São Paulo, sexta-feira, 25 de setembro de 2009

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Países apertam cerco a Irã nuclear na ONU

G8 estabelece prazo até fim do ano para que Teerã interrompa seu contestado programa de enriquecimento de urânio

Conselho de Segurança das Nações Unidas aprova por unanimidade resolução de Obama que endurece contra usos militares de tecnologia


DO ENVIADO A NOVA YORK

Decisões tomadas ou anunciadas ontem no âmbito ou em torno da Assembleia Geral da ONU apertam o cerco ao Irã para que aceite adequar seu programa nuclear às normas internacionais. Na principal, o G8, grupo dos sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia, anunciou que o país tem até o fim do ano para interromper o seu programa de enriquecimento de urânio ou será alvo de novas sanções.
Segundo Franco Frattini, o ministro das Relações Exteriores da Itália, país que atualmente ocupa o assento rotativo de comando do grupo, o acordo informal será examinado a cada mês até dezembro. Mas a decisão dele e de seus colegas, Hillary Clinton incluída, disse, era dar "uma chance ao Irã". A missão iraniana respondeu que seu programa nuclear é para fins pacíficos e que as acusações são "invenção".
No mesmo dia, Barack Obama conseguiu a principal vitória de sua primeira participação na Assembleia Geral como presidente dos EUA. Os 15 membros do Conselho de Segurança, principal instância da ONU, aprovaram por unanimidade uma resolução com linguagem mais dura para lidar com países que buscarem tecnologia nuclear ou permitirem seu uso para fins bélicos.
A proposta é virtualmente idêntica à apresentada pelo democrata, que presidiu o conselho -a primeira vez que um presidente dos EUA ocupa esse cargo desde a criação da ONU, em 1945, e a quinta reunião do tipo feita no âmbito da Assembleia Geral, segundo a Casa Branca. Havia dúvidas se a Rússia e a China, 2 dos 5 membros permanentes (os outros são EUA, França e Reino Unido), concordariam com os termos apresentados.
Não só concordaram como, no dia anterior, após encontro bilateral com Obama, o presidente russo, Dmitri Medvedev, havia sugerido que poderia adotar novas sanções contra o regime dos aiatolás, embora tenha colocado em dúvida a eficácia delas. É um avanço, já que Moscou é notoriamente reticente a essas sanções.
A resolução facilita a ação diplomática e militar contra nações que usem tecnologia nuclear civil para fins militares ou permitam que outros países façam isso, e seus alvos mais óbvios são Irã e Coreia do Norte.
"O que essas duas nações estão fazendo mina as regras em que nossa segurança coletiva se baseia", disse o presidente francês, Nicolas Sarkozy, na fala mais veemente. "Temos de parar a proliferação, e é disso que essa resolução trata."
Os EUA dizem que o texto não é dirigido a nenhum país em particular, e seus diplomatas afirmaram que a ideia é preparar o arcabouço legal para a conferência que revisará o Tratado Nuclear de Não Proliferação, em maio de 2010.

Ponto para Obama
Sua aprovação é o único resultado concreto que o presidente americano levou de quatro dias de encontros e discursos, o principal deles feito na manhã de anteontem, em que o democrata conclamou os países a entrarem numa "nova era" de cooperação.
A fala foi saudada por ex-membros graduados de governos anteriores, como Henry Kissinger, assessor de Segurança Nacional e secretário de Estado de Richard Nixon (1969-1974) e Gerald Ford (1974-1977), William Perry, ex-secretário da Defesa de Bill Clinton (1993-2001), e George Shultz, ex-secretário de Estado de Ronald Reagan (1981-1989).
Obama conseguiu contaminar a agenda do evento. Foi a questão nuclear, e não o terrorismo, que dominou o discurso dos líderes dos principais países, diferentemente de nos últimos anos, em que George W. Bush fez do combate ao terrorismo o tema quase único.
Em sua participação na assembleia, ontem, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que o desafio mais urgente era "impedir que os tiranos de Teerã adquiram armas nucleares". Israel não é signatário do Tratado de Não Proliferação, e acredita-se que tenha armas nucleares.
Elogiou ainda os que se retiraram no dia anterior durante a fala do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Aos que ficaram, o israelense disse que perguntava em nome do povo judeu: "Vocês não têm vergonha? Não têm decência?"
(SÉRGIO DÁVILA)

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