São Paulo, domingo, 25 de maio de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / PLANO DE GUERRA

Obama colhe frutos de estratégia de campanha

Senador priorizou Iowa, obteve vitória na 1ª prévia e deslanchou para provável indicação

Plano inicial de democrata era se manter na disputa até o fim e pleitear vaga como candidato a vice, mas tática deu mais certo que previsto

Larry W. Smith - 20.mai.08/Efe
Obama e a mulher, Michelle, saúdam eleitores em Iowa

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A DES MOINES (IOWA)

Pouco antes de Barack Obama subir ao palco montado no centro de Des Moines, em Iowa, na terça-feira, o estrategista-chefe de sua campanha falou brevemente com jornalistas. Escaldado pela repercussão negativa da informação de que o senador anunciaria a vitória no comício daquela noite, David Axelrod disse apenas que "um ciclo se completava".
"Há 15 meses, no auge do inverno, foi neste grande Estado que demos os primeiros passos de uma jornada singular para mudar os Estados Unidos", diria o senador pouco depois. Naquela noite, ele ultrapassara a maioria absoluta dos delegados escolhidos por voto popular nesta fase da corrida democrata pela candidatura à sucessão de George W. Bush.
Entre o primeiro evento oficial da campanha -um bate-papo na casa de um casal, em Cedar Rapids, em Iowa, em fevereiro de 2007, que acabou atraindo 200 pessoas por conta da indiscrição de um deles para um jornalista- e o comício da semana passada, o senador novato e sua equipe de Chicago conseguiram bater a família mais poderosa das duas últimas décadas do Partido Democrata em vários quesitos.
Nenhum dos dois foi sagrado ainda o candidato oficial do partido, mas Obama está à frente de Hillary Clinton em número de delegados, superdelegados -membros do partido que votam sem vínculo com a escolha das urnas-, Estados ganhos, voto popular e dinheiro arrecadado. Agora, segundo relatos de pessoas ligadas ao comando da campanha, o senador se prepara para tomar também o comando nacional do partido de oposição.
É costume que o candidato indicado coloque no comitê central um de seus nomes para tocar a máquina, embora a direção oficial continue de direito com o presidente da agremiação, o ex-governador de Vermont e pré-candidato em 2004 Howard Dean. De forma discreta, Obama já despachou Paul Tewes para a operação.
Não por acaso, esse estrategista político foi o responsável pelo funcionamento da campanha de Obama em Iowa. Coube a ele dar o pontapé inicial que colocou para andar a "obamachine", a máquina Obama, como vem sendo chamada a estrutura montada pelo senador para chegar à Casa Branca.

Projeto vice
O plano inicial era fazer com que o candidato durasse pelo menos até o final da corrida com peso suficiente para pleitear o lugar de vice na chapa de Hillary, então tida como a candidata "inevitável". No meio do caminho, o time de Obama percebeu que poderia virar o jogo.
É o que contou à Folha seu biógrafo não-oficial, David Mendell, que aponta a ironia de que agora é Hillary quem está sendo cotada para vice em chapa encabeçada por Obama.
Um dos pontos mais importantes foi pensar a longo prazo. É conhecida a história de Bill Clinton ter perguntado, após os resultados inesperados da megavotação primária da Superterça, em fevereiro, sobre quem cuidava da Pensilvânia, cuja prévia seria em 22 de abril.
"Ainda não há operação na Pensilvânia", ouviu o ex-presidente, furioso. Já em dezembro de 2007, o quartel-general de Obama anunciava a abertura do comitê de Porto Rico, então programado para ser a sede da última fase da corrida, no dia 3 de junho -agora, adiantou a primária para o dia 1º.
O senador fez a primeira visita a Iowa em 2006, quando nem anunciara que concorreria. Obama, Axelrod e Tewes sabiam que uma vitória no lugar que abre oficialmente a temporada de prévias surpreenderia os adversários, poria o candidato no noticiário e seria útil na inevitável discussão racial, por ser um Estado com 95% de brancos. Em 3 de janeiro, ele venceu Hillary, na primeira de muitas vitórias nas 53 disputas que viriam a seguir.


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