São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / FERIDA ABERTA

Hillary ameaça aguar a festa de Obama

Descontente por não ter sido avisada de escolha de Biden como vice, ex-primeira-dama discursa amanhã na convenção democrata

McCain aproveita mal-estar e faz anúncio com críticas da senadora a ex-adversário, cortejando democratas insatisfeitos com escolha

Chris Wattie/Reuters
Retrato gigante de Obama em frente a montanha-russa de Denver, cidade que sedia a partir de hoje convenção do Partido Democrata


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A DENVER

A semana que foi planejada para ser a da coroação de Barack Obama como o candidato do Partido Democrata à Presidência dos EUA e de demonstrações coreografadas de união da agremiação em torno de seu nome começa a apresentar suas primeiras fissuras. A origem é Hillary Clinton.
Os indícios são vários. Primeiro, as reclamações que chegaram ao público via assessores da ex-primeira-dama de que ela teria se ressentido por não ter sido avisada antes que Obama havia optado pelo senador Joe Biden como vice. Depois, a maneira como vem tratando o dia de seu discurso na convenção democrata, amanhã, com equipe própria e sem interferência do comando democrata. Por fim, os protestos que seus apoiadores prometem fazer.
Numa teleconferência em que falou com seus delegados recentemente, a senadora foi indagada sobre a possibilidade de vir a ser vice de Obama. Respondeu que a decisão estava nas mãos do senador e não descartou a possibilidade, apesar de considerá-la remota.
O fato é que Hillary esperava deferência maior do ex-rival pela indicação democrata. "É fácil enxergar isso como desrespeito, e alguns clintonistas vão fazê-lo", disse o estrategista político James Carville.
A campanha do republicano John McCain percebeu o mal-estar e procura capitalizá-lo. Às 3 da manhã de ontem, entrou no ar anúncio que diz que Hillary foi "passada para trás" na escolha para vice. "Ela ganhou milhões de votos, mas não está na chapa. Por quê? Por falar a verdade." Segue uma série de críticas feitas por Hillary a Obama durante as primárias.
O público-alvo de McCain são os 18 milhões de eleitores que votaram em Hillary nas primárias democratas. O horário do lançamento brinca com anúncio negativo a Obama que a campanha de Hillary exibiu na TV, durante as primárias, que mostrava um telefone tocando de madrugada na Casa Branca e insinuava que Obama era inexperiente para o cargo.
Tão logo o ataque de McCain entrou no ar, o escritório da senadora soltou e-mail em resposta. "O apoio de Hillary a Obama é claro. Ela tem dito repetidamente que eles compartilham o compromisso de mudar a direção do país, tirando-nos do Iraque e aumentando o acesso à saúde pública. Interessante como esses comentários não entraram no anúncio."
A divisão também foi negada pela campanha de Obama. "Ele teve uma excelente conversa com a senadora nesta semana, assim como com o ex-presidente Bill Clinton, e todos estão a bordo [da campanha]", disse o porta-voz Robert Gibbs.
Apesar da retórica oficial, parece claro que as feridas entre as duas campanhas ainda não estão curadas. Bill Clinton confirmou que falaria na convenção apenas na madrugada de ontem. Em entrevista recente, se recusou a dizer se Obama estava preparado para ser presidente. Na quarta passada, o irmão caçula de Hillary, Tony Rodham, se encontrou com uma das principais assessoras econômicas de McCain.


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