São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RÚSSIA

Acusado de autoritarismo, presidente sugere nova diretriz; academia de TV diz que emissoras no país não são livres

Mídia tem que combater terror, diz Putin

DA REDAÇÃO

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse ontem que a mídia "não pode se comportar como observador passivo" diante das ameaças do terrorismo. Apelou aos jornalistas para que tenham um papel mais engajado com relação a essa questão.
Suas afirmações, em entrevista a agências estrangeiras, foi vista como nova diretriz pela qual o Kremlin procurará controlar mais ainda a mídia no país.
Os jornais russos reagiram com unânime repulsa ao seqüestro de crianças em Beslan, que terminou no início deste mês com mais de 300 mortes. O ato foi reivindicado por terroristas tchetchenos. Mas não é consensual a política de Putin de não negociar com lideranças tchetchenas moderadas e que condenam o terrorismo.
Putin enviou à Duma (Câmara Baixa do Parlamento) projeto pelo qual, em nome do combate ao terror, suprime as eleições diretas para governador. O projeto foi aprovado anteontem por 343 a 0.
Pesquisa do Instituto Vtsiom de ontem indica que 48% dos russos se opõem às reformas políticas. Só 38% disseram aprová-las.
Mas 45% acreditam que as medidas ajudarão a combater o terrorismo, contra 29% que exprimiram opinião oposta.
Putin negou ontem que as reformas limitem a democracia na Rússia e dêem ao Kremlin um perfil de poder parecido ao soviético. Disse que a Rússia não se afastará dos objetivos traçados há dez anos, quando iniciou uma transição democrática para suceder a ditadura comunista.
"Uma década de reformas nos mostraram que apenas uma adesão coerente com os princípios da democracia pode assegurar à Rússia um desenvolvimento estável", disse o presidente.
A Associated Press lembra que duas redes independentes de TV foram fechadas, aparentemente por questões financeiras, embora o Kremlin demonstrasse satisfação pela neutralização desses núcleos de crítica às políticas oficiais.
Masha Lipman, analista do Carnegie Center de Moscou, qualificou as declarações de Putin de "hipócritas". Diz que na Rússia é o governo que exerce o papel de árbitro do noticiário, o que o leva a reprimir enfoques dissidentes.
Ainda ontem os jornais russos informaram ter sido lançado documento em que duas dezenas de integrantes da Academia Russa de Televisão afirmam que "a TV russa não é livre hoje".
"Em lugar de uma informação livre e objetiva, as emissoras nos forçam a consumir a versão oficial dos fatos e desestimulam a livre discussão", diz o texto.

Corrupção e terrorismo
Um capitão que chefiava a segurança interna do aeroporto de Domodiedovo, Mikhail Artamonov, foi preso e indiciado por cumplicidade com o terrorismo, por ter permitido, no final de agosto, que duas terroristas tchetchenas embarcassem com explosivos em dois aviões Tupolev que fariam vôos domésticos.
A queda dos dois aparelhos matou 89 passageiros e tripulantes.
Duas outras pessoas também foram presas, entre elas Nikolai Korenkov, funcionário de uma companhia aérea acusado de receber propina para que as duas terroristas tchetchenas embarcassem nos vôos que iriam derrubar.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Subsecretário desdiz Rumsfeld sobre eleição
Próximo Texto: Internet: EUA não conseguem fechar sites pró-terror
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.