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Depressão é drama recorrente entre os asilados
DO ENVIADO A BRASILEIA,
EPITACIOLÂNDIA E COBIJA
É pequena a distância que separa as cidades de Brasileia e
Epitaciolândia de Cobija, na
Bolívia. Mas, desde que chegou
ao Brasil, o motorista Willmán
Alpire nunca mais viu os quatro
filhos. No final do ano passado,
meses depois de se abrigar no
Acre, ele recebeu uma ligação
da esposa. "Ela apenas disse
que tudo tinha acabado. Arrumou outro homem", conta.
A ex-companheira, com
quem ficou casado por sete
anos, "nem me atende, nunca
mais falei com meus filhos".
Ex-motorista de uma empresa de transportes do governo de
Pando acusada de promover
barricadas contra partidários
de Evo Morales, Willmán conta
ter entrado no Brasil nadando o
rio Acre, em setembro de 2008.
Aparentando menos do que
os 48 anos que diz ter, o boliviano vive de favor em uma casa de
madeira que lhe foi emprestada, numa ruela de terra em Epitaciolândia. Nela não há geladeira nem banheiro.
Vivendo de pequenos bicos, a
situação de Willmán é semelhante à de muitos refugiados
no Acre: não tem emprego e foi
abandonado pela família.
"Esse é um drama de cerca de
50% dos refugiados", diz Roger
Zebala, o Catirulo, ex-chefe de
gabinete de Leopoldo Fernández e uma espécie de coordenador dos asilados. "Isso gera outro drama, a depressão."
Um refugiado, conta ele, chegou a ser salvo por um vizinho
quando tentava se suicidar com
uma corda no pescoço. Segundo Catirulo, os bolivianos se organizaram justamente para
ajudar uns aos outros.
Entre os refugiados, a situação dele é confortável. Mora em
uma espaçosa casa alugada perto da praça central de Brasileia
com a mulher e os três filhos e
tem na garagem um jipe Pajero,
que usou para fugir de Cobija.
Mesmo trabalhando, ele ainda
recebe ajuda da família.
Sua casa, como a reportagem
da Folha constatou em dois
dias seguidos, é ponto de encontro de muitos bolivianos
que se refugiaram temporariamente no Brasil, mas que voltaram para Cobija. Alguns trabalhavam no governo de Pando,
outros são ainda universitários, mas todos oposicionistas.
"Voltei porque minha família
na Bolívia depende de mim. Se
ficasse, ela iria morrer de fome", disse um dos visitantes,
sem se identificar.
(LF)
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