São Paulo, quinta-feira, 25 de junho de 2009

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Antes de eleição, Obama escreveu carta a aiatolá

Iraniano citou correspondência em discurso; após repressão, acenos foram congelados

EUA decidem reenviar um embaixador à Síria, após hiato de quatro anos, dando seguimento à política de reaproximação com região


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Antes das eleições presidenciais do último dia 12 no Irã, o presidente Barack Obama escreveu uma carta ao aiatolá Ali Khamenei, autoridade máxima daquele país. A menção à comunicação aparece no discurso que o líder supremo fez na última sexta-feira e passou despercebida pela mídia ocidental, embora pelo menos um site árabe a tenha citado.
"O presidente americano disse: "Nós estávamos esperando por um dia como esse para ver as pessoas nas ruas'", disse Khamenei, na sexta. "Algumas pessoas atribuíram esses comentários a Obama, e então eles [o governo americano] escrevem cartas para dizer "nós estamos prontos para ter conexões [com o Irã]", "nós respeitamos a República Islâmica" e, por outro lado, fazem esses comentários. Em quem nós devemos acreditar?"
Obama negou em sua entrevista coletiva de anteontem que tenha feito tais comentários celebrando a revolta de parte da população com os resultados das eleições iranianas. "Eles traduziram errado no Irã alguns comentários que eu fiz, sugerindo que eu estou dizendo aos manifestantes que saiam e protestem mais."
O democrata não mencionou a carta, mas sua revelação mostra que os dois líderes estão usando aparições públicas para mandar recados um ao outro. Já durante a campanha, às críticas do republicano John McCain de que Obama aceitava sentar-se para conversar com o iraniano Mahmoud Ahmadinejad sem precondições, o então candidato democrata respondia que o verdadeiro poder no Irã estava com os clérigos, e não com o presidente.
A existência da comunicação não foi negada nem confirmada pela Casa Branca. "Esse governo tem mostrado um desejo de falar com a liderança do Irã e tem procurado se comunicar com o povo iraniano de várias maneiras", disse o porta-voz, Robert Gibbs, que se recusou a dar mais detalhes além desse: "Não houve nenhuma comunicação com funcionários do governo iraniano depois das eleições" no Irã.
Segundo funcionários da Casa Branca ouvidos pelo jornal conservador "The Washington Times", o primeiro da mídia ocidental a publicar o caso, Obama falava do programa nuclear iraniano no texto e decidiu mandar a comunicação antes da realização das eleições iranianas, para não parecer que se imiscuía em assuntos internos do país, ponto que vem fazendo questão de reforçar.
De acordo com esses funcionários, toda comunicação foi congelada desde que o resultado das eleições iranianas passou a ser contestado nas ruas, e não há previsão de retomada.
Ontem, o porta-voz Gibbs disse também que tinham sido suspensos os convites feitos pelos EUA a diplomatas iranianos para que participassem das celebrações da Independência americana nas embaixadas do país no dia 4 de julho. Isso se dava, disse Gibbs, pela deterioração da situação interna do país e pelo fato de não ter havido resposta por parte do Irã. Os dois países não têm relações diplomáticas desde 1980.

Embaixador na Síria
Ontem ainda, a Casa Branca confirmou que mandará um embaixador à Síria, depois de quatro anos de ausência, como parte dos esforços de Barack Obama de insistir na via diplomática como maneira de engajar os países não aliados do Oriente Médio.
A Síria é o principal parceiro do Irã na região. Segundo o último relatório do Departamento de Estado, feito ainda sob George W. Bush, o país aparece como patrocinador de atividades e de grupos terroristas.


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