São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Capital líbia se transforma em uma cidade abandonada

Nas ruas, só se veem homens armados e lojas fechadas; lixeiras transbordam

Trilha sonora da guerra torna difícil distinguir entre os disparos de rebeldes e sons que vêm dos focos de combate

Zohra Bensemra/Reuters
Corpos são vistos em frente ao portão sul do complexo Bab al Azizia, tomado por rebeldes

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A TRÍPOLI

Tiros e explosões ecoam a todo instante no céu de Trípoli. Difícil distinguir à distância os disparos comemorativos dos rebeldes eufóricos pelo avanço sobre a cidade dos sons de focos de combate.
A trilha sonora da guerra também tem ambulâncias uivantes, berros de motores de picapes aceleradas e buzinaços a esmo. O trânsito é intenso nas artérias da capital, cheias de jipes e caminhonetes de combate que ostentam com pintura a spray na lataria a origem dos seus ocupantes.
Os combatentes mais respeitados são os de Zintan, cidade de etnia berber famosa pela suposta bravura de seus guerreiros, e os de Misrata, a aglomeração mais castigada pelas forças do regime.
As ruas de Trípoli têm muitos carros e pouca gente. Praticamente só se veem rebeldes armados, a maioria jovens de roupas civis. Um deles diz à Folha ter 15 anos. O comércio está quase todo fechado. O calçadão à beira-mar foi desertado. Lixeiras transbordam nas esquinas. Começa a faltar gasolina em larga escala. As redes de água e eletricidade falham com frequência. Telefones celulares só fazem e recebem chamadas locais.
Um dos únicos lugares movimentados é a praça Verde, palco da últimas aparições públicas do ditador Muammar Gaddafi e das manifestações prorregime.
A ocupação da praça pelos oposicionistas tornou-se símbolo do que os insurgentes veem como vitória iminente. Embora abarrotado de crianças, o local é um dos preferidos para as comemorações, com tiros para o alto. No fim da tarde, rajadas de fuzis Kalashnikov e metralhadoras antiaéreas produziam barulho de machucar os tímpanos.
O chão da praça e de boa parte das ruas tem milhares de cápsulas de munição usada. Umas têm o tamanho de uma tecla de computador, outras de uma mão adulta.
A alguns quarteirões da praça continuam os combates pelo controle de Bab al Azizia, o gigantesco complexo de prédios que abriga o governo de Gaddafi.
Colunas de fumaça saíram do local durante o dia todo. Explosões causadas por mísseis e tiros de morteiro podiam ser ouvidas em quase toda a cidade.
Em duas ocasiões a Folha viu comboios de veículos rebeldes batendo em retirada vindos do lado sul de Bab al Azizia, que serve de base para a resistência governista à tomada do complexo. A sensação de insegurança na capital é generalizada.
Uma das principais causas de medo é a presença, real ou imaginária, de franco-atirados posicionados nos tetos de prédios mais altos. "Não acabou, mas acabará logo. Precisamos continuar combatendo duro", disse à Folha Salas Jomaa, um diplomata desertor que hoje luta na linha de frente.
A divisão em áreas de controle, conjugada à percepção de que os aliados de Gaddafi estão escondidos à espera de retaliação, aumenta temores de guerra civil.


Texto Anterior: Itamaraty faz ressalvas a grupo proposto por França
Próximo Texto: ONU deve liberar fundos para reconstrução
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.