São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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ARGENTINA

Denúncia envolve repartições do atual governo e dos três anteriores; ministro do Interior diz que casos serão investigados

Detectados telefonemas entre criminosos e Casa Rosada

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

Em um episódio que pode se tornar o primeiro escândalo de grandes proporções na gestão do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, foram detectadas pelo menos 2.000 chamadas telefônicas -feitas e recebidas- entre repartições da Casa Rosada (sede do governo) e organizações delinquentes investigadas por crimes graves como homicídios, sequestros e vendas de armas.
A denúncia faz parte de um documento confidencial elaborado pelo procurador-geral da Suprema Corte de Justiça da Província de Buenos Aires, Eduardo Matías de la Cruz, que a "vazou" para a imprensa no fim de semana.
Foram rastreados telefonemas feitos por acusados em mais de 200 casos sob investigação, entre 1997 e novembro de 2004 -ou seja, incluem também os governos dos ex-presidentes Eduardo Duhalde, Fernando De la Rúa e Carlos Menem.
"É uma estrutura poderosíssima, que funciona independentemente do governo, embora seus manipuladores estejam dentro do Estado", disse o procurador.
O documento revela ainda a existência de pelo menos 700 chamadas feitas e recebidas entre telefones sob investigação e aparelhos do Edifício Libertador, sede do Ministério da Defesa e do Exército. Na Casa Rosada, uma das repartições investigadas é a Secretaria Geral da Presidência. O documento não responsabiliza ninguém em particular.
O documento revela, por exemplo, 64 chamadas ligadas ao sequestro de Cristian Riquelme, que esteve cativo entre 2 e 4 de abril de 2002, e 14 vinculadas ao assassinato do comissário de polícia Jorge Piazza, em fevereiro passado.
Até o fechamento, o governo argentino não havia se pronunciado oficialmente sobre o caso. Anteontem, o ministro do Interior, Aníbal Fernández, disse, em referência às chamadas vinculadas ao Edifício Libertador, que o governo pretendia investigar "a fundo" e que não podia negar as conexões porque surgiam de uma investigação judicial.
Uma das hipóteses para o caso é que se trate do uso, por parte de criminosos, de um sistema informático que "disfarça" as chamadas reais com números de linhas de órgãos do governo, com o benefício adicional de não pagar pelas chamadas feitas.


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