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Colômbia diz que líder das Farc está morto
Ministro da Defesa cita relato de "fonte segura", mas não aponta causas; guerrilha não confirma condição de Manuel Marulanda
Bogotá afirma que grupo, debilitado após série de baixas, já nomeou Alfonso Cano, integrante de seu secretariado, o substituto
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O fundador e líder máximo
das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia),
Manuel "Tirofijo" Marulanda
Velez, morreu há cerca de dois
meses, pouco antes de completar 78 anos, anunciou ontem o
governo colombiano. Até o fechamento desta edição, a guerrilha de esquerda não havia
confirmado a informação.
A notícia foi dada inicialmente pelo ministro da Defesa,
Juan Manuel Santos, em entrevista à revista colombiana "Semana", atribuindo a informação a uma fonte "muito confiável" da inteligência.
Horas mais tarde, um comunicado do Ministério da Defesa
confirmou a morte de Marulanda, que teria ocorrido no dia
26 de março último, por volta
das 18h. As Farc já teriam inclusive nomeado seu substituto,
Guillermo León Sáenz Vargas,
conhecido pelo codinome Alfonso Cano e membro do secretariado da guerrilha.
Na entrevista, Santos disse
que desconhecia a causa da
morte, mas afirmou que nesse
dia houve bombardeios onde o
governo acredita que Marulanda estivesse escondido -uma
região conhecida como La Uribe, área rural do Departamento
de Meta (região central).
"Nessa época, houve três fortes bombardeio onde se pensava que estava "Tirofijo". A guerrilha diz que [a morte] foi de parada cardíaca. Não temos provas nem de uma coisa nem de
outra", disse o ministro.
"Deve estar no inferno", declarou Santos à revista. Questionado sobre qual inferno seria, respondeu: "Para o qual vão
todos os criminosos mortos".
No final do dia, David Moreno, porta-voz militar, disse que
a única dúvida era sobre a causa
da morte e desafiou as Farc a
demonstrarem que a notícia
era falsa. O site pró-Farc Anncol (Agência de Notícias Nova
Colômbia), que tradicionalmente publica comunicados da
guerrilha, dizia, até 20h50 de
ontem (hora de Brasília), que
não havia recebido nenhum comunicado do secretariado, "a
única fonte verdadeira".
"Se morreu, sua passagem
não terá sido estéril pela pátria
grande de Bolívar, à diferença
de outros, que nem serão recordados", diz a Anncol, sobre o
anúncio feito por Santos.
Caso se confirme, terá sido a
terceira morte de um dos oito
membros do secretariado apenas neste ano. Antes de Marulanda, morreram seu número
2, Raúl Reyes, em ataque colombiano em território equatoriano, e Iván Rios, assassinado
por seu próprio segurança.
Por outro lado, não é a primeira vez que a morte de Marulanda é anunciada. A primeira foi em 1965, no início das
Farc. Em 1995, uma rádio
anunciou a morte com base em
suposta declaração de um
membro do secretariado.
Farc sob pressão
As mortes de Reyes e Rios foram consideradas com um sinal de debilidade da guerrilha,
que chegou a cerca de 17 mil
guerrilheiros em 2002, início
do governo de Álvaro Uribe, e
hoje estaria reduzida a menos
da metade. Desde sua fundação, em 1964, nenhum membro
do secretariado das Farc havia
sido morto ou capturado.
Em 2004, a jornalista Patricia Lara afirmou que Marulanda tinha câncer de próstata e
estava em estado terminal.
As Farc, que chegaram ao auge de expansão territorial no
início dos anos 2000, estão sob
forte pressão militar desde que
Uribe implantou sua política linha-dura, apoiado pelos EUA.
Nos últimos meses, além dos
membros do secretariado, perdeu alguns de seus comandos
médios, entre os quais Negro
Acácio, responsável pelas finanças do grupo e por suas atividades de narcotráfico.
Uribe afirmou no fim da noite que o governo recebeu "chamadas" de chefes das Farc que
estariam dispostos a se entregar e liberar os reféns, inclusive
a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt.
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