São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Investigação independente vê responsabilidade indireta do comando militar dos EUA por abusos em Abu Ghraib

Relatório culpa Pentágono por torturas

"The Washington Post"
Detentos de Abu Ghraib, em Bagdá, deitam nus e colados uns aos outros no chão de corredor da prisão, sob olhar de outros presos


DA REDAÇÃO

Um relatório de investigação independente divulgado ontem responsabilizou toda a cadeia de comando americana, até o Pentágono, pelos abusos e as torturas contra iraquianos na prisão de Abu Ghraib, perto de Bagdá.
Segundo o relatório, os abusos eram práticas generalizadas, embora não autorizadas pelas autoridade militares, e foram produto da falta de liderança e de supervisão apropriadas na prisão.
Elaborado por um grupo de especialistas sob comando de James Schlesinger -ex-secretário da Defesa dos governos republicanos de Richard Nixon (1969-74) e Gerald Ford (1974-77)-, o documento concluiu pela inexistência "de uma política de maus-tratos promovida por altos funcionários ou autoridades militares".
Mas negou, como vem defendendo o governo de George W. Bush, que os abusos tenham sido apenas casos isolados. "Os abusos não eram apenas falhas de alguns indivíduos em seguir padrões conhecidos, e são mais do que a falha de alguns líderes em reforçar uma disciplina apropriada", diz o relatório, para depois concluir: "Há responsabilidade tanto institucional quanto pessoal nos mais altos níveis".
A investigação havia sido ordenada pelo secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, em maio. E é a primeira que culpa, mesmo que indiretamente, o alto comando do Pentágono pelo escândalo dos abusos na prisão.
O escândalo veio à tona em abril, com a divulgação de centenas de fotos nas quais os militares envolvidos aparecem intimidando, humilhando sexualmente, espancando e maltratando presos.
"Encontramos falhas fundamentais em todos os níveis de comando, desde os soldados até o Comando Central e o Pentágono. Essas falhas de liderança ajudaram a criar condições para que as práticas abusivas acontecessem", disse Tillie Fowler, do painel.
O relatório acusa o general Ricardo Sánchez, o mais alto comandante americano no Iraque à época, de falhar ao desconsiderar a extensão do problema. "Abu Ghraib estava seriamente superlotada e sem recursos."
Métodos interrogatórios na prisão eram "inadequados e deficientes". Mudanças nos procedimentos feitas por Rumsfeld entre dezembro de 2002 e abril de 2003 aumentaram a confusão sobre quais técnicas de interrogatório era permitidas ou não.
Técnicas "mais duras", desenvolvidas na base naval americana em Guantánamo (Cuba) e que deveriam ser usadas apenas com autorização expressa de Rumsfeld, eram empregadas em Abu Ghraib sem limitação.
"Os abusos foram atos de brutalidade e sadismo despropositado", diz o relatório. "Eles não faziam parte de interrogatórios autorizados nem estavam direcionados a alvos de inteligência. Eles representam um comportamento desviado e uma falha de disciplina e liderança militares."
"Mas sabemos que alguns dos abusos em Abu Ghraib ocorreram em sessões de interrogatórios e que eles aconteceram também em outros lugares." "Então os abusos não estavam limitados a apenas alguns indivíduos", disse Schlesinger.
Ao todo, estão sendo investigados 300 casos de maus-tratos cometidos em prisões sob controle americano, incluindo Guantánamo e Afeganistão. Em 66 deles, os abusos já foram comprovados.

Com agências internacionais

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