|
Próximo Texto | Índice
Morales congela repasses a Santa Cruz
La Paz acusa oposição, que governa departamento, de usar dinheiro público para organizar referendo sobre autonomia regional
Oposicionistas realizarão referendo sobre autonomia
regional em nove dias; presidente pede a militares
defesa da unidade do país
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O governo boliviano anunciou ontem o congelamento do
repasse de recursos ao departamento de Santa Cruz, alegando
que os gastos deixaram de ser
contabilizados pela administração regional há duas semanas. A decisão aumenta o confronto entre o presidente Evo
Morales e a oposição a apenas
nove dias da realização de um
referendo regional não reconhecido por La Paz.
Segundo explicou o ministro
boliviano da Fazenda, Luis Arce, a decisão foi tomada porque
o departamento de Santa Cruz
se desligou há duas semanas do
Sigma, um sistema nacional
computadorizado para registro
de gastos públicos. Arce afirmou que, com a medida, Santa
Cruz deixará de receber semanalmente 100 milhões de bolivianos (cerca de R$ 22,7 milhões), mas prometeu retomar
os repasses caso o governo departamental volte ao Sigma e
após uma auditoria.
"Os funcionários do governo
departamental estão realizando operações manuais que não
são registradas no sistema e
que põem em perigo a transparência na administração dos recursos", disse Arce, em entrevista coletiva.
Morales acusa Santa Cruz de
usar dinheiro público para preparar o referendo de 4 de maio
sobre a adoção de um "estatuto
autonômico" que amplia os poderes do governo departamental. A consulta é considerada
ilegal pela Justiça e pelo governo federal, que acusa a oposição
de fomentar o separatismo.
O estatuto autonômico, que
dá ao governo departamental
poderes até para legislar sobre
política alfandegária, foi uma
resposta da oposição à Constituição aprovada numa Assembléia Constituinte sem a presença da oposição. Para entrar
em vigor, a Carta precisa ser ratificada num referendo nacional, ainda sem data marcada.
Logo após o anúncio, o secretário-geral de Santa Cruz, Roly
Aguilera, negou qualquer irregularidade no envio de informações e disse que a medida é
uma tentativa de "sabotar" o
referendo regional. "Nada nem
ninguém vai deter esse processo. Nenhum (...) processo totalitário vai paralisar toda uma
população", disse Aguilera. O
representante do governo de
Santa Cruz não soube, porém,
explicar se o departamento havia deixado de usar o Sigma.
Chamado
Já Morales aproveitou uma
cerimônia com a Marinha para
exortar os militares a defenderem a unidade do país. "Acima
de qualquer reivindicação setorial, regional, pessoal, vem primeiro a unidade do país. Faço
um chamado a todo o povo, inclusive às Forças Armadas, para defender a unidade do país."
Ontem à tarde, Morales esteve na cidade de Santa Cruz, onde visitou o Plan 3000, imensa
zona pobre formada por migrantes do altiplano e reduto de
simpatizantes do partido governista MAS (Movimento ao
Socialismo).
Em La Paz, o ministro de Governo, Alfredo Rada, chamou
de "farsa" um comunicado da
Embaixada dos EUA na Bolívia
no qual a representação diplomática nega que esteja apoiando o referendo autonômico. "É
claro que [os EUA] têm uma
posição, e seria bom que o embaixador [Philip Goldberg] fosse sincero", afirmou Rada, segundo a agência oficial ABI.
Anteontem, ao lado de Morales, o presidente venezuelano,
Hugo Chávez, acusou Washington de querer transformar
a Bolívia num novo Kosovo.
OEA
Em reunião extraordinária
em Washington, o Conselho
Permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos)
exortou ontem o governo e a
oposição "a iniciarem imediatamente o diálogo na Bolívia,
para evitar situações de risco
que comprometam a vigência
da democracia nessa nação sul-americana". O conselho se reúne novamente amanhã para
ouvir o chanceler boliviano,
David Choquehuanca.
Recém-chegado da Bolívia, o
secretário de Assuntos Políticos da OEA, Dante Caputo, disse, em informe sobre a situação
do país andino, que, à medida
que se aproxima o 4 de maio,
aumentam os riscos de que "a
tensão e as diferenças possam
se converter em enfrentamento e em violência".
Com agências internacionais
Próximo Texto: Colômbia: Governo pede investigação sobre elo entre Farc e políticos Índice
|