|
Texto Anterior | Índice
PERU
Escritor se diz "perplexo e aflito" com as várias acusações que seu filho Alvaro fez ao candidato, de quem era assessor
Vargas Llosa censura o filho e apóia Toledo
LAURA PUERTAS
DO "EL PAÍS", EM LIMA
O escritor Mario Vargas Llosa
reiterou ontem seu apoio a Alejandro Toledo e se disse "perplexo" com as declarações de seu filho, Alvaro, contra o candidato à
Presidência do Peru.
"Estou perplexo e aflito com o
que aconteceu. Alvaro não me
consultou e tampouco me informou de antemão sobre o que ia
fazer. Se ele tivesse feito isso, eu
tentaria dissuadi-lo (de seu propósito)", afirmou, em Madri, o escritor peruano.
Alvaro, até o último sábado um
dos principais assessores de Toledo, anunciou seu rompimento
durante entrevista num conhecido programa de TV. Ele disse sentir "profunda decepção" com Toledo.
O jornalista afirmou acreditar
que o candidato mentiu em diversas situações, como no caso de
uma suposta filha ilegítima de Toledo, de 13 anos, cuja paternidade
foi negada pelo candidato. Ele
também acusa o candidato a vice
de Toledo de ter pago US$ 10 mil
para evitar que sejam divulgadas
evidências de que o candidato teria consumido cocaína.
"Lamento que, pela primeira
vez, não possa apoiar uma opinião política de Alvaro. Creio que
agiu de forma precipitada", disse
Vargas Llosa.
"Nada do que ocorreu me leva a
rever meu apoio a Toledo, que eu
continuo a considerar a melhor
opção para o Peru."
Toledo disse estar disposto a
conversar com Alvaro Vargas
Llosa depois que a situação se
acalmar. "Quando a água voltar a
seu nível, eu mesmo vou procurar
Alvaro", disse.
Toledo disse ainda concordar
com a afirmação do escritor peruano de que Alvaro havia sido
influenciado pelo jornalista Jaime
Bayly, que realizou a entrevista
em que Alvaro fez acusações contra Toledo.
Segundo Toledo, Bayly "é o
grande responsável por essa operação devido a suas intrigas".
Bayly, que reagiu de forma imediata à acusação, disse que "Alvaro tomou a decisão de acordo
com seu princípios, pois não é nenhum mequetrefe".
De acordo com Alvaro, a campanha de Toledo recebeu "ajudas
milionárias" de entidades estrangeiras, e o candidato a vice-presidente Raúl Diez Canseco teria pago um suborno de US$ 10 mil para evitar a divulgação de uma informação que vinculava Toledo
ao uso de cocaína.
Vargas Llosa pediu "desculpas
publicamente" a Diaz Canseco e
disse que tinha certeza de que seu
filho também se desculparia
"mais tarde, quando as águas se
acalmarem".
Mais detalhes
"Raúl (Diez Canseco) é uma
pessoa cuja honra está longe de
qualquer suspeita. Peço desculpas
publicamente", disse Vargas Llosa.
Minutos após a declaração, o
candidato a vice-presidente ligou
para uma rádio peruana para declarar que não ia mais processar o
filho de Vargas Llosa, que prometeu revelar mais detalhes sobre o
caso hoje.
"Meu pai é quem mais admiro
neste mundo e não vou desautorizá-lo, mas amanhã (hoje) vou esclarecer certas coisas com Jaime
Bayly", disse.
Alejandro Toledo, com 52,5%
das intenções de voto, continua à
frente do ex-presidente Alan Garcia, que tem 47,5%, para o segundo turno da eleição presidencial
peruana, conforme pesquisa divulgada no último domingo. A
margem de erro é de 2,2 pontos
percentuais para mais ou para
menos.
A votação deverá ocorrer no final de maio ou no início de junho.
Garcia afirmou inicialmente
que não ia comentar os problemas internos do Peru Possível
(partido de Toledo).
Após poucas perguntas sobre o
fim do apoio de Alvaro Vargas
Llosa a Toledo, no entanto, ele lamentou a decisão do jornalista e
disse que a crise demonstra que
"não há capacidade de união nesse grupo (Peru Possível), quando
o país está pedindo um governo
de união nacional. É como se houvesse uma crise ministerial antes
de chegar ao governo". Toledo
disse que Garcia alega "não se meter em nossos assuntos, mas começa a nos questionar".
O ex-presidente peruano disse
ainda que as declarações de Álvaro Vargas Llosa haviam produzido o mesmo efeito de um vladivídeo -fita gravada pelo ex-chefe
do serviço de inteligência peruano Vladimiro Montesinos, que
provocou um escândalo de corrupção.
Alberto Fujimori acabou renunciando em novembro após
uma crise provocada por denúncias de corrupção e tráfico de influência envolvendo Montesinos,
seu braço direito.
A renúncia, apresentada por
carta do Japão, durante uma viagem oficial, não foi aceita pelo
Congresso, que o afastou por "incapacidade moral". Fujimori permanece auto-exilado no Japão.
O então presidente do Congresso, Valentín Paniagua, assumiu a
Presidência após a destituição de
Fujimori. À frente de um governo
de transição, Paniagua ficou neutro no processo eleitoral.
Texto Anterior: Iuguslávia: Montenegro pressiona por independência Índice
|