São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2004

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AMÉRICA LATINA

Popularidade de presidente peruano atinge 6%, mas oposição hesita em apressar sua saída; mandato vai até 2006

Toledo está por um fio, dizem analistas

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Com sua popularidade em inéditos 6% de aprovação, o presidente peruano, Alejandro Toledo, corre sérios riscos de se ver obrigado a deixar o poder antes do fim de seu mandato caso o governo enfrente uma nova crise política. A oposição, no entanto, hesita em apressar sua saída.
Pesquisa de opinião do Grupo Apoyo divulgado na semana passada revelou o índice mais baixo de popularidade de Toledo desde que chegou à Presidência do país, em julho de 2001. Segundo esse instituto, desde fevereiro o presidente peruano tem apenas um dígito de aprovação.
Ainda de acordo com a pesquisa, 56% dos entrevistados defendem que Toledo renuncie ou seja afastado pelo Congresso. O levantamento ouviu 600 pessoas na região de Lima. A margem de erro é de quatro pontos percentuais.
Num sinal de preocupação, os governistas propuseram na semana passada um projeto de lei que tornaria mais difícil remover o presidente. Em vez da maioria simples prevista hoje, seria necessária a aprovação de dois terços do Congresso unicameral, composto por 120 membros.
A alta rejeição de Toledo aparentemente não tem fundo econômico -o PIB (Produto Interno Bruto) peruano tem crescido acima da média dos vizinhos-, mas na imagem pessoal do presidente, tido como mentiroso, encantado com o poder e pouco hábil politicamente.
Entre as imagens negativas de Toledo estão a fama de mentiroso -por demorar em reconhecer uma filha, por exemplo-, de mau administrador e de frívolo, para a qual contribui sua suposta predileção por uísque de rótulo azul.
Para Alfredo Torres, responsável pela pesquisa do Apoyo, uma nova crise política será fatal para Toledo: "Sem dúvida. Um caso de corrupção que afete pessoalmente Toledo daria o motivo exigido constitucionalmente para que o Congresso declare vaga a Presidência por incapacidade moral", disse à Folha.
O jornalista Gustavo Gorriti, que trabalhou na vitoriosa campanha presidencial de Toledo, é menos enfático, mas também vê risco de Toledo não chegar até o final do mandato, em 2006.
"É muito difícil dizer se o próximo golpe será de nocaute ou se, como Rocky Balboa, vai se recuperar e ganhar de seus oponentes. O que está muito claro é que ele se encontra numa situação precária", disse Gorriti, analista do Instituto de Defesa Legal.
A última crise de Toledo envolveu a demissão do então ministro do Interior, Fernando Rospigliosi, depois que o prefeito da cidade andina de Ilave foi linchado por uma multidão, em abril. O governo foi acusado de não ter agido a tempo para intervir na cidade, que continua sob tensão.

Oposição
Os principais partidos da oposição, no entanto, não tem se movimentado em favor da saída de Toledo, em parte por temer uma desestabilização do país.
"A oposição não está disposta a assumir tamanha responsabilidade, a não ser que o presidente se envolva numa situação de corrupção", disse a historiadora Cecilia Blondet, do Instituto de Estudos Peruanos.
"É muito importante preservar o Estado de Direito e cumprir o prazo constitucional, mas isso tampouco significa que a deterioração seja detida. A deterioração política pode continuar e esgotar-se até levar, por exemplo, à renúncia", disse o congressista Jorge Del Castillo, secretário-geral do Apra, o principal partido de oposição (do ex-presidente Alan García).

Preço político
Em declarações na semana passada, Toledo disse que está disposto a pagar o preço político de governar com responsabilidade, em alusão à pesquisa do Apoyo.
"Governar um país em transição, desinstititucionalizado, governar com responsabilidade a condução da economia, estou disposto a pagar esse preço político, sem cair no populismo", afirmou.
"Para mim, seria fácil aumentar minha popularidade se amanhã rompo com a disciplina fiscal, se gasto mais, dou comida, cozinhas, peixe, se gasto as reservas internacionais, assim aumento minha popularidade. Mas isso seria irresponsável", disse, em entrevista via satélite a um programa produzido nos Estados Unidos e difundido no Peru por uma TV a cabo.
Sobre o suposto consumo de álcool de Toledo, governistas têm afirmado que se trata de uma "lenda urbana".


Com agências internacionais


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