São Paulo, domingo, 25 de maio de 2008

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Colômbia diz que líder das Farc está morto

Ministro da Defesa cita relato de "fonte segura", mas não aponta causas; guerrilha não confirma condição de Manuel Marulanda

Bogotá afirma que grupo, debilitado após série de baixas, já nomeou Alfonso Cano, integrante de seu secretariado, o substituto

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O fundador e líder máximo das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Manuel "Tirofijo" Marulanda Velez, morreu há cerca de dois meses, pouco antes de completar 78 anos, anunciou ontem o governo colombiano. Até o fechamento desta edição, a guerrilha de esquerda não havia confirmado a informação.
A notícia foi dada inicialmente pelo ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, em entrevista à revista colombiana "Semana", atribuindo a informação a uma fonte "muito confiável" da inteligência.
Horas mais tarde, um comunicado do Ministério da Defesa confirmou a morte de Marulanda, que teria ocorrido no dia 26 de março último, por volta das 18h. As Farc já teriam inclusive nomeado seu substituto, Guillermo León Sáenz Vargas, conhecido pelo codinome Alfonso Cano e membro do secretariado da guerrilha.
Na entrevista, Santos disse que desconhecia a causa da morte, mas afirmou que nesse dia houve bombardeios onde o governo acredita que Marulanda estivesse escondido -uma região conhecida como La Uribe, área rural do Departamento de Meta (região central).
"Nessa época, houve três fortes bombardeio onde se pensava que estava "Tirofijo". A guerrilha diz que [a morte] foi de parada cardíaca. Não temos provas nem de uma coisa nem de outra", disse o ministro.
"Deve estar no inferno", declarou Santos à revista. Questionado sobre qual inferno seria, respondeu: "Para o qual vão todos os criminosos mortos".
No final do dia, David Moreno, porta-voz militar, disse que a única dúvida era sobre a causa da morte e desafiou as Farc a demonstrarem que a notícia era falsa. O site pró-Farc Anncol (Agência de Notícias Nova Colômbia), que tradicionalmente publica comunicados da guerrilha, dizia, até 20h50 de ontem (hora de Brasília), que não havia recebido nenhum comunicado do secretariado, "a única fonte verdadeira".
"Se morreu, sua passagem não terá sido estéril pela pátria grande de Bolívar, à diferença de outros, que nem serão recordados", diz a Anncol, sobre o anúncio feito por Santos.
Caso se confirme, terá sido a terceira morte de um dos oito membros do secretariado apenas neste ano. Antes de Marulanda, morreram seu número 2, Raúl Reyes, em ataque colombiano em território equatoriano, e Iván Rios, assassinado por seu próprio segurança.
Por outro lado, não é a primeira vez que a morte de Marulanda é anunciada. A primeira foi em 1965, no início das Farc. Em 1995, uma rádio anunciou a morte com base em suposta declaração de um membro do secretariado.

Farc sob pressão
As mortes de Reyes e Rios foram consideradas com um sinal de debilidade da guerrilha, que chegou a cerca de 17 mil guerrilheiros em 2002, início do governo de Álvaro Uribe, e hoje estaria reduzida a menos da metade. Desde sua fundação, em 1964, nenhum membro do secretariado das Farc havia sido morto ou capturado.
Em 2004, a jornalista Patricia Lara afirmou que Marulanda tinha câncer de próstata e estava em estado terminal.
As Farc, que chegaram ao auge de expansão territorial no início dos anos 2000, estão sob forte pressão militar desde que Uribe implantou sua política linha-dura, apoiado pelos EUA.
Nos últimos meses, além dos membros do secretariado, perdeu alguns de seus comandos médios, entre os quais Negro Acácio, responsável pelas finanças do grupo e por suas atividades de narcotráfico.
Uribe afirmou no fim da noite que o governo recebeu "chamadas" de chefes das Farc que estariam dispostos a se entregar e liberar os reféns, inclusive a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt.


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