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São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2003

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ÁFRICA

Tema étnico domina pleito

Ruanda tem 1ª eleição desde genocídio de 1994

DA REDAÇÃO

Nas eleições presidenciais de hoje, a primeira desde o genocídio de 1994, Ruanda vai ser testada. O país africano vai dar uma amostra de sua capacidade de ter um regime democrático e de o quanto se recuperou dos assassinatos de cerca de 800 mil pessoas.
A expectativa é de que o atual presidente, Paul Kagame, 45, vença as eleições, que vão ter mais de um candidato pela primeira vez desde a independência, em 1962.
Tutsi, Kagame domina o cenário político desde que assumiu em 1994 o controle da capital, Kigali, como o líder de um exército rebelde, encerrando o genocídio.
Ele tem melhorado a segurança no país, reduzido a pobreza e esboçado um desenvolvimento econômico e uma reconciliação entre as etnias tutsi e hutu. Seus críticos dizem que governa Ruanda com mão de ferro e duvidam de que as eleições sejam democráticas.
Durante o final de semana, um dos quatro candidatos, Alivera Mukabaramba, desistiu de concorrer e pediu a seus partidários que votem em Kagame. O comando da campanha dela alegou que a decisão foi um protesto pelo uso do apelo étnico por parte do principal adversário do presidente, Faustin Twagiramungu.
Em 1994, radicais hutus mataram cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados num intervalo de apenas cem dias. Estima-se que mais de 10% da população do país tenha sido dizimada. A etnia hutu é majoritária em Ruanda.
O genocídio, considerado o mais brutal da história para um período tão curto, foi o ápice de décadas de violência étnica, fomentada pelos colonizadores com políticas preconceituosas.
Twagiramungu, um hutu moderado que combateu o genocídio, também é acusado por Kagame de estimular a divisão étnica.
Grupos de direitos humanos dizem que a Frente Patriótica Ruandesa, de Kagame, costuma usar o termo segregacionismo contra seus rivais. O presidente nega isso e diz que não vai tolerar que a divisão étnica seja fomentada.
"Segregacionismo aqui é (...) tudo", afirmou Twagiramungu, 58. "Se você não é da Frente Patriótica, você é um segregacionista."
O candidato, que fez parte do primeiro governo formado pela Frente Patriótica Ruandesa depois do genocídio, acusa o partido de tentar desacreditá-lo e disse que alguns de seus fiscais eleitorais foram presos anteontem.
A polícia alega que os 12 homens detidos estavam num bar em Kigali preparando "atos de violência e contra as eleições".
A presidência emitiu uma nota ontem em que se mostra chocada com um relatório da Anistia Internacional que aponta que a corrida eleitoral foi marcada por ameaças e perturbação.
"A divulgação agora do relatório não poderia ser mais prejudicial, com sua intenção de desmerecer nossos avanços nos últimos nove anos", afirma o texto.
Cerca de 3,9 milhões de pessoas estão aptas a votar no país. Outras 10 mil que vivem no exterior deverão votar nas embaixadas.


Com agências internacionais

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