São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

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Com medo, passageiros se recusam a embarcar

ISABELLE LIGNER
DA FRANCE PRESSE, EM PARIS

Psicose ou insegurança real? Diante da multiplicação dos desastres mortais com aviões fretados, os passageiros de vôos charter não hesitam em se rebelar, e muitos vêm se negando a embarcar em aparelhos desse tipo.
No domingo passado, temendo por sua segurança, 136 franceses se recusaram a embarcar num vôo charter da empresa grega Alexandair, em Heraklion, na ilha de Creta (sul da Grécia).
"O aparelho tinha feito um pouso de emergência em Milão na semana anterior", explicou um dos passageiros, David Serero. "A impressão que dava era a de que se encontrava em estado lamentável. Decidimos pedir outro avião ou ser repatriados. Afinal, é nossa vida que está em jogo."
Marc Chernet, da associação de defesa das vítimas do acidente de Sharm el Sheik (148 mortos em janeiro de 2004 num vôo charter egípcio na península do Sinai), se felicita com essa reação, que mostraria que "o consumidor está despertando". A revolta de passageiros "abre uma nova página na história da aviação civil", disse.
Os passageiros da Alexandair tinham na cabeça a hecatombe dos últimos meses: 13 mortos no início de agosto quando um avião tunisiano que fazia um vôo fretado caiu perto da Sicília; 121 mortos num avião cipriota perto de Atenas em 14 de agosto; e, dois dias depois, 160 mortos no acidente de um MD-82 de uma empresa colombiana na Venezuela.
A lembrança do desastre de Sharm el Sheik também levou dez passageiros franceses, em meados de julho, a se negarem a embarcar em Hurgada, Egito, em um aparelho McDonnell Douglas da companhia AMC Airlines. Em sua chegada à França, o avião foi declarado em condições de voar.
O avião da Alexandair também tinha a documentação em ordem, fato que acabou deixando pouca margem de manobra aos passageiros. "Acabamos sendo obrigados a embarcar no mesmo avião, porque a operadora turística tinha documento dizendo que o aparelho podia voar", disse Serero, criticando a falta de normas globais de controle e as chamadas "companhias fantasmas".
Um passageiro descreveu um vôo da mesma empresa como uma experiência de alto risco: "Alguns assentos não tinham cinto de segurança, gotas de água caíam sobre nós, havia manchas de óleo. A própria aeromoça acabou admitindo que sentia medo".
Esse tipo de experiência acaba por irritar cada vez mais consumidores, explica Evelyne Cojan, diretora de uma grande agência de viagens parisiense. "Cada vez mais clientes chegam dizendo que não querem vôos charter, que preferem pagar mais caro."
Para Frédérique Phrunder, da associação de defesa dos consumidores CLCV (iniciais, em francês, de "consumo, moradia e custo de vida"), a recusa em embarcar até há pouco tempo era comportamento individual, mas agora parece que assumiu uma forma "mais coletiva e organizada".


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