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VENEZUELA
Pérez diz que atuação estrangeira no plebiscito deve obedecer "a um certo condicionamento" e nega crise com o Brasil
Chávez aceita observadores, diz chanceler
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
O governo venezuelano apóia a
atuação de observadores internacionais no plebiscito de 15 de
agosto, que decidirá se o presidente Hugo Chávez deve ou não
sair do poder, desde que o Centro
Carter e a OEA (Organização dos
Estados Americanos) obedeçam
às regras da legislação eleitoral.
A afirmação é do chanceler Jesús Arnaldo Pérez, em entrevista
à Folha por e-mail e por telefone.
Na coleta de assinaturas realizada pela oposição em favor do plebiscito, críticas chavistas resultaram na saída do chefe da missão
da OEA. Várias dessas críticas foram repetidas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), tido como
majoritariamente pró-governo.
Folha - O governo venezuelano
fez duras críticas à OEA e ao Centro
Carter. Por quê?
Jesús Pérez - As críticas emanaram sobretudo do CNE, que constatou algumas extrapolações e a
falta de precisão com relação ao
papel que alguns observadores tinham de desempenhar. Nós estamos de acordo com o princípio da
transparência e a necessidade de
que exista uma observação internacional, mas que responda a um
certo condicionamento, normal
em todo tipo de observação, sobretudo quando a soberania do
país está em jogo. É importante
que os observadores tomem muito em conta que são convidados, e
devem se comportar como tal.
Folha - Quais extrapolações?
Pérez - Foi o que declarou o
CNE. Eram eles que estavam lidando com os observadores internacionais. Por exemplo, segundo o CNE, houve lugares em
que foram feitas visitas inesperadas. É muito importante saber o
número de pessoas convidadas,
especificar os lugares que têm de
ir, as opiniões, as coletivas de imprensa que vão dar. É uma série
de condições elementares.
Folha - O Brasil, que lidera o Grupo de Amigos da Venezuela,
apoiou os observadores internacionais, apesar das críticas do governo. Além disso, comanda uma missão da ONU no Haiti, cujo governo a
Venezuela não reconhece. Por fim,
Chávez cancelou sua viagem ao
Brasil para a Unctad. O que acontece nas relações bilaterais?
Pérez - Não há nada em particular, e poderíamos dizer que estão
em seu melhor momento. O presidente Chávez não foi a São Paulo porque tinha compromissos
internos que o impediram de sair
do país, já que ele enfrenta um
processo revogatório e considerou que cada minuto, cada segundo, cada hora de seu tempo deveria ser dedicado à organização do
trabalho político interno.
Folha - Os governos venezuelano
e americano têm trocado duras críticas nos últimos meses. Apesar
disso, os EUA são o maior comprador do petróleo do país. Existe risco
de a crise diplomática contaminar
as boas relações econômicas?
Pérez - O que você classifica de
crise diplomática eu diria que são
simplesmente dificuldades para
dirimir nossas diferenças pela via
diplomática, já que o que se tem
utilizado até agora são a diplomacia do microfone e informações
da imprensa. Mas tenho as mãos
abertas para concretizar uma relação mais fluida com os nossos
parceiros americanos.
Folha - A ONG Human Rights
Watch acusa o governo de desrespeitar a independência do Judiciário. Como o sr. vê essa acusação?
Pérez - É uma acusação infundada. O relatório apresentado se
omitiu em dizer que não é que vamos utilizar o Legislativo com
uma pequena maioria para nomear o Judiciário. Ele se esqueceu
-ou, pelo contrário, evitou- de
dizer que, em quatro oportunidades, dois terços da Assembléia
Nacional devem aprovar essas
nomeações e que apenas em última instância seria a maioria simples que faria a indicação dos integrantes do Supremo Tribunal de
Justiça (STJ).
Leia a íntegra da entrevista na
www.folha.com.br/041751
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