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Golpistas acusam Brasil de intromissão
Governo Micheletti afirma em nota que Brasília arquitetou volta de Zelaya e deve se responsabilizar por sua segurança
Presidente deposto anuncia que deu início a diálogo com governo golpista, até aqui sem sucesso; Ministério Público confirma 2 mortos
Henry Romero/Reuters
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Apoiadores do governo golpista chefiado por Roberto Micheletti expõem cartaz comos dizeres: "De Honduras para o mundo: nós não queremos Zelaya de volta"
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Em duro comunicado, o governo golpista hondurenho
acusou ontem o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva de intromissão em assuntos internos de Honduras e afirmou que
o Brasil é o responsável pela segurança do mandatário deposto, Manuel Zelaya, abrigado
desde segunda-feira na embaixada do país em Tegucigalpa.
A nota, emitida pela Chancelaria do governo golpista, acusou Lula e o chanceler Celso
Amorim de mentirem ao dizerem que desconheciam o plano
de Zelaya de ir à embaixada.
"Essas afirmações foram categoricamente desmentidas
pelo seu principal beneficiário
e protegido, o senhor José Manuel Zelaya Rosales, que ontem
[anteontem] declarou desde as
dependências do Brasil em Tegucigalpa que "foi decisão pessoal e que foi consultada com o
presidente Lula e o chanceler
Celso Amorim'", diz a nota.
O comunicado diz que, como
a presença do presidente deposto "é um ato promovido e
consentido pelo governo do
Brasil, recai sobre este a responsabilidade pela vida e pela
segurança do senhor Zelaya e
pelos danos à integridade física
das pessoas e das propriedades
por permitir que essa representação se converta numa plataforma de propaganda política e
concentração de pessoas armadas que ameaçam a paz e a ordem pública de Honduras".
Zelaya, em entrevista à TV
CNN, negou que tenha recebido apoio de qualquer país para
o seu regresso, "apenas de hondurenhos". Ele disse ter recebido ontem um representante do
governo interino, mas não disse o nome e falou que não houve avanços no diálogo.
Como já ocorrera na véspera,
o isolamento da embaixada
brasileira foi aumentado ontem. O perímetro de segurança
montado por dezenas de militares, antes restrito à quadra
onde está a representação, foi
ampliado em mais uma quadra.
Até o início da tarde, só havia sido autorizada a entrada com
uma camionete de alimentos e
de uma equipe da TV CNN.
Segundo o encarregado de
negócios da embaixada, Francisco Catunda, há comida suficiente, mas faltam itens como
roupas, sabonete e toalhas para
as cerca de 60 pessoas que dormem no prédio, entre os quais
simpatizantes de Zelaya, funcionários da representação e
fotógrafos. O diplomata disse
que há três dias dorme no sofá.
A pedido do Brasil, o Conselho de Segurança da ONU realiza hoje uma reunião extraordinária para discutir o cerco à
embaixada em Honduras.
À noite, o governo golpista
decretou novamente o toque de
recolher entre as 19h de ontem
e as 5h de hoje, mas durante o
dia o clima foi de normalidade.
Nos supermercados, não foram
registradas as filas das vésperas, e a maior parte dos produtos esgotados devido à alta procura podia ser encontrada.
Os aeroportos voltaram a
operar normalmente e já recebem voos internacionais, depois de terem permanecido fechados desde segunda à tarde.
De acordo com um assessor
de Micheletti, que falou sob
anonimato, o objetivo é normalizar o país o mais rapidamente
possível para viabilizar a campanha presidencial para a eleição de 29 de novembro. A aposta do governo interino, diz ele, é
que um alto comparecimento
nesse dia fará com que ao menos parte da comunidade internacional aceite o resultado.
A maior manifestação dos
dias foi dos "camisas brancas",
como são chamados os apoiadores de Micheletti. Várias
centenas deles protestaram
diante da representação da
ONU contra Zelaya e o seu
principal aliado internacional,
o presidente venezuelano, Hugo Chávez. Ao presidente brasileiro gritavam: "Lula, Lula, leve
embora essa mula [Zelaya]".
Apoiadores de Zelaya fizeram protestos em várias partes
da capital. Em ao menos um local, houve queima de pneus para bloquear a rua, mas não houve choques com a polícia, diferentemente dos três dias anteriores -o Ministério Público
hondurenho anunciou ontem
que os conflitos pós-volta de
Zelaya resultaram em duas
mortes no país desde segunda.
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