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EUA propõem parceria entre Brasil e Otan
Para o embaixador Clifford Sobel, o Brasil deve "assumir uma responsabilidade global, como já tem hoje no Haiti"
Proposta chega no rastro de preocupações quanto à influência da Venezuela na
região; para especialista, sugestão foi apenas política
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
O Brasil poderá estreitar a
colaboração com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e agir ao lado da organização como ator de uma
"parceria global" -ao menos
no que depender dos Estados
Unidos. A idéia foi sugerida ontem em São Paulo por Clifford
Sobel, embaixador americano
no Brasil, que afirmou também
que Brasília "poderá ajudar a
convencer outros países com
visões semelhantes a colaborar
com a Otan".
Criada em 1949 para se contrapor ao avanço da União Soviética, a Otan conta hoje com
26 países-membros ligados por
acordos militares de proteção
mútua e ação conjunta.
Em palestra ontem na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, Sobel disse que não há um modelo
para uma parceria com o Brasil,
mas citou como exemplos colaborações da Austrália e do Japão. "Isso não significa trazer
membros de fora do espaço euroatlântico para a aliança, mas
facilitar a ação de uma Otan
forte, que trabalha com parceiros globais."
Fator Chávez
Apesar da falta de apoio dos
EUA a parte das ambições brasileiras no cenário internacional -como uma cadeira permanente do país no Conselho
de Segurança da ONU-, o embaixador afirmou que é hora de
o Brasil agir globalmente. "Há
muitas democracias que já ajudam outros países e poderão
expandir seu papel. A questão é
assumir uma responsabilidade
global, como a que o Brasil tem
no Haiti [onde lidera a missão
das Nações Unidas]."
Na avaliação de Peter Hakim,
presidente do grupo de pesquisas Inter-American Dialogue
(diálogo interamericano), a fala
de Sobel tem valor mais político do que estratégico. "Os EUA
certamente buscam boas relações com o Brasil, que é visto
como alternativa à influência
da Venezuela. Mas não vejo nenhuma possibilidade de uma
aliança militar entre o Brasil e
Otan", afirmou Hakim à Folha,
por telefone, de Washington.
Já Jorge Zaverucha, coordenador do Núcleo de Estudos de
Instituições Coercitivas (NIC)
da Universidade Federal de
Pernambuco, disse que a proposta de colaboração está ligada ao "fator Chávez". "Os EUA
vêem que há uma corrida armamentista na Venezuela e
tentam atrair o Brasil para se
contrapor a este avanço." Ele
destacou que o presidente da
Venezuela, Hugo Chávez, tem
um projeto de poder para o
continente, o que seria visto na
proposta de alteração do nome
do Exército venezuelano para
Exército Bolivariano. Nesse
contexto, "o Brasil pode ser seduzido com parcerias de treinamento militar com a Otan".
Presente na palestra ontem,
o ex-embaixador brasileiro em
Londres Sérgio Amaral afirmou que é preciso estudar a
proposta de Sobel. Ele defendeu, porém, que as relações do
Brasil com os EUA vêm melhorando ao lado da deterioração
das relações dentro da América
Latina. "[O presidente da Bolívia], Evo Morales, jogou na lata
do lixo o mais promissor setor
de integração da América do
sul -o energético-, e Chávez
desencadeou uma corrida armamentista sem precedentes."
Índia e China
Além da parceria global, Sobel abordou as relações comerciais americanas com o Brasil e
a "necessidade de união em face do avanço da China e da Índia" -Washington vem pressionando os chineses a permitir a valorização de sua moeda,
de modo a reduzir seu superávit no comércio com os EUA.
"A China está atraindo US$ 1
bilhão em investimentos por
semana. Precisamos trabalhar
para criar aqui no hemisfério
ocidental um sistema comercial aberto, justo, previsível e
transparente."
Em resposta a Sobel, Rubens
Ricupero, ministro da Fazenda
do governo Itamar Franco, criticou a posição comercial americana. "O último projeto para a
agricultura da Câmara dos Representantes dos EUA é um retrocesso e devolveria todos os
subsídios contra os quais o Brasil lutou na Organização Mundial do Comércio", disse.
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