São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/ OBAMANIA

Obama quer estreitar laços com Europa

Democrata atrai platéia de 200 mil em Berlim em seu único ato público durante viagem que busca pontos em política externa

Candidato pede à Alemanha que envie mais soldados ao Afeganistão; discurso focou cooperação, Irã, terrorismo e até aquecimento global

RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BERLIM

Aguardado por uma multidão ansiosa de mais de 200 mil pessoas, um Barack Obama sorridente e aparentando serenidade subiu ao palco montado em frente à Coluna da Vitória, no centro de Berlim. Em sua primeira visita à Alemanha como candidato à Presidência dos EUA, o democrata apresentou ontem as linhas gerais do que seria sua política externa.
No único ato público de sua viagem ao Oriente Médio e à Europa, o senador usou a capital alemã como fio condutor. "Foi nesta cidade que norte-americanos e alemães aprenderam a trabalhar juntos", disse ele, dando o tom do discurso que chamaria a Europa de principal parceiro dos EUA.
Aplaudido ao citar os aviões norte-americanos que lançavam alimentos sobre a Berlim destruída após a Segunda Guerra (1939-45), Obama disse que "está na hora de construir novas pontes" entre países do mundo todo, diante dos "muros" que ameaçam dividi-los.
"A queda do Muro de Berlim [1989] trouxe novas esperanças. Mas essa proximidade também trouxe novos perigos", afirmou, lembrando que parte dos planos para o 11 de Setembro foi traçada na Alemanha.
Se eleito, o democrata promete estabelecer uma parceria mais estreita com o continente. Mas ele exortou os europeus a assumirem mais responsabilidades internacionais, como no combate ao terrorismo e na Guerra do Afeganistão, onde o cenário se deteriora e os EUA têm a maior parte das tropas da Otan (aliança militar ocidental). "Precisamos de parceiros que escutem uns aos outros, que aprendam e, acima de tudo, que confiem uns nos outros."
Em 40 minutos, Obama navegou por temas que iam da guerra em Darfur, no Sudão, ao aquecimento global e ao abismo entre países ricos e pobres.
O temor em relação ao programa nuclear do Irã também foi citado. Para o candidato, Europa e EUA precisam agir juntos para convencer o país a afastar-se de seus planos.
Ao fim dos aplausos, defendeu o fim da Guerra do Iraque. "O mundo todo precisa ajudar milhões de iraquianos a reconstruírem seu país, mesmo que aumentemos a responsabilidade do governo iraquiano."

Encontro com Merkel
Os alemães aglomerados em Berlim calaram quando Obama evocou o combate à Al Qaeda e aos extremistas do Taleban no Afeganistão, que defende como principal front do combate ao terrorismo. "A guerra nunca é bem-vinda. Reconheço as enormes dificuldades no Afeganistão. Mas meu país e o de vocês precisam assegurar o sucesso da missão da Otan", disse.
Os EUA pressionam a Alemanha a enviar mais soldados ao Afeganistão, onde Berlim tem hoje 3.500 homens. Nesta semana, a chanceler Angela Merkel disse que, apesar de limitar o contingente, mandaria mais mil militares neste ano.
O encontro entre Merkel e Obama, pela manhã, focou "a amizade entre Alemanha e EUA". "Foi um encontro muito aberto e em boa atmosfera", disse um porta-voz alemão.
Obama também se encontrou com o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier. O social-democrata, conhecido por estar politicamente mais próximo de Obama que Merkel (do partido conservador CDU), sublinhou a importância do reforço de uma parceria transatlântica, especialmente nas áreas de ambiente e desarmamento.

Obamania
Ao fim do discurso, centenas gritavam "Obama! Obama!" e evocavam seu slogan, "Yes, we can!" (sim, nós podemos).
Obama foi recebido com euforia por alemães de todas as partes. "Eu sempre uso", disse a aposentada Helga Unkrodt, 76, mostrando orgulhosa uma camiseta com os dizeres "Obama for President". "Sou velha, mas não gosto de candidatos velhos. E Obama tem um carisma e uma história de vida incríveis. Eu simplesmente precisava vê-lo", conta a alemã. "Mas não gosto de guerras, como isso que ele falou do Afeganistão."
Já Dirk Mirow, 41, diretor de um conservatório em Kiel, pendurou uma placa no pescoço com os dizeres "Obama para chanceler", para fazer valer sua insatisfação com a grande coalizão de governo da Alemanha.
"Obama é a esperança de um mundo ocidental que se preocupa. Ele concretiza a esperança de que ele não vai apenas modificar os EUA, mas a política em si ", diz o semanário "Der Spiegel". Em pesquisa do instituto alemão TNS da semana passada, 76% dos alemães preferem Obama a John McCain.

Leia discurso de Obama www.folha.com.br/082061



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