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Kirchner passa a gastar mais do que Menem
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL À ARGENTINA
O governo de Néstor Kirchner já atingiu um nível de gastos públicos superior ao do ex-presidente argentino Carlos
Menen (1989-99), responsável
por ter levado a Argentina à sua
pior crise econômica dos últimos anos. Como resultado de
uma política fiscal frouxa e da
paridade peso/dólar adotada
por Menem, a Argentina sofreu
forte desvalorização cambial
em 2002 e uma crise levou os
índices de pobreza a atingir
50% da população.
Kirchner segue a mesma trilha em relação aos gastos públicos, que já equivalem a 24% do
PIB (Produto Interno Bruto).
Nos anos 90, o percentual variou em torno de 21%.
Em setembro, o gasto público argentino apresentou um
salto de 45% sobre o mesmo
mês de 2006. Já a arrecadação
de impostos, que deveria compensar as despesas maiores,
cresceu apenas 31%.
Os gastos maiores, que aceleraram perto das eleições, foram
concentrados em programas de
repasses de dinheiro à população mais pobre e em subsídios
ao transporte e à energia, que
reduzem, indiretamente, os
gastos do dia-a-dia dos argentinos. Mesmo assim, o governo
sustenta que houve forte superávit nas contas.
Assim como faz com a inflação (a oficial está em 8% ao ano,
e a extra-oficial, em mais de
20%), o governo manipulou dados para dizer que fechou setembro no azul.
Segundo o Tesouro argentino, o país teve no mês passado
um superávit fiscal (economia
para pagar os juros de sua dívida) de 3,1 bilhões de pesos (US$
980 milhões). Mas o superávit
cai a menos de 855 milhões de
pesos (US$ 275 milhões) se for
descontada a captação de recursos realizada pelas administradoras de fundos de pensão
argentinas.
Há uma semana, o governo
Kirchner obrigou os mesmos
fundos a retornarem para a Argentina cerca de US$ 2,5 bilhões que estavam aplicados
nos mercados brasileiros. O objetivo é conter a forte tendência
de alta do dólar -provocada
pela inflação. Ontem, o BC argentino voltou a intervir no
mercado de câmbio, vendendo
mais de US$ 60 milhões, para
segurar as cotações do dólar
abaixo de 3,20 pesos.
Segundo levantamentos realizados pelos jornais argentinos, o movimento de compra
de dólares dobrou nos últimos
dias, e o BC vende reservas para
conter a alta.
Economistas suspeitam que,
após eleger a mulher, Cristina,
Kirchner deixará o dólar subir
livremente. Com isso, um novo
repique na inflação faria um
ajuste nas contas do governo,
cortando salários reais do funcionalismo.
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