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Rice impõe condições para cessar-fogo
Parlamentar em contato com Hizbollah rechaça termos; EUA anunciam pacote de US$ 30 milhões para reconstrução
Presidente do Parlamento quer troca de prisioneiros com Israel; secretária segue para Israel e depois para Roma, onde debaterá crise
DA REDAÇÃO
Embora tenha se declarado
partidária de "um cessar-fogo
sustentável" no Líbano, a secretária de Estado americana,
Condoleezza Rice, avançou
muito pouco nessa direção com
a visita-surpresa de cinco horas
que fez a Beirute.
Rice chegou ontem ao Oriente Médio para discutir soluções
para o conflito iniciado no último dia 12, quando Israel lançou
uma ofensiva militar contra o
Líbano em retaliação ao seqüestro de dois de seus soldados pelo grupo xiita Hizbollah.
Desde então, o saldo de mortos
superou 400 pessoas, mais de
380 delas do lado libanês.
Ela se reuniu com o premiê
libanês, Fouad Siniora, e com o
presidente do Parlamento, Nabih Berri -circunstancialmente mais importante por ser o
principal político da comunidade xiita e, por isso, homem de
confiança do Hizbollah.
A secretária colocou duas
condições prévias para o cessar-fogo: o grupo islâmico deve
libertar os dois soldados e se retirar, com seus arsenais, para
detrás de uma linha a ser traçada a 30 km da fronteira.
Mas Berri rejeitou esse plano
e afirmou que, em lugar dele,
Israel precisaria negociar uma
ampla troca de prisioneiros, e
que a questão do Hizbollah seria decidida dentro de um diálogo entre as forças políticas e
confessionais libanesas.
Siniora disse a Rice que os
bombardeios estavam fazendo
com que seu país "recuasse 50
anos" e pediu que os EUA pressionassem Israel para um cessar-fogo incondicional.
Os encontros de Rice com o
primeiro-ministro e com o político xiita "foram bastante tensos", disse o jornal "Le Monde".
O fato de também terem sido
inconclusivos explica a ausência de entrevistas coletivas ou
de uma coreografia diplomática para efeitos de mídia. Segundo a BBC, a escala em Beirute
não seguiu o roteiro esperado
por Condoleezza Rice.
Jornalistas presenciaram
apenas os primeiros momentos
amistosos do premiê com a secretária de Estado, quando ele a
recebeu com três beijos no rosto, e ela o cumprimentou pela
"coragem e determinação".
Pacote de ajuda
O governo americano anunciou ontem que contribuiria
com US$ 30 milhões ao esforço
humanitário para compensar a
destruição de parte da infra-estrutura no sul do Líbano. O
anúncio não foi feito pela comitiva de Rice. Ele partiu de diplomatas americanos em Israel.
David Welch, subsecretário
de Estado para o Oriente Médio, disse que no pacote estariam 100 mil estojos de medicamentos e material de primeiros
socorros, além de 20 mil cobertores. Mas, segundo Jan Egeland, coordenador de situações
de emergência da ONU, o Líbano precisará de no mínimo US$
100 milhões para satisfazer as
carências mais urgentes.
De Beirute, Rice prosseguiu
viagem a Jerusalém, onde ontem à noite jantou com a chanceler Tzipi Livni.
A secretária de Estado deve
se encontrar hoje com o premiê
Ehud Olmert e com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
Porta-vozes negaram que ela
manteria contatos com representantes da Síria, país com o
qual os EUA não têm relações
diplomáticas. A Síria, apesar de
ser uma ditadura laica, apóia o
Hizbollah, ao lado do Irã.
Rice deverá viajar para a Malásia, por algumas horas, antes
de se seguir para Roma, onde se
instala na quarta-feira uma
conferência internacional sobre o Líbano.
Ontem, em Nova York, o secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, que embarcaria à noite
para a capital italiana, disse que
os participantes do encontro
deveriam assumir o compromisso de não se separar com as
mãos vazias. Annan também
disse que talvez enviasse um
emissário à Síria. Em Israel, no
entanto, o premiê Olmert disse
que aquele país não tem estatura para se tornar interlocutor.
Participarão da conferência
de Roma, além da secretária de
Estado americana, representantes do primeiro escalão da
Rússia, Itália, Reino Unido,
França, Egito, Jordânia, Arábia
Saudita, Canadá, Espanha,
Turquia, União Européia e
também da ONU.
O chefe da diplomacia européia, Javier Solana, disse que
países do bloco se ofereceram
para enviar contingentes ao sul
do Líbano, mas que o fariam só
se a iniciativa fosse amparada
pelo Conselho de Segurança.
Blair
Em entrevista coletiva ontem à tarde, ao lado do premiê
do Iraque, Nuri al Maliki, o britânico Tony Blair se viu na difícil posição de defender os ataques israelenses no Líbano enquanto seu convidado fazia críticas ao Estado judeu.
A reunião entre os dois premiês foi para tratar da situação
iraquiana, mas, na conversa
com a imprensa, o foco foi o Líbano. Cada vez mais pressionado pela opinião pública e pela
imprensa britânica para que
exija um cessar-fogo de Israel,
Blair afirmou que isso "não seria nada além de palavras".
Colaborou MARCO AURÉLIO CANÔNICO , de
Londres
Com agências internacionais
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