São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2011

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ANÁLISE

Líbia lembra Iraque, mas há chance de história ser outra

Potências trabalham com rebeldes para evitar instabilidade como em Bagdá


É VERDADE QUE OS REBELDES PECAM PELO EXCESSO DE AUTOCONFIANÇA, MAS ELES FORAM CONFIRMADOS EM VÁRIOS PONTOS IMPORTANTES


SHASHANK JOSHI
DO "GUARDIAN"

Se os generais travam a derradeira guerra, diplomatas preparam a derradeira paz. A sombra do caos do pós-guerra no Iraque se estende sobre o interregno na Líbia.
Mas é o receio de caos urbano que constitui um dos motivos de otimismo cauteloso no momento em que o (CNT) Conselho Nacional de Transição, o organismo político dos rebeldes, se prepara para fazer a transição de rebelião para governo.
Reino Unido e França sabem que um processo mal administrado seria uma catástrofe de política externa. Por isso, dezenas de assessores estrangeiros trabalham com os rebeldes para fazer frente a problemas como os que assolaram Bagdá após a guerra.
Apesar do retrato de cartum feito dos rebeldes, mostrando-os como uma turba displicente, o planejamento para o "dia seguinte" provavelmente está sendo maior que o dos americanos em 2003.
É verdade que os rebeldes pecam pelo excesso de autoconfiança. Após várias declarações falsas ou exageradas, suas afirmações merecem ser recebidas com ceticismo.
Mas eles foram confirmados em vários pontos importantes, como o êxito de seus acordos previamente fechados para que a crucial Brigada Mohammed Megrayef ficasse de lado na queda de Trípoli, o que evitou derramamento de sangue considerável.
Dando mostras de prudência, o CNT prometeu trabalhar com a força policial existente e lhe ordenou retornar às ruas -teste máximo para saber se um organismo criado a 800 km de distância poderá apropriar-se de estruturas de governo já existentes.
Restam falhas tectônicas mais profundas. Os berberes, minoria étnica não árabe que se encarregou de boa parte dos combates decisivos, sofreram décadas de repressão.
O CNT precisa encontrar um ponto de equilíbrio delicado. Precisa persuadir esses e outros grupos ocidentais de que vão receber tratamento equitativo, na justa medida do papel central que exerceram na revolução.
Também precisa assegurar a proteção dos setores da população que foram pró-Gaddafi. O menor indício de represálias violentas ou políticas possibilitaria às muitas milícias semi-autônomas solaparem a legitimidade do CNT em nome de sua autopreservação.
Ainda há tempo e espaço para o CNT se autodestruir. Boa parte da capital virou terra de ninguém, e o país está nadando em armas. Mas não é obrigatório que a história se repita como farsa, e a trajetória da revolução vai depender das escolhas feitas nas próximas semanas pelos rebeldes recém-empoderados.

SHASHANK JOSHI é membro associado do Instituto Real de Serviços Unidos, em Londres

Tradução de CLARA ALLAIN



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