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"Bomba demográfica" ameaça Israel, 62
À época de sua criação no pós-Guerra, país, que celebrou aniversário na semana passada, tinha um décimo da população atual
Se mantida ocupação de territórios palestinos, em uma década judeus deverão ser minoria na região que hoje é controlada por eles
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Israel celebrou na semana
passada 62 anos de independência com uma população dez
vezes maior do que quando foi
criado, mas sem respostas para
dilemas demográficos que devem moldar o caráter do Estado judaico nos próximos anos.
O primeiro e mais antigo se
refere ao chamado "conflito demográfico". Especificamente, à
previsão de que, dentro de uma
década, os judeus serão minoria no território controlado por
Israel, se mantida a ocupação
dos territórios palestinos.
Outro dilema emerge e tem
sido motivo de crescente preocupação no governo: quase metade das crianças israelenses
matriculadas neste ano letivo é
de famílias árabes ou judaicas
ultraortodoxas. São populações
com representação mínima na
economia e nenhuma contribuição na defesa do país.
Israel tem 7,58 milhões de
habitantes, quase dez vezes os
806 mil de 1948, o ano da independência, segundo disse o governo dias atrás. Do total, 5,7
milhões são judeus, ou 75,5%
da população. Pouco mais de
1,5 milhão é árabe, ou 20,4%. O
restante é formado por imigrantes que não foram registrados como judeus. Na comparação com o ano anterior, não há
grandes mudanças.
Mas estatísticas mais detalhadas indicam que as preocupações demográficas não se limitam ao conflito árabe-israelense. Na abertura do atual ano
letivo, em setembro de 2009,
48% dos estudantes do ensino
elementar em Israel foram matriculados em escolas judaicas
ultraortodoxas ou árabes. Em
2000, a proporção era de 39%.
Para muitos, isso significa
que logo a sociedade será diferente: a porção judaica secular
que fundou o país será minoria,
e os alicerces da defesa e da economia estarão ameaçados.
Árabes israelenses e judeus
ultraortodoxos são isentos do
serviço militar. Ambos têm menor presença no mercado de
trabalho. À medida que seu peso na sociedade cresce, conforme observou o articulista Aluf
Benn, no jornal "Haaretz", Israel enfrenta o risco iminente
de uma "implosão" econômica
e de segurança. "A sobrevivência do Estado judaico no longo
prazo depende de sua capacidade de reverter a tendência de
não participação de seus cidadãos ultraortodoxos e árabes",
argumenta Benn.
Embora lidere uma coalizão
com partidos ultraortodoxos, o
premiê Binyamin Netanyahu
reconhece o problema. Ele escalou um de seus principais assessores para estudar formas
de desarmar o que Benn chama
de "bomba-relógio social".
O desafio é mudar a tradição
que mantém mulheres árabes e
judeus ultraortodoxos longe do
mercado de trabalho. No primeiro caso por pressão social
e/ou falta de oportunidades; no
segundo, porque, para os ultraortodoxos, a prioridade são
os estudos religiosos.
De volta ao conflito, mantém-se o outro dilema: com as
altas taxas de natalidade da população árabe, a estimativa é
que até 2020 os judeus sejam
minoria na faixa de terra do rio
Jordão ao mar Mediterrâneo.
Previsões indicam que só é
possível manter um Estado judaico e democrático com uma
solução para a ocupação da Cisjordânia, onde vivem 2 milhões
de palestinos. Foi o que moveu
a retirada unilateral da faixa de
Gaza, em 2005.
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