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Com medo, passageiros se recusam a embarcar
ISABELLE LIGNER
DA FRANCE PRESSE, EM PARIS
Psicose ou insegurança real?
Diante da multiplicação dos desastres mortais com aviões fretados, os passageiros de vôos charter não hesitam em se rebelar, e
muitos vêm se negando a embarcar em aparelhos desse tipo.
No domingo passado, temendo
por sua segurança, 136 franceses
se recusaram a embarcar num
vôo charter da empresa grega Alexandair, em Heraklion, na ilha de
Creta (sul da Grécia).
"O aparelho tinha feito um pouso de emergência em Milão na semana anterior", explicou um dos
passageiros, David Serero. "A impressão que dava era a de que se
encontrava em estado lamentável. Decidimos pedir outro avião
ou ser repatriados. Afinal, é nossa
vida que está em jogo."
Marc Chernet, da associação de
defesa das vítimas do acidente de
Sharm el Sheik (148 mortos em janeiro de 2004 num vôo charter
egípcio na península do Sinai), se
felicita com essa reação, que mostraria que "o consumidor está
despertando". A revolta de passageiros "abre uma nova página na
história da aviação civil", disse.
Os passageiros da Alexandair tinham na cabeça a hecatombe dos
últimos meses: 13 mortos no início de agosto quando um avião
tunisiano que fazia um vôo fretado caiu perto da Sicília; 121 mortos num avião cipriota perto de
Atenas em 14 de agosto; e, dois
dias depois, 160 mortos no acidente de um MD-82 de uma empresa colombiana na Venezuela.
A lembrança do desastre de
Sharm el Sheik também levou dez
passageiros franceses, em meados
de julho, a se negarem a embarcar
em Hurgada, Egito, em um aparelho McDonnell Douglas da companhia AMC Airlines. Em sua
chegada à França, o avião foi declarado em condições de voar.
O avião da Alexandair também
tinha a documentação em ordem,
fato que acabou deixando pouca
margem de manobra aos passageiros. "Acabamos sendo obrigados a embarcar no mesmo avião,
porque a operadora turística tinha documento dizendo que o
aparelho podia voar", disse Serero, criticando a falta de normas
globais de controle e as chamadas
"companhias fantasmas".
Um passageiro descreveu um
vôo da mesma empresa como
uma experiência de alto risco:
"Alguns assentos não tinham cinto de segurança, gotas de água
caíam sobre nós, havia manchas
de óleo. A própria aeromoça acabou admitindo que sentia medo".
Esse tipo de experiência acaba
por irritar cada vez mais consumidores, explica Evelyne Cojan,
diretora de uma grande agência
de viagens parisiense. "Cada vez
mais clientes chegam dizendo que
não querem vôos charter, que
preferem pagar mais caro."
Para Frédérique Phrunder, da
associação de defesa dos consumidores CLCV (iniciais, em francês, de "consumo, moradia e custo de vida"), a recusa em embarcar até há pouco tempo era comportamento individual, mas agora parece que assumiu uma forma
"mais coletiva e organizada".
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