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Bases importam problemas, diz Amorim
Presença de forças americanas na Colômbia "pode trazer para a região problemas que não são dela", afirma chanceler
Brasileiro recebeu ontem colega equatoriano antes de reunião da Unasul que vai discutir acordo entre Bogotá
e Washington, na sexta
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Apesar de "oferecer os préstimos" do Brasil para reduzir o
nível de tensão dos países da
América do Sul em função do
novo acordo militar entre os
EUA e a Colômbia, o chanceler
Celso Amorim repetiu ontem a
crítica à presença de tropas
americanas em bases colombianas, que pode atrair para a
América do Sul "problemas que
não são da região".
"A presença de uma força de
fora da região pode trazer para
dentro da região, independentemente de outros problemas
já existentes, problemas que
não são da região", disse ele, ao
lado do colega Fander Falconí,
do Equador -país que suspendeu as relações diplomáticas
com a Colômbia e é um dos
mais críticos ao acordo militar
entre Washington e Bogotá.
Apesar da forma tortuosa,
Amorim deixou claro, assim,
que o Brasil não recuou nem
amenizou suas críticas ao acordo de Washington com Bogotá
para abaixar a temperatura e
favorecer um desfecho apaziguador na segunda reunião da
Unasul (União de Nações Sul-Americanas) centrada na questão, que será realizada na próxima sexta-feira, em Bariloche,
Argentina.
Falconí, ao contrário, falou
todo o tempo da entrevista
num tom que, se não foi conciliador, também não foi ácido
nem de provocação contra a
Colômbia. Classificou de "legítima preocupação" as críticas
ao uso de bases colombianas
pelos americanos, mas disse
que "não se trata de colocar
ninguém no banco dos réus".
Tanto Amorim quanto Falconí concordaram com os termos colocados pelo presidente
da Colômbia, Álvaro Uribe, para debater a questão em conjunto. Ele não foi à última reunião da Unasul, em Quito, mas
confirmou a ida à próxima, desde que a pauta não se resuma às
bases colombianas.
Uribe quer que os 12 presidentes da região possam discutir temas variados relativos à
segurança, como, por exemplo,
eventuais relações dos vizinhos
com as Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia)
e até a "aliança estratégica" do
Brasil com a França.
"Não temos nada a esconder.
Mas há uma diferença entre fazer um acordo de compra de
equipamentos e de treinamento [como no caso do Brasil com
a França] e a presença militar
estrangeira no seu território,
mesmo que o objetivo declarado seja de combate ao narcotráfico e ao terrorismo na Colômbia", disse Amorim.
Referia-se ao contrato que os
governos do Brasil e da França
vão assinar no dia 7 de setembro, para a compra de submarinos e helicópteros e para um
projeto de construção de um
submarino de propulsão nuclear no Rio. A França disputa
também a venda de aviões de
caça para a FAB (Força Aérea
Brasileira).
Amorim acrescentou que o
uso de bases por forças externas é diferente também das
manobras militares que o Brasil desenvolve em conjunto
com os parceiros do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul). "Se
perguntarem, daremos as explicações. Não é nenhum segredo, e não vejo nada de mal em
falar sobre isso."
Falconí disse que o Equador
recebeu, na condição de presidente pro-tempore da Unasul,
um comunicado da Colômbia
propondo um conjunto de temas para a reunião de sexta, inclusive sobre tráfico de armas
-a Colômbia questiona a Venezuela por armas de seu Exército que foram encontradas
com as Farc- e trata a questão
naturalmente.
Segundo ele, "nenhum tema
é vetado, devemos tratar de todos os temas referentes a segurança na reunião e, se for o caso, no Conselho de Defesa Sul-Americano [vinculado à Unasul], que é o foro para isso".
Nesse momento, Amorim
balançou afirmativamente a
cabeça e foi preciso: "De acordo". A proposta de arrastar a
discussão para o Conselho de
Defesa foi feita pelo Brasil, e o
ministro Nelson Jobim (Defesa) está no Equador e na Colômbia, entre ontem e hoje, justamente para tentar fechar a
ideia com os dois lados.
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