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ONU ataca boicote e vê ganhos em conferência
Alta comissária diz que reunião contra racismo virou alvo de desinformação
Para Navi Pillay, documento final avança na proteção aos imigrantes e trabalhadores; EUA, Israel e mais oito
países boicotaram encontro
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Após uma semana conturbada, marcada pela indignação
causada pela intervenção do
Irã, a Conferência contra o Racismo da ONU terminou com
duras críticas aos países que
boicotaram o encontro. Apesar
da polêmica, a maioria acha que
o consenso obtido em torno do
documento final evitou que a
política sequestrasse a agenda.
Ao fazer um balanço da conferência, a alta comissária de
direitos humanos da ONU, Navi Pillay, disse que enfrentou
uma "campanha de desinformação altamente organizada",
para esvaziar o encontro.
Mas destacou que o documento aprovado tem avanços
importantes, como a preocupação com os imigrantes e a discriminação no trabalho.
Ativistas brasileiros e estrangeiros concordaram que o texto
poderia ter ido mais longe, como na questão das reparações
pela escravidão e os direitos a
orientação sexual, mas que é
uma conquista.
O encontro de cinco dias em
Genebra foi uma revisão da
Conferência de Durban (África
do Sul), de 2001, quando o conflito no Oriente Médio e os ataques a Israel dominaram as discussões. Em protesto, Israel e
os EUA se retiraram.
Boicote
Desta vez os dois países optaram pelo boicote, sendo acompanhados de outros oito: Canadá, Alemanha, Itália, Holanda,
República Tcheca, Polônia, Nova Zelândia e Austrália. O argumento foi que o documento de
2009 "reafirma" o de 2001, o
qual não apoiaram por singularizar Israel.
Pillay disse que foram eliminadas as referências ao Oriente
Médio no texto para evitar uma
reedição de Durban, mas isso
não deteve a resistência de alguns países. "Muitos chamaram o processo inteiro de Durban de festa do ódio", disse a comissária. "Tivemos alguns momentos difíceis no processo,
mas festa do ódio? Desculpe,
mas é uma hipérbole."
A comissária considerou "bizarro" o comportamento de alguns dos países que boicotaram
a conferência, pois dois dias antes haviam aceitado o texto.
A referência é aos europeus,
que participaram da negociação do texto. "Eles terão que se
explicar com os outros países",
disse Pillay.
Irã
Ela foi mais comedida nas
críticas ao Irã, dizendo apenas
que mantém a posição expressa
após o agressivo discurso anti-Israel do presidente iraniano,
Mahmoud Ahmadinejad, na
abertura da conferência. Num
comunicado, Pillay considerou
a intervenção "completamente
inadequada".
Julie de Rivero, da Human
Rights Watch, acha que o saldo
é positivo. "A declaração põe a
liberdade de expressão no centro da luta contra o racismo,
condena o antissemitismo e toca em assuntos tabus em 2001,
como os imigrants ilegais", diz.
Outros lamentaram que a polêmica em torno de Ahmadinejad tenha roubado o show. "É
como no Brasil: o debate sobre
o racismo é sempre desviado
para outros assuntos", disse
Ronaldo dos Santos, do movimento quilombola.
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