São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 2006

Próximo Texto | Índice

Rice impõe condições para cessar-fogo

Parlamentar em contato com Hizbollah rechaça termos; EUA anunciam pacote de US$ 30 milhões para reconstrução

Presidente do Parlamento quer troca de prisioneiros com Israel; secretária segue para Israel e depois para Roma, onde debaterá crise

DA REDAÇÃO

Embora tenha se declarado partidária de "um cessar-fogo sustentável" no Líbano, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, avançou muito pouco nessa direção com a visita-surpresa de cinco horas que fez a Beirute.
Rice chegou ontem ao Oriente Médio para discutir soluções para o conflito iniciado no último dia 12, quando Israel lançou uma ofensiva militar contra o Líbano em retaliação ao seqüestro de dois de seus soldados pelo grupo xiita Hizbollah. Desde então, o saldo de mortos superou 400 pessoas, mais de 380 delas do lado libanês. Ela se reuniu com o premiê libanês, Fouad Siniora, e com o presidente do Parlamento, Nabih Berri -circunstancialmente mais importante por ser o principal político da comunidade xiita e, por isso, homem de confiança do Hizbollah.
A secretária colocou duas condições prévias para o cessar-fogo: o grupo islâmico deve libertar os dois soldados e se retirar, com seus arsenais, para detrás de uma linha a ser traçada a 30 km da fronteira. Mas Berri rejeitou esse plano e afirmou que, em lugar dele, Israel precisaria negociar uma ampla troca de prisioneiros, e que a questão do Hizbollah seria decidida dentro de um diálogo entre as forças políticas e confessionais libanesas. Siniora disse a Rice que os bombardeios estavam fazendo com que seu país "recuasse 50 anos" e pediu que os EUA pressionassem Israel para um cessar-fogo incondicional. Os encontros de Rice com o primeiro-ministro e com o político xiita "foram bastante tensos", disse o jornal "Le Monde".
O fato de também terem sido inconclusivos explica a ausência de entrevistas coletivas ou de uma coreografia diplomática para efeitos de mídia. Segundo a BBC, a escala em Beirute não seguiu o roteiro esperado por Condoleezza Rice. Jornalistas presenciaram apenas os primeiros momentos amistosos do premiê com a secretária de Estado, quando ele a recebeu com três beijos no rosto, e ela o cumprimentou pela "coragem e determinação".

Pacote de ajuda
O governo americano anunciou ontem que contribuiria com US$ 30 milhões ao esforço humanitário para compensar a destruição de parte da infra-estrutura no sul do Líbano. O anúncio não foi feito pela comitiva de Rice. Ele partiu de diplomatas americanos em Israel.
David Welch, subsecretário de Estado para o Oriente Médio, disse que no pacote estariam 100 mil estojos de medicamentos e material de primeiros socorros, além de 20 mil cobertores. Mas, segundo Jan Egeland, coordenador de situações de emergência da ONU, o Líbano precisará de no mínimo US$ 100 milhões para satisfazer as carências mais urgentes.
De Beirute, Rice prosseguiu viagem a Jerusalém, onde ontem à noite jantou com a chanceler Tzipi Livni. A secretária de Estado deve se encontrar hoje com o premiê Ehud Olmert e com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Porta-vozes negaram que ela manteria contatos com representantes da Síria, país com o qual os EUA não têm relações diplomáticas. A Síria, apesar de ser uma ditadura laica, apóia o Hizbollah, ao lado do Irã.
Rice deverá viajar para a Malásia, por algumas horas, antes de se seguir para Roma, onde se instala na quarta-feira uma conferência internacional sobre o Líbano. Ontem, em Nova York, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que embarcaria à noite para a capital italiana, disse que os participantes do encontro deveriam assumir o compromisso de não se separar com as mãos vazias. Annan também disse que talvez enviasse um emissário à Síria. Em Israel, no entanto, o premiê Olmert disse que aquele país não tem estatura para se tornar interlocutor. Participarão da conferência de Roma, além da secretária de Estado americana, representantes do primeiro escalão da Rússia, Itália, Reino Unido, França, Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Canadá, Espanha, Turquia, União Européia e também da ONU.
O chefe da diplomacia européia, Javier Solana, disse que países do bloco se ofereceram para enviar contingentes ao sul do Líbano, mas que o fariam só se a iniciativa fosse amparada pelo Conselho de Segurança.

Blair
Em entrevista coletiva ontem à tarde, ao lado do premiê do Iraque, Nuri al Maliki, o britânico Tony Blair se viu na difícil posição de defender os ataques israelenses no Líbano enquanto seu convidado fazia críticas ao Estado judeu.
A reunião entre os dois premiês foi para tratar da situação iraquiana, mas, na conversa com a imprensa, o foco foi o Líbano. Cada vez mais pressionado pela opinião pública e pela imprensa britânica para que exija um cessar-fogo de Israel, Blair afirmou que isso "não seria nada além de palavras".


Colaborou MARCO AURÉLIO CANÔNICO , de Londres

Com agências internacionais


Próximo Texto: Norte-americano sempre fica do lado das operações de Israel, aponta pesquisa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.