São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Chávez perde grandes centros urbanos

Aliados do presidente venezuelano vencem em 17 dos 23 Estados, mas fracassam naqueles mais ricos e populosos

Chávez minimiza avanço da oposição, ressalta vitórias de governistas nas prefeituras e volta a chamar dissidentes de "traidores" e "pó cósmico"

Reinaldo Santiago/Associated Press
Simpatizantes da oposição celebram vitória em Zulia, o Estado venezuelano mais rico

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, sofreu uma dura derrota eleitoral anteontem nas regiões mais populosas e ricas da Venezuela, mas conseguiu manter o controle sobre 17 dos 23 Estados em disputa.
O resultado em Caracas e em outros centros importantes consolida a recuperação política da oposição e dificulta as pretensões do líder venezuelano de convocar um novo referendo para aprovar a reeleição presidencial sem limite.
"Os resultados não foram contundentes nem para uma direção nem para a outra", disse à Folha o sociólogo Edgardo Lander, da Universidade Central da Venezuela (UCV). "Mas significam um avanço da oposição nas maiores concentrações populacionais e nos lugares de atividade econômica mais importantes. O petróleo e as indústrias básicas estão nesses Estados. É um golpe sério para o governo."
A oposição tradicional passou de 2 para 6 Estados: manteve Zulia, o mais populoso e rico do país, e Nova Esparta (Ilha Margarita) e arrancou do chavismo outros quatro governos regionais, incluindo Caracas e Miranda, onde estão os "barrios" (favelas) da capital, até há pouco bastiões intocáveis do oficialismo. Com isso, passará a controlar a maior parte do "corredor eleitoral" - o centro e o noroeste do país, onde se verifica uma maior concentração populacional.
"O mapa da Venezuela começou a mudar, agora é diverso", disse o governador opositor Manuel Rosales, que se elegeu prefeito de Maracaibo, a segunda cidade do país, e ainda emplacou o sucessor em Zulia.
A maior surpresa ficou por conta do governo distrital de Caracas, onde Antonio Ledezma, da agremiação de direita Aliança Bravo Povo (ABP) venceu o chavista Aristóbulo Istúriz, favorito em todas as pesquisas de opinião.
"Aqui quem deve se sentir derrotado são os bandidos", disse Ledezma, em discurso na madrugada de ontem, em alusão ao problema de segurança pública na capital venezuelana, tido como o mais grave pelas pesquisas de opinião.
Já o maior triunfo de Chávez, que havia eleito 22 governadores há quatro anos, foi ter recuperado quatro Estados hoje governados por ex-aliados: Sucre, Trujillo Guárico e Aragua, que concentra boa parte das Forças Armadas.
Ao todo, os chavistas governarão 56% da população do país, e a oposição, 44%.

Vitória nos municípios
Armado com números da jornada eleitoral, Chávez convocou entrevista coletiva com jornalistas estrangeiros para demonstrar que o seu PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) foi o vitorioso.
"Nós reconhecemos as vitórias limitadas, parciais, setoriais de alguns movimentos opositores e de alguns líderes opositores", disse Chávez no início da entrevista, transmitida em cadeia obrigatória de rádio e TV. "Administrem bem suas limitadas vitórias."
Chávez enfatizou principalmente a vitória em 80% das prefeituras (233, contra 56 para a oposição), o que, segundo ele, inclui 80 dos 100 maiores municípios e 18 das 24 capitais. "A curva retoma a ascendência histórica", afirmou, ao ressaltar que o oficialismo aumentou em 20% em número de votos com relação ao ano passado, quando perdeu o referendo sobre a reforma constitucional.
O presidente venezuelano disse que a eleição regional foi uma "batalha" entre a "democracia bolivariana" e a "falsa democracia" e que "a oposição não tem espaço consolidado".
Sobre a derrota dos ex-aliados, Chávez voltou a chamar os dissidentes de "traidores" e disse que eles terminaram "virando pó cósmico".
Chávez pediu ainda que "se sancione severamente" o canal oposicionista Globovisión por supostamente ter antecipado o resultado eleitoral em Carabobo e Táchira, vencidos pela oposição. Pela lei, é proibida a divulgação de resultados antes dos números oficiais.


Próximo Texto: Barinas: Ex-chavista derrotado diz que contestará pleito
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.