São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2007

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EUA propõem parceria entre Brasil e Otan

Para o embaixador Clifford Sobel, o Brasil deve "assumir uma responsabilidade global, como já tem hoje no Haiti"

Proposta chega no rastro de preocupações quanto à influência da Venezuela na região; para especialista, sugestão foi apenas política

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

O Brasil poderá estreitar a colaboração com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e agir ao lado da organização como ator de uma "parceria global" -ao menos no que depender dos Estados Unidos. A idéia foi sugerida ontem em São Paulo por Clifford Sobel, embaixador americano no Brasil, que afirmou também que Brasília "poderá ajudar a convencer outros países com visões semelhantes a colaborar com a Otan".
Criada em 1949 para se contrapor ao avanço da União Soviética, a Otan conta hoje com 26 países-membros ligados por acordos militares de proteção mútua e ação conjunta.
Em palestra ontem na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, Sobel disse que não há um modelo para uma parceria com o Brasil, mas citou como exemplos colaborações da Austrália e do Japão. "Isso não significa trazer membros de fora do espaço euroatlântico para a aliança, mas facilitar a ação de uma Otan forte, que trabalha com parceiros globais."

Fator Chávez
Apesar da falta de apoio dos EUA a parte das ambições brasileiras no cenário internacional -como uma cadeira permanente do país no Conselho de Segurança da ONU-, o embaixador afirmou que é hora de o Brasil agir globalmente. "Há muitas democracias que já ajudam outros países e poderão expandir seu papel. A questão é assumir uma responsabilidade global, como a que o Brasil tem no Haiti [onde lidera a missão das Nações Unidas]."
Na avaliação de Peter Hakim, presidente do grupo de pesquisas Inter-American Dialogue (diálogo interamericano), a fala de Sobel tem valor mais político do que estratégico. "Os EUA certamente buscam boas relações com o Brasil, que é visto como alternativa à influência da Venezuela. Mas não vejo nenhuma possibilidade de uma aliança militar entre o Brasil e Otan", afirmou Hakim à Folha, por telefone, de Washington.
Já Jorge Zaverucha, coordenador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas (NIC) da Universidade Federal de Pernambuco, disse que a proposta de colaboração está ligada ao "fator Chávez". "Os EUA vêem que há uma corrida armamentista na Venezuela e tentam atrair o Brasil para se contrapor a este avanço." Ele destacou que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tem um projeto de poder para o continente, o que seria visto na proposta de alteração do nome do Exército venezuelano para Exército Bolivariano. Nesse contexto, "o Brasil pode ser seduzido com parcerias de treinamento militar com a Otan".
Presente na palestra ontem, o ex-embaixador brasileiro em Londres Sérgio Amaral afirmou que é preciso estudar a proposta de Sobel. Ele defendeu, porém, que as relações do Brasil com os EUA vêm melhorando ao lado da deterioração das relações dentro da América Latina. "[O presidente da Bolívia], Evo Morales, jogou na lata do lixo o mais promissor setor de integração da América do sul -o energético-, e Chávez desencadeou uma corrida armamentista sem precedentes."

Índia e China
Além da parceria global, Sobel abordou as relações comerciais americanas com o Brasil e a "necessidade de união em face do avanço da China e da Índia" -Washington vem pressionando os chineses a permitir a valorização de sua moeda, de modo a reduzir seu superávit no comércio com os EUA.
"A China está atraindo US$ 1 bilhão em investimentos por semana. Precisamos trabalhar para criar aqui no hemisfério ocidental um sistema comercial aberto, justo, previsível e transparente."
Em resposta a Sobel, Rubens Ricupero, ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, criticou a posição comercial americana. "O último projeto para a agricultura da Câmara dos Representantes dos EUA é um retrocesso e devolveria todos os subsídios contra os quais o Brasil lutou na Organização Mundial do Comércio", disse.

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