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Correa ameaça não quitar empréstimo do BNDES
Instituição emprestou US$ 243 mi para obra feita pela Odebrecht no Equador
"Projeto não presta", diz presidente, que na véspera embargara os bens da empresa; dívida é garantida por convênio regional
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Um dia depois de intervir nas
operações da Odebrecht no
Equador, o presidente Rafael
Correa ameaçou ontem não pagar empréstimo de US$ 243
milhões contraído no BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)
para a hidrelétrica San Francisco, construída pela empresa
brasileira e parada desde junho
por problemas operacionais.
"Esse crédito foi dado por
meio da Odebrecht e também
tem graves irregularidades,
porque tem dinheiro que nem
sequer entra no país, é dinheiro
que se contabiliza lá [no Brasil]
como crédito interno e na verdade é um dinheiro emprestado à empresa. É um empréstimo de mais de US$ 200 milhões para um projeto que não
presta", disse Correa, em entrevista à TV Gama.
O empréstimo do BNDES começou a ser negociado em
2001, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, mas
só foi fechado em 2004, pelos
presidentes Luiz Inácio Lula da
Silva e Lucio Gutiérrez, hoje
adversário político de Correa.
Nominalmente, foi feito à empresa equatoriana Hidropastaza, controladora da hidrelétrica
de San Francisco.
O que Correa chama de "graves irregularidades" é uma regra bastante conhecida do
BNDES pela qual o banco só financia obras de infra-estrutura
no exterior se houver a exportação de bens e serviços de empresas brasileiras.
Se Correa decidir não pagar o
BNDES, terá de enfrentar um
complexo caminho, já que o
empréstimo é garantido pelo
CCR (Convênio de Pagamentos
e Créditos Recíproco), uma câmara de compensação de crédito e débitos da Aladi (Associação Latino Americana de Integração), da qual Brasil e Equador fazem parte.
Periodicamente, os bancos
centrais fazem um acerto de
contas. Caso uma empresa deixe de pagar, o BC desse país assume o débito -na prática, um
seguro de pagamento.
Correa acusou a Odebrecht
de "dar pra trás" duas vezes na
assinatura de um acordo com o
governo e que "já não haverá a
terceira vez".
O presidente equatoriano
chamou também de "decreto
de expulsão" as medidas anunciadas anteontem contra a
Odebrecht, que incluem o embargo dos seus bens e a intervenção em quatro outros projetos em execução pela empresa,
cujo valor dos contratos soma
US$ 650 milhões.
"Acreditaram que nos levariam como levaram tantos governos ou que iam subornar
um alto funcionário, por isso
assinei ontem [anteontem] o
decreto de expulsão."
Correa disse ainda que conversou com Lula sobre o assunto na semana passada, durante
cúpula da Unasul (União de
Nações Sul-Americanas) no
Chile, e que não acredita que os
problemas com a Odebrecht
afetem as relações com o Brasil.
"Eu lhe disse que o que essa
empresa fez no Equador é terrível e não creio que haja repercussões internacionais."
Em nova nota divulgada ontem, a Odebrecht disse que os
problemas que resultaram na
paralisação da usina decorreram "de erupção do vulcão
Tungurahua (...) não considerada no projeto de engenharia de
responsabilidade do governo
equatoriano".
A empresa disse que só não
assinou um acordo com o governo, o qual incluía assumir os
custos dos reparos, estimados
em US$ 25 milhões, e a a extensão da garantia por mais um
ano, porque não teve a "anuência" das outras empresas do
consórcio, a francesa Alstom e
a austríaca VA Tech Hydro.
Segundo a Odebrecht, as
duas empresas "decidiram não
assiná-lo, face ao aumento significativo dos limites e riscos
contratuais e a insegurança jurídica". Essa versão foi desmentida pela Alstom, que em
em nota disse que "o contrato
não foi assinado porque envolvia atividades de não-geração,
que não têm a ver com o campo
de atuação da empresa".
Sem expulsões
Embora venha mantendo
uma relação tensa com as multinacionais no Equador, Correa
até agora não cumpriu nenhuma ameaça de expulsão.
O caso mais notório ocorreu
no primeiro semestre, quando
o governo equatoriano anunciou que não renovaria sob hipótese nenhuma a concessão
da operadora de celular Porta,
do empresário mexicano Carlos Slim, acusando-a de sonegação e de outras irregularidades.
Mas acabou chegando a um
acordo para mais 15 anos.
O presidente tampouco levou adiante a promessa de que
daria um calote na dívida externa do país para pagar a "dívida
social". Caso deixe de pagar o
empréstimo do BNDES, portanto, terá sido a primeira vez.
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