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SUCESSÃO NOS EUA/ OBAMANIA
Obama quer estreitar laços com Europa
Democrata atrai platéia de 200 mil em Berlim em seu único ato público durante viagem que busca pontos em política externa
Candidato pede à Alemanha que envie mais soldados ao Afeganistão; discurso focou cooperação, Irã, terrorismo e até aquecimento global
RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BERLIM
Aguardado por uma multidão ansiosa de mais de 200 mil
pessoas, um Barack Obama
sorridente e aparentando serenidade subiu ao palco montado
em frente à Coluna da Vitória,
no centro de Berlim. Em sua
primeira visita à Alemanha como candidato à Presidência dos
EUA, o democrata apresentou
ontem as linhas gerais do que
seria sua política externa.
No único ato público de sua
viagem ao Oriente Médio e à
Europa, o senador usou a capital alemã como fio condutor.
"Foi nesta cidade que norte-americanos e alemães aprenderam a trabalhar juntos", disse
ele, dando o tom do discurso
que chamaria a Europa de principal parceiro dos EUA.
Aplaudido ao citar os aviões
norte-americanos que lançavam alimentos sobre a Berlim
destruída após a Segunda
Guerra (1939-45), Obama disse
que "está na hora de construir
novas pontes" entre países do
mundo todo, diante dos "muros" que ameaçam dividi-los.
"A queda do Muro de Berlim
[1989] trouxe novas esperanças. Mas essa proximidade
também trouxe novos perigos",
afirmou, lembrando que parte
dos planos para o 11 de Setembro foi traçada na Alemanha.
Se eleito, o democrata promete estabelecer uma parceria
mais estreita com o continente.
Mas ele exortou os europeus a
assumirem mais responsabilidades internacionais, como no
combate ao terrorismo e na
Guerra do Afeganistão, onde o
cenário se deteriora e os EUA
têm a maior parte das tropas da
Otan (aliança militar ocidental). "Precisamos de parceiros
que escutem uns aos outros,
que aprendam e, acima de tudo,
que confiem uns nos outros."
Em 40 minutos, Obama navegou por temas que iam da
guerra em Darfur, no Sudão, ao
aquecimento global e ao abismo entre países ricos e pobres.
O temor em relação ao programa nuclear do Irã também
foi citado. Para o candidato,
Europa e EUA precisam agir
juntos para convencer o país a
afastar-se de seus planos.
Ao fim dos aplausos, defendeu o fim da Guerra do Iraque.
"O mundo todo precisa ajudar
milhões de iraquianos a reconstruírem seu país, mesmo
que aumentemos a responsabilidade do governo iraquiano."
Encontro com Merkel
Os alemães aglomerados em
Berlim calaram quando Obama
evocou o combate à Al Qaeda e
aos extremistas do Taleban no
Afeganistão, que defende como
principal front do combate ao
terrorismo. "A guerra nunca é
bem-vinda. Reconheço as
enormes dificuldades no Afeganistão. Mas meu país e o de
vocês precisam assegurar o sucesso da missão da Otan", disse.
Os EUA pressionam a Alemanha a enviar mais soldados
ao Afeganistão, onde Berlim
tem hoje 3.500 homens. Nesta
semana, a chanceler Angela
Merkel disse que, apesar de limitar o contingente, mandaria
mais mil militares neste ano.
O encontro entre Merkel e
Obama, pela manhã, focou "a
amizade entre Alemanha e
EUA". "Foi um encontro muito
aberto e em boa atmosfera",
disse um porta-voz alemão.
Obama também se encontrou com o ministro alemão das
Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier. O social-democrata, conhecido por estar politicamente mais próximo de Obama que Merkel (do
partido conservador CDU), sublinhou a importância do reforço de uma parceria transatlântica, especialmente nas áreas
de ambiente e desarmamento.
Obamania
Ao fim do discurso, centenas
gritavam "Obama! Obama!" e
evocavam seu slogan, "Yes, we
can!" (sim, nós podemos).
Obama foi recebido com euforia por alemães de todas as
partes. "Eu sempre uso", disse a
aposentada Helga Unkrodt, 76,
mostrando orgulhosa uma camiseta com os dizeres "Obama
for President". "Sou velha, mas
não gosto de candidatos velhos.
E Obama tem um carisma e
uma história de vida incríveis.
Eu simplesmente precisava vê-lo", conta a alemã. "Mas não
gosto de guerras, como isso que
ele falou do Afeganistão."
Já Dirk Mirow, 41, diretor de
um conservatório em Kiel, pendurou uma placa no pescoço
com os dizeres "Obama para
chanceler", para fazer valer sua
insatisfação com a grande coalizão de governo da Alemanha.
"Obama é a esperança de um
mundo ocidental que se preocupa. Ele concretiza a esperança de que ele não vai apenas
modificar os EUA, mas a política em si ", diz o semanário "Der
Spiegel". Em pesquisa do instituto alemão TNS da semana
passada, 76% dos alemães preferem Obama a John McCain.
Leia discurso de Obama
www.folha.com.br/082061
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