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Iraque acirra terror, admitem EUA
Relatório secreto de agências de informação avalia que ocupação criou uma nova geração de radicais
Documento é a 1ª avaliação formal sobre terrorismo desde a invasão do Iraque e resume visão de 16 agências de espionagem do governo
MARK MAZZETTI
DO "NEW YORK TIMES"
Uma avaliação dura das tendências atuais do terrorismo,
redigida por agências de inteligência dos EUA, concluiu que a
invasão e a ocupação americana do Iraque ajudaram a parir
uma nova geração de radicalismo islâmico e que a ameaça terrorista global aumentou desde
os ataques do 11 de Setembro.
A Estimativa Nacional de Inteligência, um relatório secreto, atribui à Guerra do Iraque
um papel mais direto no acirramento do radicalismo do que
aquele descrito em documentos recentes da Casa Branca ou
no relatório divulgado na semana passada pelo Comitê de
Inteligência da Câmara dos Deputados, dizem funcionários de
Washington envolvidos na redação das avaliações ou que leram o documento final.
Visão consensual
A estimativa de inteligência,
que foi concluída em abril,
constitui a primeira avaliação
formal do terrorismo global feita pelas agências de inteligência dos EUA desde que a Guerra
do Iraque começou, em 2003.
Ela representa a visão consensual das 16 agências de espionagem que integram o governo.
Intitulada "Tendências do Terrorismo Global - Implicações
para os Estados Unidos", ela
afirma que o radicalismo islâmico, em lugar de estar em retirada, sofreu uma metástase e se
espalhou por todo o planeta.
A seção de abertura do relatório, "Indicadores da Difusão
do Movimento Jihadista Global", cita a Guerra do Iraque como a razão da difusão da ideologia jihadista. De acordo com
um funcionário de inteligência,
o relatório "diz que a Guerra do
Iraque agravou o problema global do terrorismo".
Mais de uma dúzia de funcionários do governo americano e
especialistas externos foram
entrevistados para o presente
artigo, e todos falaram sob a
condição do anonimato, pelo
fato de estarem comentando
um documento sigiloso. Todos
os entrevistados ou tinham visto a versão final do documento
ou participado da redação de
seus esboços anteriores.
As Estimativas de Inteligência Nacional são os documentos mais fundamentados que a
comunidade de inteligência
produz sobre uma questão específica de segurança nacional.
Eles são aprovados pelo diretor
de inteligência nacional, John
D. Negroponte.
Os julgamentos expressos na
estimativa confirmam algumas
das previsões de um relatório
do Conselho Nacional de Inteligência concluído em janeiro
de 2003, dois meses antes da
invasão do Iraque. Aquele relatório dizia que a guerra teria o
potencial de aumentar o apoio
ao islã politizado no mundo.
Células autogeradoras
Documentos divulgados pela
Casa Branca no quinto aniversário do 11 de Setembro destacaram os êxitos dos EUA no
desmonte do primeiro escalão
da Al Qaeda. "A América e seus
aliados estão mais seguros, mas
ainda não estamos em segurança", conclui um desses documentos, intitulado "11 de Setembro Cinco Anos Depois: Sucessos e Desafios".
Esse documento faz menção
passageira ao impacto que a
Guerra do Iraque teve sobre o
movimento jihadista mundial.
"A luta ainda em curso pela liberdade do Iraque foi distorcida pela propaganda terrorista,
que a utiliza como slogan de
mobilização", diz o documento.
A nova Estimativa Nacional
de Inteligência conclui que o
movimento islâmico radical se
ampliou de um núcleo central
de agentes da Al Qaeda e grupos
filiados para incluir uma nova
classe de células "autogeradoras" inspiradas na liderança da
Al Qaeda, mas sem vínculo direto com Osama bin Laden.
O documento também estuda como a internet vem ajudando a difundir a ideologia jihadista e como o ciberespaço se
tornou um lugar seguro para os
agentes terroristas que não têm
mais refúgios geográficos em
países como o Afeganistão.
No início de 2005, o Conselho Nacional de Inteligência divulgou um estudo concluindo
que o Iraque se tornara o campo de treinamento principal
para a próxima geração de terroristas. Mas a nova estimativa
de inteligência é o primeiro relatório divulgado desde a invasão do Iraque a apresentar um
quadro abrangente das tendências do terrorismo global.
Tradução de CLARA ALLAIN
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