São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Preocupação central dos argentinos é ter um governo forte

JORGE CASTRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Argentina é um país com instituições fracas, em que o sistema de partidos passou por uma crise terminal no período 2001/03 (queda do presidente constitucional, Fernando de la Rúa, tomada do governo por Néstor Kirchner com 22% dos votos).
Entre 2001 e 2003 se produziu uma situação de vazio de poder, acompanhada por uma explosão de violência (37 mortos), e nesse período houve seis presidentes num prazo de seis meses.
Por isso a preocupação central dos argentinos não é fixar limites a um governo, mas dispor de um governo -mesmo que ele tenha traços autoritários, mas que possua força suficiente para fazer frente a situações de crise. É o que os argentinos chamam um "governo forte".
O sistema de Cristina representa a maior concentração de poder da história argentina desde a recuperação da democracia, em 1983.
Além disso, a Argentina se encontra extraordinariamente fortalecida. Neste ano, ela dispõe de um superavit comercial de mais de US$ 9 bilhões. Desde 2002/03, seu superávit acumulado chega a mais de US$ 140 bilhões.
Por isso, ela está podendo financiar um alto crescimento das importações (que aumentaram mais de 40% no último ano); está em condições de pagar os juros da dívida pública e, mais importante, está podendo financiar a maior fuga de capitais de toda sua história: entre julho de 2007 e junho deste ano, saíram do país US$ 67 bilhões.
O superavit comercial estrutural e cumulativo é fruto das exportações agroalimentares, que são responsáveis por mais de 2/3 das vendas ao exterior. Neste ano (2010/11), a colheita de grãos subiu para 93-95 milhões de toneladas, que, levadas ao mercado mundial com os preços dos últimos seis meses, valem US$ 40,8 bilhões.
A vitória eleitoral confere a Cristina mais poder inclusive do que conseguiu seu falecido marido. A Argentina é um país simples em termos políticos, só que sua experiência é intransferível.

JORGE CASTRO foi secretário de Planejamento de Carlos Menem (1998/99) e atualmente é colunista do "Clarín"



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