São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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Depressão é drama recorrente entre os asilados

DO ENVIADO A BRASILEIA, EPITACIOLÂNDIA E COBIJA

É pequena a distância que separa as cidades de Brasileia e Epitaciolândia de Cobija, na Bolívia. Mas, desde que chegou ao Brasil, o motorista Willmán Alpire nunca mais viu os quatro filhos. No final do ano passado, meses depois de se abrigar no Acre, ele recebeu uma ligação da esposa. "Ela apenas disse que tudo tinha acabado. Arrumou outro homem", conta.
A ex-companheira, com quem ficou casado por sete anos, "nem me atende, nunca mais falei com meus filhos".
Ex-motorista de uma empresa de transportes do governo de Pando acusada de promover barricadas contra partidários de Evo Morales, Willmán conta ter entrado no Brasil nadando o rio Acre, em setembro de 2008.
Aparentando menos do que os 48 anos que diz ter, o boliviano vive de favor em uma casa de madeira que lhe foi emprestada, numa ruela de terra em Epitaciolândia. Nela não há geladeira nem banheiro.
Vivendo de pequenos bicos, a situação de Willmán é semelhante à de muitos refugiados no Acre: não tem emprego e foi abandonado pela família.
"Esse é um drama de cerca de 50% dos refugiados", diz Roger Zebala, o Catirulo, ex-chefe de gabinete de Leopoldo Fernández e uma espécie de coordenador dos asilados. "Isso gera outro drama, a depressão."
Um refugiado, conta ele, chegou a ser salvo por um vizinho quando tentava se suicidar com uma corda no pescoço. Segundo Catirulo, os bolivianos se organizaram justamente para ajudar uns aos outros.
Entre os refugiados, a situação dele é confortável. Mora em uma espaçosa casa alugada perto da praça central de Brasileia com a mulher e os três filhos e tem na garagem um jipe Pajero, que usou para fugir de Cobija. Mesmo trabalhando, ele ainda recebe ajuda da família.
Sua casa, como a reportagem da Folha constatou em dois dias seguidos, é ponto de encontro de muitos bolivianos que se refugiaram temporariamente no Brasil, mas que voltaram para Cobija. Alguns trabalhavam no governo de Pando, outros são ainda universitários, mas todos oposicionistas.
"Voltei porque minha família na Bolívia depende de mim. Se ficasse, ela iria morrer de fome", disse um dos visitantes, sem se identificar. (LF)


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