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ÁFRICA
Tema étnico domina pleito
Ruanda tem 1ª eleição desde genocídio de 1994
DA REDAÇÃO
Nas eleições presidenciais de
hoje, a primeira desde o genocídio de 1994, Ruanda vai ser testada. O país africano vai dar uma
amostra de sua capacidade de ter
um regime democrático e de o
quanto se recuperou dos assassinatos de cerca de 800 mil pessoas.
A expectativa é de que o atual
presidente, Paul Kagame, 45, vença as eleições, que vão ter mais de
um candidato pela primeira vez
desde a independência, em 1962.
Tutsi, Kagame domina o cenário político desde que assumiu em
1994 o controle da capital, Kigali,
como o líder de um exército rebelde, encerrando o genocídio.
Ele tem melhorado a segurança
no país, reduzido a pobreza e esboçado um desenvolvimento econômico e uma reconciliação entre
as etnias tutsi e hutu. Seus críticos
dizem que governa Ruanda com
mão de ferro e duvidam de que as
eleições sejam democráticas.
Durante o final de semana, um
dos quatro candidatos, Alivera
Mukabaramba, desistiu de concorrer e pediu a seus partidários
que votem em Kagame. O comando da campanha dela alegou
que a decisão foi um protesto pelo
uso do apelo étnico por parte do
principal adversário do presidente, Faustin Twagiramungu.
Em 1994, radicais hutus mataram cerca de 800 mil tutsis e hutus
moderados num intervalo de apenas cem dias. Estima-se que mais
de 10% da população do país tenha sido dizimada. A etnia hutu é
majoritária em Ruanda.
O genocídio, considerado o
mais brutal da história para um
período tão curto, foi o ápice de
décadas de violência étnica, fomentada pelos colonizadores
com políticas preconceituosas.
Twagiramungu, um hutu moderado que combateu o genocídio, também é acusado por Kagame de estimular a divisão étnica.
Grupos de direitos humanos dizem que a Frente Patriótica Ruandesa, de Kagame, costuma usar o
termo segregacionismo contra
seus rivais. O presidente nega isso
e diz que não vai tolerar que a divisão étnica seja fomentada.
"Segregacionismo aqui é (...) tudo", afirmou Twagiramungu, 58.
"Se você não é da Frente Patriótica, você é um segregacionista."
O candidato, que fez parte do
primeiro governo formado pela
Frente Patriótica Ruandesa depois do genocídio, acusa o partido
de tentar desacreditá-lo e disse
que alguns de seus fiscais eleitorais foram presos anteontem.
A polícia alega que os 12 homens detidos estavam num bar
em Kigali preparando "atos de
violência e contra as eleições".
A presidência emitiu uma nota
ontem em que se mostra chocada
com um relatório da Anistia Internacional que aponta que a corrida eleitoral foi marcada por
ameaças e perturbação.
"A divulgação agora do relatório não poderia ser mais prejudicial, com sua intenção de desmerecer nossos avanços nos últimos
nove anos", afirma o texto.
Cerca de 3,9 milhões de pessoas
estão aptas a votar no país. Outras
10 mil que vivem no exterior deverão votar nas embaixadas.
Com agências internacionais
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