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Antes de eleição, Obama escreveu carta a aiatolá
Iraniano citou correspondência em discurso; após repressão, acenos foram congelados
EUA decidem reenviar um embaixador à Síria, após hiato de quatro anos, dando seguimento à política de reaproximação com região
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Antes das eleições presidenciais do último dia 12 no Irã, o
presidente Barack Obama escreveu uma carta ao aiatolá Ali
Khamenei, autoridade máxima
daquele país. A menção à comunicação aparece no discurso
que o líder supremo fez na última sexta-feira e passou despercebida pela mídia ocidental,
embora pelo menos um site
árabe a tenha citado.
"O presidente americano disse: "Nós estávamos esperando
por um dia como esse para ver
as pessoas nas ruas'", disse
Khamenei, na sexta. "Algumas
pessoas atribuíram esses comentários a Obama, e então
eles [o governo americano] escrevem cartas para dizer "nós
estamos prontos para ter conexões [com o Irã]", "nós respeitamos a República Islâmica" e,
por outro lado, fazem esses comentários. Em quem nós devemos acreditar?"
Obama negou em sua entrevista coletiva de anteontem que
tenha feito tais comentários celebrando a revolta de parte da
população com os resultados
das eleições iranianas. "Eles
traduziram errado no Irã alguns comentários que eu fiz,
sugerindo que eu estou dizendo
aos manifestantes que saiam e
protestem mais."
O democrata não mencionou
a carta, mas sua revelação mostra que os dois líderes estão
usando aparições públicas para
mandar recados um ao outro.
Já durante a campanha, às críticas do republicano John
McCain de que Obama aceitava
sentar-se para conversar com o
iraniano Mahmoud Ahmadinejad sem precondições, o então
candidato democrata respondia que o verdadeiro poder no
Irã estava com os clérigos, e não
com o presidente.
A existência da comunicação
não foi negada nem confirmada
pela Casa Branca. "Esse governo tem mostrado um desejo de
falar com a liderança do Irã e
tem procurado se comunicar
com o povo iraniano de várias
maneiras", disse o porta-voz,
Robert Gibbs, que se recusou a
dar mais detalhes além desse:
"Não houve nenhuma comunicação com funcionários do governo iraniano depois das eleições" no Irã.
Segundo funcionários da Casa Branca ouvidos pelo jornal
conservador "The Washington
Times", o primeiro da mídia
ocidental a publicar o caso,
Obama falava do programa nuclear iraniano no texto e decidiu mandar a comunicação antes da realização das eleições
iranianas, para não parecer que
se imiscuía em assuntos internos do país, ponto que vem fazendo questão de reforçar.
De acordo com esses funcionários, toda comunicação foi
congelada desde que o resultado das eleições iranianas passou a ser contestado nas ruas, e
não há previsão de retomada.
Ontem, o porta-voz Gibbs
disse também que tinham sido
suspensos os convites feitos pelos EUA a diplomatas iranianos
para que participassem das celebrações da Independência
americana nas embaixadas do
país no dia 4 de julho. Isso se
dava, disse Gibbs, pela deterioração da situação interna do
país e pelo fato de não ter havido resposta por parte do Irã. Os
dois países não têm relações diplomáticas desde 1980.
Embaixador na Síria
Ontem ainda, a Casa Branca
confirmou que mandará um
embaixador à Síria, depois de
quatro anos de ausência, como
parte dos esforços de Barack
Obama de insistir na via diplomática como maneira de engajar os países não aliados do
Oriente Médio.
A Síria é o principal parceiro
do Irã na região. Segundo o último relatório do Departamento
de Estado, feito ainda sob George W. Bush, o país aparece como patrocinador de atividades
e de grupos terroristas.
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