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IRAQUE OCUPADO
Em discurso, presidente reafirma devolução da soberania, mas diz que EUA manterão número de soldados
Bush promete demolir prisão e prevê caos
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Acuado por uma queda sem
precedentes em sua popularidade
e pela situação de descontrole no
Iraque, o presidente dos EUA,
George W. Bush, prometeu ontem demolir a prisão iraquiana de
Abu Ghraib e previu mais "dias de
caos" no país ocupado.
No primeiro de uma série de
discursos que fará nas próximas
semanas, Bush defendeu a presença americana no Iraque e delineou um plano de cinco pontos
para o país. O primeiro será a entrega do "controle soberano" a
um governo iraquiano em 30 de
junho próximo.
"A ação de nossos inimigos nas
últimas semanas tem sido brutal.
Temos dias difíceis pela frente,
que parecem caóticos. Mas isso
não vai interromper o nosso progresso no Iraque", disse Bush, sob
aplausos, no Army War College,
na Pensilvânia.
O discurso foi transmitido ao vivo pelas principais emissoras dos
EUA e marcou o início da estratégia de Bush para tentar reverter
um quadro altamente desfavorável a pouco mais de cinco meses
da eleição americana.
"O Iraque é o "front" central na
guerra contra o terrorismo e um
recuo no país agora seria uma vitória do terror", disse Bush, tentando justificar a ação no Iraque,
que vem lhe custando forte queda
de popularidade.
"Nosso inimigos continuam
buscando armas de destruição em
massa e nosso sucesso no Iraque
será o caminho para uma América mais estável", disse.
Pesquisa da rede CBS divulgada
ontem revelou que apenas 41%
dos americanos aprovam o governo Bush, um recorde de baixa. Há
um ano, cerca de dois terços aprovavam seu trabalho.
Em relação ao Iraque, 61% se
posicionaram contra o modo como os EUA estão lidando com a
situação. Várias pesquisas divulgadas ontem por outros institutos
mostram que a queda na popularidade de Bush é generalizada.
Os problemas no Iraque e os casos de tortura vêm se sobrepondo
até às boas notícias que poderiam
ajudar Bush, como a recuperação
econômica e a criação de mais de
900 mil empregos neste ano.
Pior, Bush vem sendo associado
a outras más notícias, como a alta
da gasolina e das mensalidades de
planos de saúde e escolas.
Com a promessa de demolir a
prisão de Abu Ghraib, onde soldados norte-americanos torturaram iraquianos nos últimos meses, o presidente pretendeu dar
uma resposta tanto à opinião pública do Iraque quanto à dos EUA,
onde o caso ganhou forte predominância na mídia.
Bush afirmou também que os
EUA manterão suas tropas no
Iraque no nível atual (138 mil) o
tempo que for necessário. "Se
mais tropas forem necessárias, eu
as enviarei", disse o presidente.
Bush descreveu cinco medidas
para, segundo ele, ajudar o Iraque
a alcançar liberdade e democracia: dar soberania ao governo provisório, ajudar a estabelecer a segurança no país, seguir o trabalho
de reconstrução, estimular mais
apoio internacional e garantir
eleições nacionais livres.
"A tarefa da América não é apenas derrotar um inimigo, é fortalecer um governo livre, amigo e
representativo que sirva ao seu
povo e lute por ele", disse.
Nessa nova fase, afirmou Bush,
os EUA esperam contar com mais
apoio da comunidade internacional. "A despeito dos desentendimentos do passado, vários países
têm demonstrado a intenção de
nos ajudar no Iraque", disse, sem
especificar quais.
Bush também enfatizou que os
EUA vêm treinando e dando recursos à nova força de segurança
iraquiana e afirmou que serão
abertas representações diplomáticas em várias cidades do Iraque.
Segundo analistas ouvidos pela
Folha, os EUA deveriam agora internacionalizar o processo de
transição e se afastar o mais que
puderem do novo governo que
será apontado pelas Nações Unidas nas próximos semanas.
"A verdade é que perdemos o
controle. Qualquer que seja o plano, será apenas teoria, pois a situação no país e de falência", disse
Kenneth Pollack, diretor de pesquisas do Instituto Brookings e
ex-analista da CIA.
Shibley Telhami, especialista
em Oriente Médio da Universidade de Maryland, diz que os EUA
estão hoje em "uma situação de
absoluto descrédito".
"Todas as premissas para a
guerra foram reveladas falsas, até
mesmo a de que os EUA livraram
os iraquianos de um sádico torturador (Saddam Hussein). Até isso
ruiu após Abu Ghraib", afirmou.
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