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Argentina quer controlar papel-jornal
Presidente Cristina Kirchner diz que enviará projeto transformando insumo em setor "de interesse nacional"
Em guerra com a mídia, governo tentará anular compra de fábrica pelos jornais "Clarín" e "La Nación" nos anos 70
Marcos Brindicci/Reuters
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Cristina Kirchner, durante o anúncio, sob quadro do ex-presidente argentino Juan Perón
GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
Em guerra com a imprensa
de seu país, a presidente da
Argentina, Cristina Kirchner,
anunciou ontem que apresentará um projeto de lei para transformar a produção e a
comercialização de papel-jornal em setor "de interesse
nacional".
A intenção do governo é
criar um marco regulatório
específico, que estabeleceria
uma comissão parlamentar
para fiscalizar as operações
da empresa Papel Prensa,
única produtora nacional de
papel-jornal.
Conforme as normas sugeridas por Cristina, a fábrica
seria obrigada a oferecer as
mesmas quantidades e preços a todos os jornais do país.
A Papel Prensa produz três
quartos do papel-jornal consumido no país e é parcialmente controlada pelos jornais "Clarín" (com 49% das
ações) e "La Nación"
(22,49%), críticos do governo. Outros 27,46% são do Estado argentino.
O governo acusa os dois
jornais de exercerem hegemonia no mercado por terem
vantagens competitivas, como preço e disponibilidade,
sobre os demais veículos.
O projeto de lei também
quer estimular o aumento da
produção nacional para que
a Argentina não precise mais
importar papel-jornal.
Segundo Cristina, o Estado, como sócio minoritário,
está disposto a investir na Papel Prensa para aumentar
sua capacidade, mas sem aumentar sua fatia do capital.
No mesmo evento, Cristina
afirmou que processará os
dois jornais por crimes contra a humanidade supostamente vinculados à negociação da participação na Papel
Prensa, nos anos 70.
A presidente apresentou
ontem um relatório que acusa os dois veículos de terem
comprado sua parte, em
1976, com ajuda do regime
militar.
Conforme o governo, os
membros da família Graiver
-antigos sócios majoritários
da Papel Prensa- eram perseguidos e sofriam pressões
dos militares na época em
que transferiram suas ações.
Segundo Cristina, o consórcio formado por "Clarín",
"La Nación" e "La Razón"
(este último extinto) se aproveitou da fragilidade da família para comprar as ações e
pagou um valor quatro vezes
menor à cotação de mercado.
Apenas cinco dias depois
de assinar o último contrato
de venda, a matriarca da família Graiver, Lidia Papaleo,
foi presa e acusada de subversão.
Hoje, Papaleo afirma que
foi pressionada por executivos dos jornais e por militares para que vendesse as
suas ações.
O documento lido ontem
pela presidente será apresentado à Justiça junto com a denúncia de crimes contra a
humanidade para tentar
anular a negociação.
Em editoriais ontem, os
jornais afirmaram que o governo está "inventando uma
história" para se apropriar da
Papel Prensa e, assim, aumentar seu controle sobre os
meios de comunicação. Hoje,
170 jornais do país compram
o papel da empresa.
Os dois veículos dizem que
os membros da família Graiver só começaram a ser perseguidos seis meses após a
transação.
O regime os prendeu e torturou depois de descobrir
que eles administravam o dinheiro da guerrilha argentina Montoneros.
Segundo os dois jornais,
Papaleo foi cooptada pelo
atual governo e alterou sua
versão anterior dos fatos, que
nunca havia vinculado a
venda da empresa à repressão militar.
Há mais de um ano, o "Clarín" e o "La Nación" afirmam
que Cristina quer se apropriar da fábrica de papel-jornal e que seus funcionários
cometem abusos em reuniões da direção da empresa.
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