laboratórios de Índia, China e Coréia do Sul produzem tanto os ingredientes ativos para a fabricação de medicamentos contra
a Aids como o produto final.
Os genéricos são vendidos por
uma fração do preço dos remédios de marca a países como Brasil, Índia e Argentina, que estão
ignorando as patentes das quais
as grandes farmacêuticas dependem para manter o monopólio e
determinar os preços no mercado
internacional.
A GlaxoSmithKline, por exemplo, a maior fabricante do mundo
de medicamentos contra a Aids,
vende Combivir por cerca de US$
7.000 por paciente ao ano nos
EUA. Os ingredientes ativos para
o remédio custam US$ 240 no
mercado internacional de genéricos, e a Cipla, uma empresa da Índia, está oferecendo uma versão
do Combivir por US$ 275.
Os pequenos laboratórios vêm,
há vários anos, produzindo em silêncio genéricos para o tratamento de câncer, colesterol alto e outras doenças. Mas, com o acirramento da crise da Aids na África,
alguns deles alardearam suas atividades ao oferecer remédios
mais baratos contra a doença.
Na tentativa de defender o monopólio, as grandes farmacêuticas
ofereceram descontos aos países
em desenvolvimento, mas os preços continuaram altos em comparação aos genéricos.
A Bristol-Myers Squibb vende o
Zerit nos EUA por US$ 3.400 por
paciente ao ano. No mês passado,
a empresa anunciou que venderia
o remédio na África por US$ 55
por paciente ao ano, um preço, segundo ela, inferior ao custo. Mas a
Cipla está oferecendo o mesmo
medicamento por US$ 40.
As grandes farmacêuticas relutam em discutir seus gastos. Mas,
em entrevistas, elas dizem que
precisam cobrar mais por causa
das pesquisas. A GlaxoSmithKline investiu US$ 4 bilhões em pesquisas no ano passado e, desde
1995, lançou cinco remédios contra a Aids.
As pesquisas representam, no
entanto, apenas uma parte dos
gastos das empresas. Num recente relatório para investidores, a
GlaxoSmithKline disse ter gasto
37% de sua receita em marketing
e administração e apenas 14% em
pesquisa. O lucro foi de 29%.
A Bristol-Myers Squibb gastou
no ano passado 30% de sua receita em publicidade, marketing e
administração e 10% em pesquisa. O lucro foi de 26%.
As empresas acusam os pequenos laboratórios de copiarem ilegalmente remédios que consumiram vários anos e milhões de dólares para serem criados.
Segundo a Associação da Indústria Farmacêutica dos EUA, o desenvolvimento de um novo remédio custa cerca US$ 500 milhões.
Mas os defensores dos pacientes
contestam esse valor, dizendo que
há medicamentos contra a Aids
que foram desenvolvidos com
ajuda do governo norte-americano.
A indústria diz, no entanto, que
paga royalties a outras empresas e
a várias universidades que ajudaram na pesquisa. Há, também,
despesas administrativas como o
salário dos executivos, custos legais e gastos com publicidade e
lobby.
Analistas de Wall Street afirmam que os genéricos contra a
Aids não terão impacto imediato
no desemprenho das empresas,
que ganham muito pouco nos
países pobres, onde não há dinheiro para medicamentos. Segundo eles, mais de 90% dos US$
3,8 bilhões obtidos com a venda
de remédios contra a Aids no ano
passado vieram de apenas cinco
países: EUA, França, Itália, Alemanha e Reino Unido.
Além disso os remédios contra a
Aids representam uma fração das
vendas. Apenas 6% da receita da
GlaxoSmithKline, a maior fabricante de remédios anti-HIV, vêm
desses medicamentos.
A grande ameaça para a indústria é a possibilidade de os pequenos laboratório começarem a
vender genéricos de outros medicamentos. Se o mercado para genéricos crescer, os laboratórios
estrangeiros não hesitarão em expandir seus negócios.
"Patentes são para recompensar
o inventor e não para lhe dar o
monopólio", disse Luciano Calenti, da canadense ACIC Pharmaceuticals, que vende ao Brasil
ingredientes ativos para a produção de remédios contra a Aids.
O Brasil deu um grande impulso à ACIC e a outros laboratórios
estrangeiros quando começou a
comprar ingredientes ativos, em
1998, para a produção de genéricos contra a Aids.
"As compras brasileiras têm sido tão grandes que derrubaram
os preços no mercado global",
disse James Love, diretor do Consumer Project on Technology,
uma ONG de Washington que
monitora os preços no mercado
internacional.
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