São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2011

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MINHA HISTÓRIA JANETE VIEIRA HAILEY

Sobrevivi ao tornado

(...) A gente caminha e vê árvores arrancadas, conta brasileira que vive nos EUA

RESUMO A alagoana Janete Vieira Hailey, 39, mora há quase um ano em Joplin, a cidade mais atingida pelos tornados que atingiram os EUA no domingo passado, matando ao menos 122. Ela, o marido, o americano Gregory, e a única filha, Vicki Ann, 3, passaram os últimos dois dias na casa da cunhada, numa região menos atingida, mas queriam voltar ainda ontem para casa.

(...) Depoimento a
ÁLVARO FAGUNDES
DE NOVA YORK

A devastação foi muito grande aqui em Joplin, foi terrível: sirene durante a madrugada toda, helicópteros sobrevoando. São casas e lojas destruídas. O [supermercado] Wal-Mart e o Target [loja de departamentos] foram destruídos.
É irreal, a gente não consegue acreditar no que vê. A gente caminha e vê árvores arrancadas pela raiz, carros jogados e casas arrasadas.
Nem eu nem ninguém aqui na cidade tinha visto algo assim. Esse tornado foi o mais forte que já passou por aqui. Está todo mundo alarmado. A minha sogra tem 76 anos e disse que nunca viu um tornado desses. Eu nunca tinha passado por algo dessa dimensão.
Quando as sirenes começaram a tocar, eu não sabia que era algo perigoso. No primeiro toque, a minha sogra ficou um pouquinho assustada, mas, quando a tocou segunda vez, ela disse: "Janete, vamos para um lugar mais seguro que está vindo tempestade por aí".
A gente foi para o banheiro porque ela não pensava que era um tornado. Ninguém podia imaginar. Ficamos no banheiro por uns 20 minutos eu, ela, minha filha e o cachorro. A gente sentiu um tremor e ouviu um barulho muito forte. Ela disse que nunca tinha ouvido um trovão tão forte, mas, na verdade, era o tornado passando.
Quando a gente saiu de casa, não tinha mais energia e era uma bagunça só no jardim. Cadeiras todas viradas, uma fonte de água muito pesada também virada, e o quintal todo sujo, com pedaços de árvore e de madeira. Eu pensei: "Que vento forte".
A vizinha da frente estava muito nervosa, mas a gente não sabia por quê. Logo veio a explicação. Um senhor bateu na nossa porta pedindo uma caneta. Ele já tinha batido na vizinha e estava branco, nervoso. A gente perguntou se ele estava bem. E ele: "Vocês não estão sabendo? Está uma catástrofe a cidade, o tornado acabou com tudo".
A minha primeira preocupação foi saber do meu marido. Ele tinha ido à igreja, e eu fiquei em casa porque a minha menininha estava com o narizinho entupido.
Eu perguntei para o senhor se ele sabia da igreja batista. "Foi embora, acabou tudo", disse ele. Foi um choque, um desespero. Eu fui para casa rezar, e a minha filha falou para eu não me preocupar que o "daddy" [papai, em inglês] estava bem. Eu estava desesperada.
Uma hora depois ele apareceu em casa. Era outro homem. Ele estava todo preto, parecia que tinha saído da lama. As costas dele estavam todas machucadas.
Ele tinha sido retirado dos escombros da igreja. O teto caiu, mas ele ainda conseguiu voltar para casa a pé. Na hora em que começou a tocar a sirene, eles foram para a biblioteca, porém uma das pessoas que estava lá morreu.
Já o filho dele perdeu toda a casa. A mulher dele, a minha enteada, apareceu na TV contando a história. Ainda bem que tinha seguro, mas vai demorar para reconstruir, pelo menos uns seis meses.
A TV fala que existe a possibilidade de [acontecer] um novo tornado na região, mas não estou com medo mais, não. Não sei se eu estou anestesiada, mas é a verdade. Eu não acredito que um novo tornado vai acontecer, não tão grande como foi esse.
É claro que estou com saudade de todo mundo no Brasil, mas não pretendo voltar agora, vou seguir aqui em Joplin. Meu marido tem pressão alta severa, e a médica no Brasil disse que aqui há mais recursos para o tratamento.

FOLHA.com
Tornados deixam pelo menos mais 6 mortos em Oklahoma e Kansas
folha.com/mu920482


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