São Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 2007

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Kirchner passa a gastar mais do que Menem

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL À ARGENTINA

O governo de Néstor Kirchner já atingiu um nível de gastos públicos superior ao do ex-presidente argentino Carlos Menen (1989-99), responsável por ter levado a Argentina à sua pior crise econômica dos últimos anos. Como resultado de uma política fiscal frouxa e da paridade peso/dólar adotada por Menem, a Argentina sofreu forte desvalorização cambial em 2002 e uma crise levou os índices de pobreza a atingir 50% da população.
Kirchner segue a mesma trilha em relação aos gastos públicos, que já equivalem a 24% do PIB (Produto Interno Bruto). Nos anos 90, o percentual variou em torno de 21%.
Em setembro, o gasto público argentino apresentou um salto de 45% sobre o mesmo mês de 2006. Já a arrecadação de impostos, que deveria compensar as despesas maiores, cresceu apenas 31%.
Os gastos maiores, que aceleraram perto das eleições, foram concentrados em programas de repasses de dinheiro à população mais pobre e em subsídios ao transporte e à energia, que reduzem, indiretamente, os gastos do dia-a-dia dos argentinos. Mesmo assim, o governo sustenta que houve forte superávit nas contas.
Assim como faz com a inflação (a oficial está em 8% ao ano, e a extra-oficial, em mais de 20%), o governo manipulou dados para dizer que fechou setembro no azul.
Segundo o Tesouro argentino, o país teve no mês passado um superávit fiscal (economia para pagar os juros de sua dívida) de 3,1 bilhões de pesos (US$ 980 milhões). Mas o superávit cai a menos de 855 milhões de pesos (US$ 275 milhões) se for descontada a captação de recursos realizada pelas administradoras de fundos de pensão argentinas.
Há uma semana, o governo Kirchner obrigou os mesmos fundos a retornarem para a Argentina cerca de US$ 2,5 bilhões que estavam aplicados nos mercados brasileiros. O objetivo é conter a forte tendência de alta do dólar -provocada pela inflação. Ontem, o BC argentino voltou a intervir no mercado de câmbio, vendendo mais de US$ 60 milhões, para segurar as cotações do dólar abaixo de 3,20 pesos.
Segundo levantamentos realizados pelos jornais argentinos, o movimento de compra de dólares dobrou nos últimos dias, e o BC vende reservas para conter a alta.
Economistas suspeitam que, após eleger a mulher, Cristina, Kirchner deixará o dólar subir livremente. Com isso, um novo repique na inflação faria um ajuste nas contas do governo, cortando salários reais do funcionalismo.


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