São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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PERU

Escritor se diz "perplexo e aflito" com as várias acusações que seu filho Alvaro fez ao candidato, de quem era assessor

Vargas Llosa censura o filho e apóia Toledo

LAURA PUERTAS
DO "EL PAÍS", EM LIMA

O escritor Mario Vargas Llosa reiterou ontem seu apoio a Alejandro Toledo e se disse "perplexo" com as declarações de seu filho, Alvaro, contra o candidato à Presidência do Peru.
"Estou perplexo e aflito com o que aconteceu. Alvaro não me consultou e tampouco me informou de antemão sobre o que ia fazer. Se ele tivesse feito isso, eu tentaria dissuadi-lo (de seu propósito)", afirmou, em Madri, o escritor peruano.
Alvaro, até o último sábado um dos principais assessores de Toledo, anunciou seu rompimento durante entrevista num conhecido programa de TV. Ele disse sentir "profunda decepção" com Toledo.
O jornalista afirmou acreditar que o candidato mentiu em diversas situações, como no caso de uma suposta filha ilegítima de Toledo, de 13 anos, cuja paternidade foi negada pelo candidato. Ele também acusa o candidato a vice de Toledo de ter pago US$ 10 mil para evitar que sejam divulgadas evidências de que o candidato teria consumido cocaína.
"Lamento que, pela primeira vez, não possa apoiar uma opinião política de Alvaro. Creio que agiu de forma precipitada", disse Vargas Llosa.
"Nada do que ocorreu me leva a rever meu apoio a Toledo, que eu continuo a considerar a melhor opção para o Peru."
Toledo disse estar disposto a conversar com Alvaro Vargas Llosa depois que a situação se acalmar. "Quando a água voltar a seu nível, eu mesmo vou procurar Alvaro", disse.
Toledo disse ainda concordar com a afirmação do escritor peruano de que Alvaro havia sido influenciado pelo jornalista Jaime Bayly, que realizou a entrevista em que Alvaro fez acusações contra Toledo.
Segundo Toledo, Bayly "é o grande responsável por essa operação devido a suas intrigas".
Bayly, que reagiu de forma imediata à acusação, disse que "Alvaro tomou a decisão de acordo com seu princípios, pois não é nenhum mequetrefe".
De acordo com Alvaro, a campanha de Toledo recebeu "ajudas milionárias" de entidades estrangeiras, e o candidato a vice-presidente Raúl Diez Canseco teria pago um suborno de US$ 10 mil para evitar a divulgação de uma informação que vinculava Toledo ao uso de cocaína.
Vargas Llosa pediu "desculpas publicamente" a Diaz Canseco e disse que tinha certeza de que seu filho também se desculparia "mais tarde, quando as águas se acalmarem".

Mais detalhes
"Raúl (Diez Canseco) é uma pessoa cuja honra está longe de qualquer suspeita. Peço desculpas publicamente", disse Vargas Llosa.
Minutos após a declaração, o candidato a vice-presidente ligou para uma rádio peruana para declarar que não ia mais processar o filho de Vargas Llosa, que prometeu revelar mais detalhes sobre o caso hoje.
"Meu pai é quem mais admiro neste mundo e não vou desautorizá-lo, mas amanhã (hoje) vou esclarecer certas coisas com Jaime Bayly", disse.
Alejandro Toledo, com 52,5% das intenções de voto, continua à frente do ex-presidente Alan Garcia, que tem 47,5%, para o segundo turno da eleição presidencial peruana, conforme pesquisa divulgada no último domingo. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
A votação deverá ocorrer no final de maio ou no início de junho.
Garcia afirmou inicialmente que não ia comentar os problemas internos do Peru Possível (partido de Toledo).
Após poucas perguntas sobre o fim do apoio de Alvaro Vargas Llosa a Toledo, no entanto, ele lamentou a decisão do jornalista e disse que a crise demonstra que "não há capacidade de união nesse grupo (Peru Possível), quando o país está pedindo um governo de união nacional. É como se houvesse uma crise ministerial antes de chegar ao governo". Toledo disse que Garcia alega "não se meter em nossos assuntos, mas começa a nos questionar".
O ex-presidente peruano disse ainda que as declarações de Álvaro Vargas Llosa haviam produzido o mesmo efeito de um vladivídeo -fita gravada pelo ex-chefe do serviço de inteligência peruano Vladimiro Montesinos, que provocou um escândalo de corrupção.
Alberto Fujimori acabou renunciando em novembro após uma crise provocada por denúncias de corrupção e tráfico de influência envolvendo Montesinos, seu braço direito.
A renúncia, apresentada por carta do Japão, durante uma viagem oficial, não foi aceita pelo Congresso, que o afastou por "incapacidade moral". Fujimori permanece auto-exilado no Japão.
O então presidente do Congresso, Valentín Paniagua, assumiu a Presidência após a destituição de Fujimori. À frente de um governo de transição, Paniagua ficou neutro no processo eleitoral.


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