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Nova moção na ONU expõe recuo dos EUA
DA REDAÇÃO
Correndo contra o relógio e
buscando chancela internacional
para uma situação que está fugindo ao seu controle, os EUA apresentaram ontem sua proposta para uma nova resolução da ONU
sobre o Iraque, co-patrocinada
pelo Reino Unido. Se aprovado, o
texto, que pode sofrer alterações,
endossaria a criação de um governo interino soberano mas manteria no país, por prazo indefinido,
as forças militares estrangeiras
sob comando americano.
Opositores da ocupação, como
a França e a Alemanha, exigem
que o documento estipule uma
data para a retirada das tropas.
Entretanto a versão proposta ontem prevê apenas uma data para a
revisão do mandato da força multinacional: um ano após a soberania iraquiana.
A votação ainda não foi marcada. Segundo diplomatas, ela só
deve ocorrer após a indicação do
novo governo iraquiano, prevista
para ocorrer em até 15 dias.
O chanceler britânico, Jack
Straw, disse esperar apoio unânime. "Como ocorreu com as resoluções anteriores, haverá um período de negociação. Precisamos
do apoio de todos no conselho."
Já o chanceler francês, Michel
Barnier, disse que a resolução não
pode ser "um cheque em branco"
entregue aos EUA, defendendo
que a estada das tropas estrangeiras só ocorra sob anuência do governo iraquiano. "Essas questões
[sobre a força multinacional] não
podem ficar obscuras nem serem
objeto de combinações paralelas,
das quais o Conselho de Segurança não participa. Sejamos claros,
essa resolução não será um cheque em branco", afirmou Barnier.
Na semana passada, o secretário
de Estado americano, Colin Powell, dissera que as tropas só ficariam no Iraque se o governo interino pedisse -algo que, segundo
ele mesmo, "deve ocorrer".
O texto submetido pelos EUA
ao Conselho de Segurança -no
qual França, China e Rússia, opositores da guerra, têm poder de
veto, assim como os EUA e o Reino Unido- ainda é a primeira
versão e por isso deve ser objeto
de negociações. Mas mesmo em
sua forma preliminar, ainda um
tanto vaga, a proposta mostra
uma maior disposição americana
para ceder em alguns pontos,
principalmente aumentando o
grau de soberania do governo interino a ser apontado pela ONU.
A receita obtida com a exportação de petróleo, por exemplo, hoje a cargo da coalizão ocupante,
passaria a ser administrada pelos
próprios iraquianos, com auxílio
de um conselho consultivo de especialistas estrangeiros que visa
dar transparência ao processo.
Um claro sinal de que a aprovação internacional da questão nunca foi tão importante para os EUA
-sobretudo com a corrida de
Washington para aplacar os danos em sua credibilidade deixados pelo escândalo da tortura de
iraquianos por seus soldados- é
que, das oito resoluções sobre o
Iraque aprovadas desde a invasão, nenhuma deu à ONU tamanha importância como essa.
Por exemplo: caberá ao enviado
especial da entidade ao Iraque,
Lakhdar Brahimi, indicar os
membros do governo interino,
ainda que essas indicações ocorram após consulta aos EUA. O organismo também deve contar
com uma força especial de segurança para proteger seus funcionários no país -medida bem-vinda após os dois atentados à sua
sede bagdali sofridos em 2003.
Ainda sobre as tropas multinacionais, o texto não deixa claro se
elas terão autoridade sobre as
Forças Armadas iraquianas, como os EUA sugeriram anteriormente. A proposta diz só que as
duas forças devem operar em
coordenação entre si e entre cada
uma e o governo interino. Além
disso, o texto fala que as tropas teriam autoridade para "tomar todas as medidas necessárias" para
manter a paz e a segurança.
A Constituição interina, ratificada em março, não é mencionada. Outra lacuna é a quem caberá
administrar as prisões iraquianas.
Com agências internacionais
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