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GUERRA À VISTA
Documento reforça acusações contra Saddam; "a diplomacia não funciona com ditadores", diz o premiê
Blair apresenta seu dossiê contra o Iraque
DA REDAÇÃO
Em mais uma tentativa de angariar apoio a uma eventual ação
militar contra o Iraque, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair,
apresentou ontem um dossiê,
anunciado no início do mês, com
supostas provas de que o ditador
Saddam Hussein desenvolve armas de destruição em massa.
Segundo o documento, o Iraque
está fazendo estoques de armas
químicas e biológicas e poderia
lançar um míssil com esses elementos com um aviso de apenas
45 minutos. O dossiê diz que o
país está tentando também desenvolver armas nucleares, mas
que não poderá produzi-las se as
sanções econômicas das Nações
Unidas forem respeitadas.
Analistas disseram que o documento contém poucas informações novas.
Blair tenta, com sua divulgação, justificar o apoio que vem dando
à posição do governo americano em relação ao Iraque e neutralizar
a forte oposição interna de seu partido, o Trabalhista, a um eventual ataque militar.
O premiê disse que Saddam Hussein é um "ditador cruel e sádico" e que a ONU deve obrigá-lo a se desarmar. "A história mostra que a diplomacia não funciona e
não funcionará nunca com os ditadores se não estiver apoiada pela ameaça de força", afirmou.
Os EUA e o Reino Unido pretendem apresentar ao CS (Conselho de Segurança) da ONU uma proposta de resolução que permita uma ação militar caso as inspeções de armas, que devem ser retomadas em breve, não atinjam
seu objetivo.
Questionado se deseja a derrubada de Saddam, Blair disse que
uma mudança de regime em Bagdá seria "maravilhosa", mas que a
resolução a ser apresentada ao CS
visa apenas desarmá-lo.
O Iraque afirma que não possui
armas de destruição em massa.
Após a derrota de Bagdá na Guerra do Golfo (1991), inspetores da
ONU passaram sete anos no país
localizando e destruindo estoques
de armas, mas os EUA e o Reino
Unido dizem que nem todas foram destruídas e que o Iraque adquiriu novas desde que os inspetores foram expulsos, em 1998.
"Retrato assustador"
A divulgação do documento foi
classificada pela Casa Branca como um "retrato assustador das
formas de matar de Saddam Hussein".
"Não deveríamos nos deixar enganar por esse homem", disse o
presidente dos EUA, George W.
Bush. "Ele já envenenou sua população antes, já envenenou sua
vizinhança. Ele quer usar armas
de destruição em massa. O primeiro-ministro [Blair" apresentou os seus argumentos, e eu também o farei", afirmou.
Os EUA e o Reino Unido ainda
não conseguiram convencer os
demais membros do CS da ONU
a aprovar uma resolução que autorize uma ação contra o Iraque.
O presidente da França, Jacques
Chirac, disse ontem não ver razão
para uma nova resolução ameaçando Saddam com uma ação militar. "Essa não é a posição da
França", afirmou.
O governo chinês advertiu que
qualquer ataque contra o Iraque
sem o apoio da ONU levaria a
"graves consequências". "Pedimos que o Iraque cumpra com todas as resoluções da ONU, sem
precondições", disse o premiê
chinês, Zhu Rongji.
França, China, Rússia, Reino
Unido e EUA são membros permanentes do CS da ONU, com
poder de veto sobre suas resoluções. Para aprovar uma resolução, é necessário o apoio de ao menos nove dos 15 membros do Conselho.
Com agências internacionais
Leia a íntegra do dossiê apresentado ontem, em sua versão original, em inglês, no Folha Online: www.folha.com.br/022661
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