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SUCESSÃO NOS EUA / FERIDA ABERTA
Hillary ameaça aguar a festa de Obama
Descontente por não ter sido avisada de escolha de Biden como vice, ex-primeira-dama discursa amanhã na convenção democrata
McCain aproveita mal-estar e faz anúncio com críticas da senadora a ex-adversário, cortejando democratas insatisfeitos com escolha
Chris Wattie/Reuters
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Retrato gigante de Obama em frente a montanha-russa de Denver, cidade que sedia a partir de hoje convenção do Partido Democrata |
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A DENVER
A semana que foi planejada
para ser a da coroação de Barack Obama como o candidato
do Partido Democrata à Presidência dos EUA e de demonstrações coreografadas de união
da agremiação em torno de seu
nome começa a apresentar
suas primeiras fissuras. A origem é Hillary Clinton.
Os indícios são vários. Primeiro, as reclamações que chegaram ao público via assessores
da ex-primeira-dama de que
ela teria se ressentido por não
ter sido avisada antes que Obama havia optado pelo senador
Joe Biden como vice. Depois, a
maneira como vem tratando o
dia de seu discurso na convenção democrata, amanhã, com
equipe própria e sem interferência do comando democrata.
Por fim, os protestos que seus
apoiadores prometem fazer.
Numa teleconferência em
que falou com seus delegados
recentemente, a senadora foi
indagada sobre a possibilidade
de vir a ser vice de Obama. Respondeu que a decisão estava
nas mãos do senador e não descartou a possibilidade, apesar
de considerá-la remota.
O fato é que Hillary esperava
deferência maior do ex-rival
pela indicação democrata. "É
fácil enxergar isso como desrespeito, e alguns clintonistas
vão fazê-lo", disse o estrategista
político James Carville.
A campanha do republicano
John McCain percebeu o mal-estar e procura capitalizá-lo. Às
3 da manhã de ontem, entrou
no ar anúncio que diz que Hillary foi "passada para trás" na
escolha para vice. "Ela ganhou
milhões de votos, mas não está
na chapa. Por quê? Por falar a
verdade." Segue uma série de
críticas feitas por Hillary a
Obama durante as primárias.
O público-alvo de McCain
são os 18 milhões de eleitores
que votaram em Hillary nas
primárias democratas. O horário do lançamento brinca com
anúncio negativo a Obama que
a campanha de Hillary exibiu
na TV, durante as primárias,
que mostrava um telefone tocando de madrugada na Casa
Branca e insinuava que Obama
era inexperiente para o cargo.
Tão logo o ataque de McCain
entrou no ar, o escritório da senadora soltou e-mail em resposta. "O apoio de Hillary a
Obama é claro. Ela tem dito repetidamente que eles compartilham o compromisso de mudar a direção do país, tirando-nos do Iraque e aumentando o
acesso à saúde pública. Interessante como esses comentários
não entraram no anúncio."
A divisão também foi negada
pela campanha de Obama. "Ele
teve uma excelente conversa
com a senadora nesta semana,
assim como com o ex-presidente Bill Clinton, e todos estão a
bordo [da campanha]", disse o
porta-voz Robert Gibbs.
Apesar da retórica oficial, parece claro que as feridas entre
as duas campanhas ainda não
estão curadas. Bill Clinton confirmou que falaria na convenção apenas na madrugada de
ontem. Em entrevista recente,
se recusou a dizer se Obama estava preparado para ser presidente. Na quarta passada, o irmão caçula de Hillary, Tony
Rodham, se encontrou com
uma das principais assessoras
econômicas de McCain.
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