São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2011

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Casamento motiva fanatismo, apatia e até alguma revolta

Muitos britânicos aproveitarão o enlace do príncipe William e de Kate Middleton, na sexta-feira, para viajar

Festas deverão ser mais numerosas em redutos do Partido Conservador; trabalhistas mostram empolgação bem menor

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Muitos vão dormir na rua para conseguir um bom lugar para ver o primeiro grande casamento da realeza britânica em 30 anos. Outros vão apenas aproveitar o feriadão para viajar.
Alguns vão fechar ruas e reunir os vizinhos para desejar longa e feliz vida aos prováveis futuros rei e rainha.
Uns poucos vão usar o dia 29 para protestar contra o que chamam de anacronismo: a monarquia. Gritarão, também em festas de rua, pela república.
Esse é o retrato da sociedade britânica às vésperas do casamento de William e Kate Middleton: fanatismo, indiferença e alguma revolta.
Numa comparação, é como o Carnaval. Para a mídia internacional, o Brasil todo fica nas ruas sambando do sábado até a Quarta-feira de Cinzas, quando na verdade muita gente não dá a menor bola para desfiles ou bailes.
No Reino Unido, é a mesma coisa. Muitos já viajaram para usufruir da sequência de feriados e da atípica primavera com temperaturas acima dos 20 graus.
Na Sexta-Feira Santa foi feriado, hoje também. Na próxima sexta, as empresas ficarão fechadas por causa do casamento, e na segunda-feira seguinte, dia 2, comemora-se o Dia do Trabalho.
Em Londres, o clima do casamento está concentrado mais no centro, onde há bandeiras por todo lado e arquibancadas e torres para acomodar emissoras de TV.
No resto do país, a "febre do casamento" está muitas vezes ligada à orientação política dos cidadãos.

DIVISÃO NA CULTURA
Uma análise dos locais que solicitaram permissão para fazer festas de rua mostra que redutos do Partido Conservador vão festejar.
Onde o Partido Trabalhista (mais republicano) elege seus parlamentares, não.
Liverpool, 400 mil habitantes, pediu permissão para fechar quatro ruas. Lá, o domínio é trabalhista.
Winchester (sudeste), com 41 mil habitantes, terá 23 ruas fechadas para festas. Lá, reinam os conservadores.
A divisão também se reflete na mídia. O jornal "Daily Telegraph" (pró-conservadores) dá a maior cobertura sobre os preparativos do casamento. As reportagens são quase sempre favoráveis.
O "Guardian", republicano, faz uma cobertura mais sóbria. A maioria dos colunistas zomba do oba-oba.
Na cultura, mais divisão. O cantor George Michael gravou a música "You and I (We Can Conquer the World)", de Stevie Wonder, em homenagem aos noivos.
O download da canção é gratuito. O músico apenas pede que as pessoas façam doação às instituições de caridade listados por Kate e William (eles não querem saber de faqueiros e afins).
Já o escritor Martin Amis disse que a família real é um bando de filisteus. Amis trabalha num novo romance, que se chamará "State of England" (O Estado da Inglaterra). Segundo ele, o livro será considerado seu "último insulto ao país".
E completa: "É sobre o declínio do meu país, sobre raiva, insatisfação, amargura".


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